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Contos-->AS PARALELAS -- 23/01/2005 - 11:25 (Fernando Antônio Barbosa Zocca) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
AS PARALELAS

Fernando Zocca


Albertinho Lhemonta despediu-se do Van Grogue, naquela noite em que conversaram, na sala ornada com samambaias, por quase duas horas, sobre as intenções da irmã deste.
Marlene Cristina Grogue, desejosa de ver-se casada, eis que o trabalho, na loja de roupas, não lhe rendia o suficiente, articulava planos comprometedores caso, seu projeto se frustrasse.
Albertinho vinha já desconfiando das mumunhas da Marlene Cristina. Ele achou meio bizarra aquela sua atitude, de quando juntos, alisar e afagar um anelão no dedo anular da mão direita.
O jovem entrou no seu fusca branco velho e maltratado, dando a partida. Ligou, logo em seguida, o rádio perebento.
Sobre um fundo de música sertaneja o locutor experiente lia o texto publicado no jornal de Tupinambica das Linhas: "O popular andava de um lado para outro, defronte a prefeitura da cidade e esgoelava: ó funcionário, ó funcionário, o que fazes tu, pra merecer vosso salário?"
Lhemonta tocando um botão mudou a sintonia. A narradora, dentro de um clima denso, daquilo que parecia ser uma radionovela, exclamava chorosa: "O que eu mostrei, para quem foi mostrado, foi pedido, com insistência, pra ser visto."
A curva fechada fez com que Albertinho se deslocasse no assento do seu carro. Ele sentiu medo quando quase foi jogado entre os bancos do fusquinha. Ali havia a alavanca do freio de mão. Era um perigo.
O noticiário radiofônico continuava: "A Polícia Civil investiga a morte de três cães na região central de Tupinambica das Linhas. Os animais foram envenenados com organofosfado carbonado –– conhecido popularmente como chumbinho ––, um poderoso raticida que só pode ser vendido mediante receita de engenheiro agrônomo. Na última semana, foram registradas as mortes de dez animais, nos bairros periféricos, impregnados com o mesmo veneno".
O motorista freou suavemente o veículo estacionando-o defronte sua casa. Antes mesmo que ele abrisse a porta, sua mãe dona Glória Megadan recebeu-o efusivamente dizendo: "Já levantei a ficha desse tal de Franz Ferdinand. É uma mistura de Franz Kafka com o Arquiduque Ferdinand da Áustria, morto em 1914. O Kafka, você conhece. Foi um escritor tcheco nascido em Praga. Escreveu dentre outras obras, América, O processo, O castelo e A Metamorfose. Ele padecia com a monotonia do seu trabalho no serviço público e não conseguiu vencer o conflito com o pai."
Albertinho cofiou o bigode. Caminhou até a estante e virou a ampulheta mirando a areia que caia.
Ele vivia um momento crucial. Devia decidir-se: ou se casava com Marlene Cristina Grogue, ou partia rumo ao Rio de Janeiro.
Glória, percebendo a hesitação do filho encorajou-o: "Faça o que lhe pede o coração."
Jogando as chaves do fusca velho sobre a mesa de centro, Albertinho foi categórico: "Amanhã cedo comprarei as passagens. Bye-bye, Tupinambica das Linhas."


Fernando Zocca, é escritor, advogado e jornalista.

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