O encontro vivencial com a morte muitas vezes representa uma crise existencial que força as pessoas a reexaminar o significado de suas vidas e os valores pelos quais vivem. Ambições mundanas, motivações competitivas, busca de status, poder e bens materiais tendem a se desvanecer quando são vistos dentro do contexto da morte potencialmente iminente.
Se a natureza não teme nem evita a morte é porque ela é condição de vida. Se a natureza conserva uma indiferença suprema diante da morte, é porque esta nada destrói, tanto assim que, apesar das contúnuas mortes, a vida prossegue triunfante; nada é destruído nem como matéria nem como espírito. De modo que a morte não prejudica absolutamente o princípio da vida, que permanece intacto e até continuamente rejuvenescido com esse renovar-se constante através da morte.
Se a existência de um princípio psiquico é evidente, este tem de ser imortal; a imortalidade só poder ser eternidade; equilíbrio entre o passado e o futuro, ou seja, reencarnação. Como o que não morre não pode ter nascido, assim o que não existia antes do nascimento não pode morrer. O que não nasceu com a vida. não morre quando a vida morre. Portanto, não morrí, sou eterno.Apenas deixo a materialidade retornando à vida verdadeira.
Na morte ocorre o isolamento, a separação do princípio mais alto, de todos os princípio subjacentes e determinantes, separando-se dos princípios inferiores que Ele havia chamado para colaborar com o seu trabalho de evolução. E sendo a evolução uma força premente, está na natureza do dinamismo daquele princípio animador de aspirar sempre as novas expressões de realizações mais elevadas, com o que terá vencido a morte e veverá consciente na eternidade.
Desse modo, muito agradeceria que o meu velório se processasse no mais breve espaço de tempo. Velórios prolongados aumentam o sofrimento dos parentes e servem de incômodo para os amigos que porventura se dignem a comparecer.
Ao contrário, em vez do corpo vestido com o que de melhr possuia, encareço que seja utilizada uma roupa que não tenha serventia para outrem. Ser-me-ia prazeroso que as roupas em melhor estado de conservação fossem doadas a quem delas necessitassem. Não me parece justificável envolver os restos mortais de quem quer que seja com o que de melhor possuía já que dentro de pouco tempo desaparecerá ante a voracidade dos vermes.
Quanto as flores, apenas um singelo botão de rosa vermelha entre as mãos simbolizando as pessoas que amei durante minha breve passagem por aquí. Sobre o corpo expirado não depositem flores, pois estas representam um dos mais belos símbolos de graça e beleza que a natureza nos cumulou.
Música no lugar daquele lúgubre silêncio tão comum em ocasiões semelhantes. Se possível, gostaria que utilizassem minhas favoritas: LALO (concerto para violino n. 3); BERLIOZ (Rêverie et caprice); CHOPIN (sonata para piano e violoncelo, op. 65; polaca para piano e violoncelo, op. 3; SCHUMANN (adágio e alegro, op. 70; Cenas infantís. op. 15).
Finalmente, quanto as lágrimas sei que para alguns são incontroláveis. Se presentes, que sejam de saudade e não de protesto pela minha partida, pois assim estarão me ajudando para que a grande viagem seja menos traumática e mais rápida.
Grato a todos e o meu até breve; até o nosso reencontro.
Daquele que muito lhes amou....
