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Contos-->As Lendas do Amparo -- 01/03/2005 - 15:19 (José Ricardo da Hora Vidal) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Valença; 07 de fevereiro de 2005

O rio Una seguia plácido dentre Valença enquanto um sol alaranjado do crepúsculo cobria de escarlate e vi-nho a cumeeira de dois montes no horizonte. Por que cumeeira? Os montes surgiam como dois seios túrgidos e lúbricos de morena sensual cujo rio era o seu ventre lascivo e fecundo. E no alto de uma das colinas o sol era uma casta coroa criselefantina a rodear a santa e veneranda igreja de Nossa Senhora do Amparo.

– Pai, por que igreja foi construída lá no alto? – perguntava o filho caçula enquanto comia um pastel no cal-çadão da Orla do rio Una.

– Bem, diz minha avó materna, que quando criança ela ouviu de um mascate em Sarapuí, que um rico fazen-deiro da região, valente como um bandeirante e arrogante como um coronel, deu para cavalgar furiosamente pela colina, como a desafiar a Deus e o Diabo com sua correria. O cavalo corria como corisco a cortar cataclismos com suas crina de carvão e coragem por força do castigo inclemente da chibata cortante do centauro que o caval-gava. Pulava os arbustos como se brincasse com um fogo, a subir pelas escarpas. Até que, lá no alto, como a vingar dos acoites, deu um coice e derrubou bruscamente seu cavaleiro. Queda feia e seria morte certa se o fa-zendeiro não tivesse clamado amparo a Nossa Senhora, com toda a humildade do coração (embora já estivesse entregando a alma do destino). Acordou lá embaixo, horas depois, já às margens do rio, tendo o corpo coberto com alguns arranhões – apesar de ter rolado de uma grande altura. Dizem que depois ele se tornara um homem piedoso repleto de fé, e que construiu com suas mãos uma igreja para sua protetora.

* * * * * * *

– Que nada! – dizia, da janela de um dos casarões na praça da República, uma comadre fofoqueira para seu amigo, Dr. Mustafá Rosenberg – Não teve queda de cavalo. Segundo minha tia freira carmelita, ela ouviu de uma madre superiora cuja família é amiga da família do professor Jorge Aguiar, que a igreja foi construída ali porque, muito antigamente, havia um a imagem de Nossa Senhora que, posta no altar mor da Matriz do Sagrado Coração de Jesus, projetava sua sombra no alto do morro, como a indicar o local de sua moradia. Foi assim que povo daqui construiu seu templo lá em cima.

* * * * * * *

– Foi milagre sim, mas não de sombra no altar! – Replicava o magarefe no Mercado Municipal para seu cli-ente – a verdade meu amigo, contada pelo meu padrinho, professor Martiniano Costa, que ouviu das bocas dos pescadores do Tento (amigos deles), foi que há muitos anos um barco de pesca daqui da cidade havia se perdido em alto mar durante uma tormenta. A tripulação, vendo o naufrágio iminente, começou a rezar para Nossa Se-nhora. E estava uma onda enorme a abrir sua boca de demônio e a devorar o barco, quando ela apareceu com seu manto azul e branco. A onda fechou suas mandíbulas e o tempo serenou. Nossa Senhora estava lá no alto do monte como um farol, indicando com seu dedo a foz do rio Una. Chegando são e salvos, eles em gratidão cons-truíram a capela do alto do morro onde ela amparou seus filhos pescadores. Mais tarde o povo a expandiu o cas-telo da rainha de Valença.

* * * * * * *

– A história dos pescadores que se salvaram no naufrágio realmente aconteceu – contradizia o sacristão den-tro do salão da Casa Paroquial, enquanto conversava com as professoras Dinalva Teles, Ana Franco e Rosângela Figueiredo – mas a igreja já existia. O que professora Macária me contou foi que encontraram nos arquivos da arquidiocese de Salvador o relato de um viajante que falava de um grupo de escravos fugidos afilhados de Nossa Senhora. Estes, tentando escapar daquele rico fazendeiro da primeira lenda, teriam se dirigido para a montanha, achado a imagem da Santa Mãe de Deus e orado para ela. Foi então que ela apareceu e os amparou, escondendo os escravos em seu manto e ludibriado o dono feroz e o capitão do mato que os perseguiam. Mais tarde, foram pedir refúgio ao bom pároco da Matriz. Este, devoto da Virgem Maria, ao ver a imagem e ouvir contado do mi-lagre da fuga; percebeu que ela era madrinha destes negros e fez que Santa Madre Igreja Católica Apostólica Romana comprasse a liberdade deles, que depois construíram o santuário para sua Benfeitora.

* * * * * * *

Do alto de sua torre de marfim, o doutor professor de História ri baixinho, pensando: pobres ignorantes, tudo lenda, pura lenda, só lenda…

Mesmo que seja simples lendas, o poeta José Ricardo da Hora Vidal não deixa de bebê-las em êxtase (junto com seus amigos Cristiano e Flamínio, seu irmão Pablo e seu primo pintor Junior da Hora) enquanto o sol coroa a Igreja de Nossa Senhora do Amparo e o rio Una de águas negras corre como um ventre fecundo que divide o horizonte em dois seios femininos…
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