Ontem subi na bamba escada,
abri a porta do armário duplex
e apanhei aquelas velhas caixas,
amarradas e amarrotadas,
onde guardamos, há anos,
enrolada em papel branco,
as imagens do Presépio
e a Árvore de Natal.
E estavam todos eles lá,
amontoados e envelhecidos
os pingentes coloridos,
os fios cintilantes,
as bolas e os sinos,
as luzes pisca - pisca,
menos o rosto do menino
terno e apaixonante.
Perdidos pelos becos,
nas noites vagabundas,
vadios, cheirados de cola,
carregando os tumores do mundo
nos olhares assustados,
maltratados pela carência e fome
de quem aleitou-se de solidão,
sofridos pequenos reis magros...
Ontem pensei no panetone
na castanha do Pará, rabanada,
mas que nada...
nozes não matam a fome
não saciam o menino de Nazaré,
o que Ele, menino quer
está no calor de um abraço,
na comunhão das mãos,
presentes ou ausentes,
parentes ou não.
Na parede cintilante a estrela
em gás néon aponta à manjedoura,
onde Marias deixam seus filhos
enrolados em trapos de pano,
enquanto vendem seus corpos
pelo direito à sopa e poucos grãos
na comunhão da fome e miséria
na redenção de seus pecados
na tentativa da vida em terra
renascendo-se a cada dia.
Ontem desejei ser Noel
distribuir alguns brinquedos
fazer-me lembrança
sobre tetos de papelão
para bichinhos de pelúcia
curiosos da esperança
vestindo apenas o coração
chegando como o vento
trajando no corpo o vermelho
renascendo-me na carência
Hoje tento ser José,
Isabel, Gabriel ou Maria,
tento ser Gaspar, Baltazar
um simples pastor, ou mago Belchior
tento ser criança, ser ovelha
ser esperança, ser estrela
tento ser super - homem
tento ser o que não fui
o humilde ensinamento
deste menino - rei : Jesus!
[ 20 / 12 / 2000]
Gentilmente publicado em
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