Gosto mais deste...
É uma ternura... Pachorrento... Dócil... Conformado com a classe onde o maestro celestial o colocou... E tantas vezes me sirvo eu, por sistemática herança cultural (cultural?!), do hiliriante bónus que partilhei, corroído de vergonha, no cantinho da sala de aula e de olhos nas costas a presenciar o gaúdio daquela cambada de sacanas a rirem-se de mim. Parvo, em face da parede, a ruminar a revolta que me formigava no estômago, atirava de soslaio um submisso olhar de culpa aceite ao mestre daquela palhaçada... O professor Gaspar... Parvo?! Parvalhão absoluto...
Cinco anos adiante vinguei-me deles todos, assumido e insuportável caso sério de sarna estudantil. Até os bons, autênticos pediatras do ensino, pagaram inocentes pelos algozes que me torturaram a infância sob a lei da régua e da cana, quando chegava silenciosamente a casa com as palmas das mãos pelo dobro e quatro ou cinco galos na cabeça cantando às alvoradas da indignação silenciosa.
Que tens, filho? Nada... Nada mãezinha!
Ainda hoje os há... Dos tais com vocação para enviarem os miúdos ao centro do inferno... E não só! Para os sodomizarem, para lhes meterem o "coiso" nas mãos e na boca... Enfim criaturas dantescas a quem D. Pedro I encomendaria o resgate do coração pelo ânus, à mão e de braço todo até ao tórax...
Este burrinho é bem mais pachorrento, pois é?! Ande, venha daí, temos de ter paciência, a vida é levada da breca... Pronto, já passou...
Paciência?! Já passou o quê?!... Para mim, felizmente, está quase a passar... Mais meia dúzia de sóis e então, sim, passa mesmo...
Torre da Guia
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