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Cordel-->O ÍNDIO NUM SAMBAQUI -- 06/11/2009 - 07:12 (pedro marcilio da silva leite) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
O INDIO NUM SAMBAQUI
DA BAIXADA FLUMINENSE


Naquele rosto sereno, a pele secular
endurecida por tempos de maresia,
só as rugas, se deixavam amansar
pelas lembranças de coisas antigas:
fatos, revelações e descobrimentos
prazerosos e de muito sofrimentos
que só causaram muita dor e fadiga.

O velho índio, bem no alto do morro,
ainda mantinha aceso o brilho do olhar
mesmo quando divisava seus mortos
às margens do que chamaram rio-mar;
mesmo quando às lembranças doíam
e lampejos de esperança sucumbiam,
ainda eram firmes, seus olhos a fitar

bem distante, na linha do horizonte,
o muito que podia surgir de repente
mesmo que surgissem lá dos montes
pouco ou bastante, bichos ou gente.
Já começaram coisas a acontecer
que era mesmo muito difícil de crer
e até pareciam cosias do demente.

Quando elas começaram a aparecer
surgiam do horizonte e eram enormes
que bem de dentro pareciam nascer
inúmeros outros barcos bem menores;
botes lotados, os traziam para a terra
que se achando dono, faziam guerra
produzindo muitas dores e as mortes.

Com vergonha do corpo, os cobriam
e usavam armas barulhentas e mortais.
Eram tantas que contar não podiam
assustando até mesmo os ancestrais.
Começando por aqui o novo mundo
não sabia se seria limpo ou imundo
mas os de antanho não voltaram mais.

Eles chegavam em grandes caravelas
que uma náutica de fabulosa tecnologia
como a bússola chinesa de antigas era,
agora, melhor utilizada com cartografia.
Este é o tempo das aldeias no quadrante
de novas conquistas, novos rompantes
de tempos que desde agora amanhecia.

O velho índio ouvira os fatos relatados
por índios de outras tribos bem ao norte
que muitos em terra foram encontrados
em tempos diferentes, sem igual sorte.
Foram Pinzón, Duarte, Américo, Cabral:
nomes estranhos para um mesmo mal
que para seus irmão só trouxeram morte.

Não havia mais o que refletir ou meditar
com a roda da história sem a paciência
por chegar a hora dos bravos conclamar
para a luta interminável de resistência,
pois, já havia passado toda perplexidade
e, o que vinha acontecendo de novidade
bem certo é que não traziam a clemência.

Eram tantos que contavam aos milhares
de norte a sul, eles iam cobrindo o litoral
como: os Tremembés, Caetés, Potiguares
e mais Tupinambás de força descomunal.
Somavam-se aos Goitacás e Tupiniquins,
Tamoios, os Guaianases de Parati-Mirim,
Carijós ou Guaranis e outros sendo igual.

Com a diferença apenas do modo de ser,
suas vivências com fauna e flora da terra,
a forma de seus sobrenaturais conhecer
o sentimento que em sua arte se encerra.
Seja no guerrear ou do alimento cultivar
seja nos espíritos dos ancestrais, cultuar
a paz, o júbilo, nos funerais ou na guerra.

Algumas com os invasores negociaram
outras lutaram com europeus e irmãos.
Algumas, a cultura muito canibalizaram,
outras se uniram na fé da confederação.
Assim com tribos de tempos imemoriais
e nações emergentes de vetores ocidentais
foi sendo formada aqui uma grande nação.

O cruel tratado entre Portugal e a Espanha
dividindo a terra antes da posse verdadeira,
foi como ocorrera com uma sede tamanha
que provocou genocídio de raça altaneira.
Os sucos na face do índio se umideceram
pela lembrança dos milhares que morreram
nesta Baixada que a história já esquecera.

Os milhares de trairapongas massacrados,
Tamoios e Temiminós sem melhor sorte,
foi o cenário que lusos e franceses chegados
só produziam tragédias com tantas mortes.
Nos primeiros anos até chegaram as batinas
que como os nossos pajés só tinham a rima
pois vieram fazer o trabalho sujo das cortes.

Trazendo de além-mar um outro novo Deus,
uma língua para ser a única foi difundida,
formas de produzir e vivência dos jeito seus
começando aqui o paraíso, uma nova vida.
A exploração da nossa árvore mui tingidora,
pelos europeus foi terrivelmente devastadora
que a alma do solo foi cruelmente atingida.

Portugal, a princípio era dono dessas terras
como ouvira de um branco com um trovão
que usava na paz, dizia, para evitar a guerra.
Iniciava o povoamento com a sua população
mas, povos querendo seu pedaço, também,
declarando que a terra não era de ninguém
invadiram para tomar logo o seu quinhão.

Um dia, foi intenso o tráfico de escravos
trazidos de terras onde os homens escuros
eram caçados e, aprisionados seus bravos
era trazidos com crueldade e sinistro apuro.
Por lógica da defesa da terra,povoamento,
eram sesmarias dadas por “merecimento”
mas, que antes de tudo teria que dar lucro.

O paraíso do mundo novo ia se acabando
e degredados, segregados e escravizados,
as vítimas primeiras que iam inaugurando
nessas terras, que desejos foram sonhado
e, eram desejos de muita boa-aventurança
que até nos engenhos só havia a esperança
que todos os caminhos seriam viabilizado.

Do alto dos sambaquis o velho só ouvia
acontecidos na nova tropical propriedade.
por índios nômades que tribos percorriam,
e logo vinham contar todas as novidades.
Há muito via passar canoas de mui alturas
com gentes estranhas e de outras culturas
que nunca haviam visto essa realidade.

Mas tempos passaram e outros chegaram,
alguns perdidos até que foram resgatados
pelos abnegados que a história contaram
com soberba isenção dos fatos relatados.
Aí, se conhece as atrocidades cometidas
pelos invasores em seu ímpeto homicida
que deixa, o sonhado paraíso, derrotado.

Foi neste cenário de destruição e morte
que desde tempos idos, tem presenciado,
a nossa baixada não colhe melhor sorte,
mesmo hoje, até pelo se tem anunciado.
Não há mais índios para mais genocídios,
nem homens escravizados, nem gentios,
mas milhares de seres; Estigmatizados?

O palco é o mesmo quando, antigamente,
ocorreu a fatídica tragédia com os irmãos
que unidos, bem que lutaram bravamente
pelo seu paraíso, por suas vida, seu chão.
Mas foi insuficiente a garra de sua gente
contra os trovões que só cuspiam quente
provocando a mortandade e a a destruição.

Quando no alto do sambaqui ele se arrepia
ao observar as bocas de fogo, em golfadas,
que saindo das chaminés de uma refinaria
deixavam o céu e terra bem avermelhadas,
o velho índio, a nova tragédia pressentiu
como de quase cinco séculos passados viu
a terra coberta de carnes ensangüentadas.



FIM




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