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Cronicas-->A Praça do Mercado A Praça do Mercado -- 19/09/2000 - 19:18 (sileimann kalil botelho) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
A Praça do Mercado
Por S.Kalil Botelho

A Praça do Mercado, que se chamava e chama Elói Coelho, não possuía oitiseiros, mas mangueiras. Velhas mangueiras prenhes de histórias e de frutos a ajudar-nos a matar os dias preguiçosos e, muitas vezes, também matar a fome de pobres que se esfalfavam de colhê-las e saboreá-las sem pudores. Não eram centenárias, porque a cidade não fizera cem anos, mas balançavam ramos espessos e carregados de fartura - a Providência, talvez, que vem do alto!
Às suas sombras, também, os garotos de antanho jogavam peteca, empinavam papagaios e jogavam piões que, na maioria, eram fabricados pelo Pedro Carpina, em seu torno de impulsão pedal, na oficina ali depois dos Três Bêcos, pertinho da Praça do Vai-Quem-Quer.
Seus filhos, quando dispunham de tempo, também brincavam conosco e, isso, facilitava a aquisição dos piões, por preços "mais em conta". Luiz, o mais velho deles, mais tarde aprendeu a arte tipográfica e já compunha o Jornal de Balsas, quando empreguei-me como seu entregador.
Na Praça do Mercado já residia o provecto Jorge Cury de hoje, tinha como divertimento principal furtar anzóis na Loja do pai para capturar urubus que quase também habitavam a Praça, em busca de comida abundante. Quando Jorge conseguia fisgar um deles, a Praça virava um pandemónio de meninos diversos a também divertirem-se e de adultos a maldizerem a conduta do jovem Libanês e, para evitá-los, saíamos para trás da casa do Gesner Soares - um terreno baldio onde é hoje a agência do Banco do Brasil. Também fugíamos de que o velho Major Cury tomasse conhecimento da pàndega e acabasse com o grande divertimento.
Naquele tempo, era raro algum veículo motorizado na cidade e, já estavam lá, os indefectíveis "cangueiros" a fazerem seus fretes das compras que se faziam no mercado ou das balsas que traziam legumes dos Gerais, para o próprio Mercado onde eram vendidos a rateio.
Quando não estava em aula, normalmente, meu dia era passado por ali. Meu pai possuía Quitanda e Açougue, bem ao lado dos do meu tio Raimundo Botelho. Eu fazia-lhe os recados; ajudava no atendimento da freguesia e, mais tarde, com a sua morte, cheguei a substituí-lo, como se o próprio fora, embora só tivesse 11 anos incompletos.
Mais tarde, fechado o comércio, porque os financiadores não quiseram continuar fazendo-o a uma criança, ainda cheguei a ajudar ao meu tio Raimundo, na ausência de seu filho Odilon que viera arriscar a sorte nos garimpos do norte de Goiás - hoje Tocantins.
Das lembranças das coisas e brincadeiras do velho mercado, que alguém sem respeito a bens históricos, mandou destruir, há uma, marcante pela falta de respeito humano que representava: Havia um daqueles "cangueiros" - o Zé Volta Grande, que praticamente morava no Mercado. Dormia, sempre que lhe era possível, sonos longos, talvez povoados de sonhos, em uma velha cadeira, à beira do poço que existia no centro do Mercado e de onde retirávamos água para a lavagem completa dos açougues, que realizávamos todos os dias. Pois bem, não precisava ser São João, mas bastava que ele começasse a cabecear na velha cadeira, algum dos moleques retirava um "traque" do bolso, acendia-o e, sorrateiramente, colocava-o sob a cadeira do Zé Volta Grande, correndo em seguida para longe. E, lamentavelmente, entre um ou outro protesto, sem muita convicção, as gargalhadas enchiam mercado e becos jacentes, mesmo que o pobre diabo estivesse estrebuchando ao chão, como ocorria vezes diversas.
Verifico que o homem, adulto ou criança, não mudou nada. Sob algum verniz veladamente acumulado sobre a pele e sobre o consciente, continuamos rindo e maltratando os pobres Zé Volta Grande de todos os tempos.
Sobradinho, 13 de setembro de 2 000.
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