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Contos-->O último dia -- 27/02/2005 - 22:10 (Felipe Douverny) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
8 horas da manhã, o despertador tocou, Diogo espreguiçou-se e sentiu o valor de cada alvorada, de cada barulho estridente do rádio relógio que o despertava para a vida todos os dias, exceto aquele.
Ele havia saciado a belicosidade de outro, havia brigado pela causa frívola de uma ofensa feita a um amigo seu. E pela incapacidade de perdoar, não sua mas de seu colega, era agora, jurado de morte.
Com dia e hora marcados, 3 de Abril, às 16 horas, e não havia como escapar, pois graças à tecnologia, um microchipe havia sido inserido no seu corpo, e continha um rastreador, portanto, não importa onde fosse, o achariam. Sendo assim, decidiu não fugir da sua morte, da sua condenação, da pena que pagaria, decidiu sim, aproveitar seu último dia e extrair dele, toda a essência.
Após lavar o rosto com uma sutileza extrema, foi preparar seu café. Aproveitou o momento; enquanto pegava o necessário, observou cada parte daquela cozinha, cada acessório e comida, que lhe mantinham a vida a cada dia, mês , ano; pôs os pães na torradeira e foi se hipnotizar no espiral marrom do seu leite com chocolate, bebeu um gole e foi pegar as torradas. Saboreou cada mordida, cada gole, e cada onda quente que subia do copo. Lamentava que era preciso estar morto para dar valor à vida.
Ao terminar, deixou a cozinha bem arrumada e abriu as cortinas, fazendo os acessórios de metal reluzirem com a luz do dia.
Escovou os dentes com uma precisão sutil e foi pegar seu jornal. Começou a ler as manchetes: 20 MORTOS EM ATENTADO TERRORISTA NA FRANÇA, CRESCE O NÚMERO DE MORTES EM SÃO PAULO, BALA PERDIDA MATA CRIANÇA. Fechou o jornal, ainda queria guardar uma boa impressão desse mundo.
10 horas da manhã; Saiu para regar as plantas, afinal, a vida delas continuaria, a menos que uma bomba nuclear viesse com tudo acabar. E regou os hibiscos, os lírios, as rosas, e a grama, verdejante com os raios do sol.
Se estirou na grama, sentiu o sol nos poros de seu corpo, respirou o ar fresco de outono, e se lembrou da infância naquele mesmo jardim, onde corria alegre em direção ao balanço da árvore, lembrou-se de cada tarde, de cada por do sol que havia visto, sentado no balanço, naquela casa do alto da colina; pode sentir o tempo passando lentamente dentro de seu corpo e os minutos se esvaindo no derradeiro dia de sua breve vida.
Meio dia, decidiu almoçar no centro da cidade, se trocou, pegou sua bicicleta, e deu adeus, com olhar nostálgico e solene, à casa onde nascera.
Foi descendo a ladeira, lembrando e lembrando, cada bom momento que passou no agradável bairro nos arredores da cidade.
1 hora da tarde, e lá estava ele, em meio à confusão da cidade. Andava como em câmera lenta entre as pessoas apressadas, e admirava, aquele caos que nunca mais veria, aquele movimento harmonioso dos carros junto ao vento, que levantava as folhas caducas e mortas do chão.
Sentou para comer em um restaurante italiano, pediu uma lasanha individual e uma taça de vinho. Observou a decoração caseira e sentiu um grande conforto enquanto bebia seu Lambrusco e esperava a massa.
Fez sua última refeição, degustou cada tempero contido naquela mágica, naquele comida que muitas vezes ele já havia comido, mas que em nenhuma delas havia sido, tão saborosa.
14:50 da tarde, entrou na igreja matriz para assistir à missa, observou cada traço arquitetônico da construção, e sentiu o silêncio apaziguador que pairava no recinto. Assistiu à missa com uma emoção bem maior do que das outras muitas vezes, e ouviu cada palavra do padre com uma atenção característica de quem comete um enorme erro.
3: 57. Sai da igreja e sente os raios do sol batendo fortemente em seu corpo, lhe proporcionando um suspiro aliviado e ofuscando seus olhos. Pede a Deus para que seja perdoado por seu erro ignóbil.
4 horas.
Ele olha para o céu.
Em algum lugar em volta da terra, um satélite, um anjo da morte, localiza seu chip.
Ele respira.
Do céu vem um raio em sua direção, e seu corpo se torna em um milhão de pedaços.
A redenção o transforma numa chuva de gotas de cristal, que cai suavemente sobre o chão, brilhando com a luz do sol.



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