Nota preliminar do tradutor: Os jornais e revistas alemães abrem espaço para um grande debate sobre os riscos da estrangeirização (anglicização) do seu idioma. Outro tema polêmico tem sido a reforma ortográfica em curso. O Frankfurter Allgemeine Zeitung, que é o jornal em língua alemã com maior número de leitores, há poucos meses optou pelo retorno à antiga ortografia. Assim como na França - depois também no Brasil - o debate se inflama com o acréscimo do poderoso combustível do nacionalismo. Os alemães se dividem sobre a necessidade ou não de se criar uma "lei de proteção ao idioma".
A salvação do idioma alemão está na ordem do dia. Embora ele passe bem: a literatura e a filosofia florescem, e mesmo na música pop jovens músicos se esforçam naturalmente, e não por chauvinismo, em produzir textos que contornem os estereótipos anglo-americanos.
Uma cultura e uma língua vivas distinguem-se pela capacidade de integração e diálogo. Como soa e cria poeira o idioma alemão quando se volta para si mesmo, é o que se pode estudar nos textos do filósofo Martin Heidegger, que identificava a língua como a "morada do ser" - pátria e pedra inaugural do ancoramento cultural. Por isso, destilava uma língua etimologicamente pura, mas que acabava na incompreensibilidade. Mas nem a língua artificial de Heidegger, nem o "denglisch" [N. do T.: deutsch + englisch] da EDV ou das bolsas de valores destruiram alguma coisa. Ao contrário: enriqueceu-se o tesouro das palavras (Wort-Schatz), o vocabulário (Wortschatz).
Defendido precisa ser o que carece de socorro. Não a língua alemã, mas as universidade e escolas precisam desse socorro: nelas, tem de ser alimentada a competência lingüística do futuro. Na política, os guardiães da cultura deveriam, em vez de ficar chocando os mandamentos da pureza, acelerar a reforma educacional. Suprapartidarizando, procurando uma linguagem comum.