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Contos-->PRECONCEITO? UM CONTO QUE NÃO É MEU... -- 29/12/2004 - 07:08 (ROSAPIA (veja página 2)) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
PRECONCEITO? UM CONTO QUE NÃO É MEU...
MAS NOS PROPORCIONA UMA REFLEXÃO NECESSÁRIA.

O SUPER-HOMEM
Georgina Martins-RJ

Não me lembro muito bem se foi no Natal ou no aniversário que Lívia ganhou aquela boneca que ela chamou de Diana, era uma boneca maravilhosa! Isso foi há oito anos. Era linda... como eu a desejava!

Mamãe fazia questão de dizer a mesma coisa todas as vezes que a gente ia a uma loja de brinquedos:
- Já disse que meninos não brincam de boneca. Você pode escolher o carrinho que quiser. Veja só, este aqui, não é bonito? Por que você não leva um?

Eu não queria nenhum. Achava todos muito sem graça. E, depois, fazer o que com um carrinho? Todas as amigas de Lívia tinham bonecas e eu as achava mais interessantes que os carrinhos. Lívia já tinha bonecas demais, o que custava me emprestar aquela?

- Leo, o papai vai brigar se pegar você brincando de boneca. Vai bater na gente igual naquele dia. Sai daqui que eu não quero apanhar, não!

Lívia era medrosa e só me deixava pegar nas suas bonecas quando o papai não estava em casa.

- Menino, anda igual homem, não balança as mãos assim, você já está com 8 anos, não é mais nenhum bebê! Você precisa mudar esse seu jeito, é por isso que os meninos riem de você na escola, a culpa é só sua. A sua professora já conversou comigo sobre isso. Ah, meu filho, desse jeito você ainda vai nos dar muito trabalho!

Naquela época eu não entendia o que mamãe queria dizer. E odiava aquela escola.

Lívia só queria ser a mãe, eu não gostava de ser o pai, mas a Lívia só me deixava brincar com as bonecas se eu fosse o pai.

- Tá bom, tá bom, vou ser o pai, mas vou ficar com as bonecas, tá? Você vai ser a mãe que trabalha fora. Vamos, filhinha, a mamãe já vai chegar, não chora!

Um dia, papai entrou no quarto e a gente nem notou. Eu estava fazendo um vestido pra Diana. Era um vestido de baile. Ela ia ficar linda se o papai não tivesse rasgado tudo. Até os cabelos dela ele arrancou de tanta raiva. Lívia chorou muito. Eu só chorei quando ele me deu um tapa na cara.
- Olhe, você é um homem, ouviu? Se continuar assim vai virar mulherzinha. Nunca mais quero ver você brincando de boneca, ouviu bem?

Mamãe até que dessa vez tentou me proteger:
- Mas, Sílvio, você não está vendo que a Diana é a namorada do Leo? Ele adora namorar as bonecas de Lívia, não é meu filho? É por isso que ele brinca com elas.

Mas a Diana não era a minha namorada, ela era a minha melhor amiga. Aliás, eu acho que queria ser a Diana. Um dia, na escola, a Rosana, que nunca me deixava pegar nas bonecas, resolveu me emprestar todas. Ela tinha levado cinco bonecas e eu acabei me esquecendo que naquele dia era o papai quem ia me buscar. Quando ele chegou, nós estávamos brincando de casinha e eu era a mãe. A Rosana deixou. Papai me puxou pelo braço e foi me batendo até o carro. A Rosana ficou muito assustada. Fiquei um mês sem freqüentar a escola. A Rosana chorou muito.

Eu tinha muitos pesadelos, sempre corria pra cama da mamãe durante a noite. Sonhava com uns gigantes enormes querendo nos devorar, a mim e a Diana. Depois dos gigantes vieram os homens de verdade, mas eram homens enormes, maiores que o papai. Naquele tempo eu achava que tudo era muito grande. Papai comprava os nossos brinquedos e um dia comprou um Super-Homem.

- Tome, Leo, é seu, com este você pode brincar à vontade. Você não gosta de brincar com bonecas? Então, agora tem bonecos que são brinquedos de menino.

Eu gostei do Super-Homem, um boneco grande com uma cara linda. Ele tinha uma capa vermelha e era muito forte, mais forte que o papai e muito mais forte que os gigantes dos meus sonhos! Acabei esquecendo a Diana, coitada, largada num canto, sem roupas e sem cabelos. O Super-Homem era muito legal e passou a ser o meu brinquedo preferido. Papai ficou muito feliz. Eu levava o Super-Homem pra todo lado.

- Ta vendo só, Ester? Agora acho que ele virou homem, por que é que você nunca comprou esse boneco para ele? Às vezes eu acho que você é culpada, mima muito o Leo, não o deixa ser homem.

Eu ouvi tudo. Como é que era possível a mamãe me deixar ser homem? Fiquei quieto para ele não me bater. Novamente não entendi direito o que eles estavam dizendo. Papai nem me viu. Aliás, acho que ele nunca me viu direito, mas pelo menos me deixou em paz com o meu Super-Homem, que pôde ser para sempre o meu primeiro namorado.

(Transcrito da Revista “G Magazine”. Editora Abril, Ano 5, Edição 55, p. 94.)

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