Amor eterno (*)
Lá bem distante, querida,
Serei pedaços de vida
Pensando em nosso passado.
Naquele mundo vazio,
Já pressinto um calafrio.;
Viverei amargurado.
Despeço-me pesaroso
Como um urutau cioso,
Perdido da companheira.
Meu peito será caverna
Pra guardar lembrança eterna
De ti, minha flor primeira.
Não há (crê-me!), neste mundo,
Pranto mais triste e profundo
Que este meu -- ao te deixar.
Terei comigo uma dor,
Saudades de ti, amor,
Que tanto me fez sonhar.
Terei, no ser, uma chaga,
Mancha que não mais se apaga
No fundo do coração.
Enleio dourado se finda.;
Tristezas vivem ainda,
E eu lamento, só, em vão!
A espera é muito longa,
Prisioneiro de araponga,
Jamais poderei voltar.
Um dia vais me esquecer,
Será alegre o viver,
Que é soturno em meu pensar.
Lá bem distante de ti,
O canto da juriti
Será música sonora.
E orquestra linda ouvirei,
Num sonho com essa grei,
Em sono que a alma devora.
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(*) Brasília, DF, 26/10/1964.
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