Quem não ouviu falar da moeda número um do Tio Patinhas? É a base de toda sua fortuna, por isso é guardada supersticiosamente. Vou confessar, caro leitor: também tenho uma número um. Claro que não se trata da primeira moeda. Essa, se a tivesse ainda hoje, já a teria permutado, quando muito, por um copo de chope.
O que ainda conservo comigo é minha primeira crónica. Foi publicada em 1966, num jornal de Jaraguá do Sul, lugar onde residia na época. Já tinha então o costume de colocar para fora, nos textos, meu lado criança, o que resultou numa crónica-narrativa que satirizava indivíduos dados à bebedeira. Título: O amigo sapo. O sujeito, podre de bêbado, dialoga com um enorme sapo no quintal de sua casa.
O texto foi muito comentado. Cada leitor, como é comum, julgava conhecer a personagem satirizada. Na realidade, era todos e não era ninguém. Um estereótipo apenas.
Tem somente valor sentimental. Mas existe por aí uma tal de Maga Escatológica, cronista amadora, que há muito tenta colocar-lhe as mãos. Julga ela que, de posse desse vetusto documento, todos os caminhos literários lhe serão abertos. É certo que a crónica original encontra-se em total segurança no cofre forte de um banco. Mas não imagina o leitor os mirabolantes planos executados por essa horripilante senhora para arrebatá-la. Chegou a valer-se de feitiços, despachos, pressão externa e influências políticas. O objetivo de sua vida inútil é apoderar-se de meu pobre texto.
Dos demais textos, publicados até a década de 90, nenhum ficou para remédio. Minha mãe costumava recortá-los e guardar numa grande caixa de papelão (coisas de mãe). Posteriormente, dei-lhes o devido fim. Conservei somente a caixa, hoje utilizada para guardar as contas a pagar.
Apesar disso, vez ou outra reconheço uma dessas crias publicada em nome de outros. Começo a ler e vejo que o estilo e as palavras não me são estranhos; daí a pouco estou adivinhando o que vem adiante. Certamente, são os cupinchas da Maga Escatológica.
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