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Artigos-->Poética da Oquidão -- 04/09/2002 - 12:10 (Salomão Sousa) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
POÉTICA DA OQUIDÃO



SALOMÃO SOUSA



O que a crítica busca não é só particulari-zar uma obra, mas encontrar aspectos validatórios de um estilo, junções que colocam lado a lado o autor e as aclimatações de sua época. Nenhum autor está deslocado em sua produção, posto num oco que o isolasse. Integra um ciclo de desejos e de afetações, de processos de manifestação desses desejos e afetações e, sem dar conta disso, fica inflamado das idiossincrasias de seu tempo e de seu lugar, impossibilitado de escapar-se.

A linguagem, com o amarradio do autor, acaba espelhando as feições do tempo em que foi praticada. E, por espelhar, em cada época acaba assumindo traços diferentes, carregando novos, sobrepondo novos. E, com a linguagem, a crítica da linguagem, que também é linguagem. Assim, a pro-dução artística e sua produção crítica não são mais que autoenganações, pois o que é o real e suas constelações mantêm o seu domínio. A perfeição seria comum a ambas se a ambas fosse dado o poder da prática da perfeição sem a interferência das imposições do tempo presente, ou se fosse dado à produção ser a totalidade do tempo e não ser apenas uma de suas constelações. Mas a perfei-ção só se manifesta quando o objeto abordado e a abordagem já se autoconstelavam.

A crítica do tempo presente não é burra, mas se comporta comodamente, um sintoma do homem deste entrecruzar de séculos. Não quer se dar ao trabalho de pensar, de buscar desvenda-mentos, de definir o seu papel, a postura que irá adotar diante do objeto que irá avaliar. Em um artigo de Antônio Cândido, que agora volta a cir-cular, ele já cobra da crítica a definição de uma postura. Caso seja adotada uma postura para cada obra, cada obra pode ser reduzida ao achincalhe, pois o que valia para uma já não será válido para a próxima. Para lembrar Octavio Paz: como não é mais uma ação revolucionária, a crítica se revolta diante de cada objeto, por mais inofensivo que este objeto possa ser.

Como a crítica é a incapacidade de gerar a obra em si, ela preferiu a adoção dos aspectos mais indolentes e escapistas: resumir. E passa a acredi-tar que está produzindo a obra ao resumir. Quando não encontra o que resumir, diz que falta enredo, entrecho. E, quando não pode entender, passa por desentendido. Quando entende, quer sobrepor o próprio entendimento ao valor da coisa exposta. Caso explícito ocorreu com a crítica de Tango, de Carlos Saura. Trata-se de um filme sobre a Histó-ria e não um filme com estória. Como não encontrou o que resumir — não é resumível o que é poesia ou música, pois são elas próprias condensação —, a crítica não soube como pautar-se, portar-se. Soube apenas negar. A crítica diz que não existe o que não é factível de resumo.

A crítica e seu objeto muito pó tem arrojado sobre os destroços do modernismo para mantê-lo com rosto novo, sem disfarçar, contudo, sua moribundez. Sem encontrar a porta de acesso para um novo caminho, pois isolados dentro de uma perspectiva que não definem, autores e autores da crítica insistem em envelhecer o modernismo ainda mais, reduzindo o seu alcance. O que é fruto do vazio só pode circular no vazio.

Os poetas que têm acenado com algumas possibilidade de construção, mostram-se insuficientes para estabelecimento de parâmetros de uma poética. E o universo fica neste corolário de atuação ao deus-dará. Permanecem indefinidas as causas desse reducionismo crítico, já que sua prática independe da abertura de espaços para sua circulação.

Talvez devesse ser fundado o oquismo. Aqui o oco seria usado como arma. A arte e sua crítica não precisariam nem mesmo de serem praticadas, se estariam ausentes e juntas num mesmo espaço. Os cortes no cotidiano seriam tão minúsculos que não poderiam ser percebidos. Seria um escapismo total, com desconhecimento total do real e do social. Seriam abolidas a obra e sua produção crítica. Todos os autores e todos críticos seriam geniais em seu isolamento.

E talvez tudo pudesse ser entendido, já que o real também poderia estar veiculando um vazio, imperceptível, e os criadores seriam apenas seus intérpretes, ocas constelações circulando num oco. O tempo, assim, seria confirmado apenas como o grande algoz.

E já há convergência na definição do oquismo existencial que tem pautado a literatura atual. Hilda Hirst tem uma narrativa denominada O Oco, com o personagem preso em seu universo. No intertexto de A torre de babel, de Gabriel Nascente, também circula esta ausência de definição de uma postura diante do mundo atual, pois entende que está preso para poder interpretar: As palavras são meu templo/de oquidão.//Eu não tive culpa. Me deram o paraíso errado. Ainda fica acenado que a culpa não é do intérprete, mas de um criador, ou do processo evolutivo da humanidade. Na mesma trilha do poeta goiano, Asheby, nessa gênese de não se responsabilizar por uma localização do real, também reconhece A imperfeição é nosso paraíso. Com a perda consciente do paraíso criativo, é necessário dimensioná-lo sempre para provocar abertura na oquidão. E a perda do paraíso da produção literária poderá imperar ainda por muito tempo, já que o caos do oco passa a ser o deus a ser referenciado e aclamado, conforme expressam os versos de Gabriel Nascente: Graças dou ao caos/da minha lida.

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