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Contos-->A SEGUNDA ONDA -- 03/03/2005 - 14:58 (Fernando Antônio Barbosa Zocca) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
A SEGUNDA ONDA


Fernando Zocca


Rildo olhou-se no espelho e notou estarem seus cabelos crespos, longos demais. Ele odiava quando lhe chamavam traveco dos trambiques. Aquela gente não podia conceber o quanto ele sofria ao lembrar-se da mãe há muito falecida.
Ele viu a pele do pescoço, que apesar da idade, apresentava-se bem esticada. Pudera! Cuidar-se do jeito que ele se cuidava, só mesmo sendo o que ele era.
A vizinhança tinha uma certa inveja do Rildo. As mulheres maldosas do bairro, que viviam no ócio, não se cansavam de inventar mentiras ao seu respeito. Uma das patranhas, por sinal a mais cabeluda, afirmava que ele vestia as roupas da mãe, quando se sentia premido pelas lembranças dolorosas.
Essas lorotas todas eram contadas, nas rodas de fofoca, que se formavam defronte as casas das faladeiras. O fato de Rildo morar sozinho, alimentava o imaginário da mulherada, ansiosa por novidades.
Rildo traveco pegou o frasco de xampu e sentiu o aroma. Era delicioso. O perfume agradava-o ao extremo. Lembrou-se da mamãe, quando ela acarinhava-lhe o bumbum. Seu maior prazer era notar o odor do talco que a finada passava-lhe nas nádegas ainda tenras.
Sob o clima de enternecimento, capturou a escova de pêlos duros e compridos, alisando os caracóis dos cabelos. A maciez das madeixas produzia-lhe prazer extremado ao toque. Ah, que suavidade!
O boiola lindo assustou-se quando sua campainha soou. "Aí que nervo!" queixou-se ele. Colocou na penteadeira a escova de pêlos duros e longos e foi atender a porta.
Lá fora, impaciente a vovó Bim Latem forçava o portão tentando entrar sem antes esperar por sua abertura. "Nossa! Nega por quê tanta pressa?" perguntou Rildo à velhota dos velhos olhos azuis.
"Biba, estou estressadíssima! Seqüestraram o dinheiro todo lá da prefeitura, logo agora que Jarbas tomou o poder e eu... veja bem... eu fui convidada para assumir um cargo importantíssimo na administração. Pode uma coisa dessas?" Feito um furacão a vovó entrara, e postada no meio da sala do Rildo, aguardava uma resposta.
"Ai que dó, vovö! Como é que foram fazer essa maldade com a prefeitura de Tupinambica das Linhas? Que gente ruim! Nossa, estou arrasada!" A vovó Bim Latem continuou: "São 5 mil funcionários e seus familiares que ficarão a ver botes, se o governo do Estado de São Tupinambos não emprestar o arame".
Enquanto as duas confabulavam entrou na sala a diarista Severina Chiquexique. Ela apresentava atitudes de quem não estava muito satisfeita com as últimas ocorrências naquela casa.
Ao passar, igual uma ventania, pelas comadres confabulantes, resvalou a perna na mesa de centro. Aquele impacto quase derrubou a estatueta do cacique guarani. A biba Rildo segredou à vovó: "Ela está nervosa porque eu lhe neguei um aumento. Essa neguinha tá pensando o quê ? Toda comunidade sabe que o serviço aqui na casa não é tão pesado assim."
A vovó Bim Latem mostrou solidariedade à colega traveca. Então Rildo continuou: "Coisa, você acredita que ela foi falar mal de mim pra Tererê das Bolinhas, nossa irmã camarada?" Vovó Bim Latem arregalou os olhos: "Não, eu não acredito que essa fulana furreca tenha feito isso!" Rildo emendou: "Pois fêz! Causou o maior tumulto essa coisinha." A vovó ponderou: "Gente... mas por causa de dinheiro, mas e ..." Rildo interrompeu e deu a última estocada: "Esse gabiru anão foi fazer fofoca até na lanchonete onde costumo lanchar." A vovó empalideceu: "Ah, mas até isso? Imagine fazer difamação inclusive na lanchonete Paysanduba? Ora, essa coisinha está precisando de corretivo." As duas pararam de falar; Severina entrara na sala espanando os móveis com um guardanapo. Na verdade ela raivosa, batia com o pano nos sofás e estantes. Rildo disse: "O corretivo que eu dei foi negar-lhe o aumento. Você acredita que ela ficou perdida, mais por fora da realidade, que semente de caju? Até as chaves da porta da frente, essa nanica perdeu. Mas pode uma coisa dessas?"
Bim Latem sentou-se puxando a barra do vestido, cobrindo os joelhos. Ela falou: "Estou com um medo horrível. Dizem que tem mais credor querendo pôr as mãos no caroço da prefeitura. Que vergonha... Isso parece a tsunami. Acabaram com o partido e a nossa moral. Ai que horror!"
Rildo tentou acalmar a Bim. Para mudar o clima tenso, mandou Severina passar um café.
Ao ouvir a ordem, Severina achou ter chegado o momento exato em que se vingaria daquelas patacoadas todas. Depois de colocar a água para ferver, buscou, com esforço homérico, o catarro das profundezas do seu gogó, cuspindo a gosma no coador.

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