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Cronicas-->Martelando na utopia e ceifando a descrença -- 21/10/2003 - 16:18 (Félix Maier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
"Martelando na utopia e ceifando a descrença

Simone Maia (*)

Raul era sindicalista e sempre dizia que os interesses da classe trabalhadora eram prioridade. Sua ambição: ser líder da Oposição. Para isso, dedicava a maior parte de seu tempo a leituras, encontros, palestras, mobilizações de piquete e festas com o pessoal do Partido. Era da esquerda porque da direita já havia se desiludido além da conta. "Revolução!" Raul era radical. Para ele, negociar era coisa de Embaixada. E mais: não tinha nada desse negócio de "centro-esquerda ou centro-direita": ou era direita, ou era esquerda ou era centro. Destro, canhoto ou maneta. Não tinha segredo.

Para cada deslize do governo, tinha uma crítica e uma solução já guardadas sob a língua, só esperando pela oportunidade de enunciá-las. Era admirado por uns e visto como fa(lu)nático por outros.

Certo dia, em meio a discussões calorosas sobre os prováveis efeitos da nova medida económica adotada (em acato a imposições primeiro-mundistas e visando o bem comum... dos parlamentares, naturalmente), Raul se alterou a ponto de ensacar o dedo mindinho da mão direita, que na pancada seca sobre a mesa acabou se chocando esticado, de mau jeito. Doía, mas o discurso não foi interrompido. Aliás, ele nunca interrompia um discurso, com medo de que os ouvintes se dispersassem e terminassem por não "abrir os olhos" para o que dizia. Precisava concluir seu raciocínio que, volta e meia, era contestado por outros: "Não concordo!" "Isso não funciona!" "Besteira!". Então sua face corava e, impelido pela ira, até contra os companheiros do Partido se voltava: "Falta de visão! Isso é falta de visão! Eu vejo além!".

Raul queria um Brasil comunista. Queria pregar os mesmos ideais que um dia fizeram o Comunismo florescer na antiga União Soviética, em Cuba, na França, na China... até no Camboja! "Até no Camboja!" - ele bradava e sempre emendava a pergunta: "Por que não aqui? Nós podemos, nós podemos!". E ai de quem lhe dissesse que o Comunismo era agora mais uma lápide no Jardim das Causas Perdidas, pois havia fracassado em toda parte. Ai de quem! Ele gritava: "E Cuba, infeliz? Cuba resiste!". Todos sabiam que Cuba não resistia a coisa alguma, apenas havia recriado um sistema falido, sobre outros moldes, que ainda assim se mostrava insatisfatório - mas Raul era assim: crédulo, fiel. Um soldado do Exército Vermelho, disposto a ressuscitar cadáveres e a pregar o legítimo ideal leninista. Ortodoxo. Acusava Stálin de "traidor" e principal responsável pela má reputação do sistema pelos quatro cantos do mundo, ao lado de Pol Pot e outros fanáticos genocidas. Ele não compactuava com o passado negro dos que "deturparam" a ideologia. Não! Ele era da ala "moderada" do Partido. Contraditório, já que se mostrava um típico esquerdista radical. Polêmico, o Raul.

Ele acreditava num governo de transição: "Num futuro próximo, o Brasil se revelará comunista. É só questão de tempo" - ele dizia. Alguns duvidaram... e a esquerda "moderada", com ideais "socialistas", subiu a rampa... no auge de nossa descrença. É só questão de tempo..."

(*) Simone Maia é articulista de www.temploxv.pro.br.Simone Cristiane Maia nasceu no município de Santo André (SP), em 1972.
É formada em Educação Artística, com especialização em Música, mas atua em área burocrática.
Seu primeiro trabalho literário publicado foi o conto "O Bilhete", que venceu o II Concurso de Contos da Casa da Palavra, órgão da Prefeitura Municipal de Santo André, no ano de 1993.
Em 1994, integrou o grupo de estudos e prática literária Pimenta Meeting, liderado pelo poeta Gerson Dudus, com o qual lançou a coletànea "VideVerso", publicando quatro poesias.
Em 1995, participou da coletànea organizada pelo Jornal Literário Blocos, do Rio de Janeiro, sob a liderança dos escritores Leila Míccolis e Urhacy Faustino, de nome "Saciedade dos Poetas Vivos Vol. VIII", onde expós mais seis poesias de sua autoria.
De lá para cá, vem publicando seus contos, crónicas e poesias em vários sites literários espalhados pelo país, como na revista on-line Nave da Palavra, no Jornal de Crónicas, etc.
Recentemente, teve seu conto "O Jantar" publicado no jornal O Estado de São Paulo (Estadão).





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