Usina de Letras
Usina de Letras
144 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62214 )

Cartas ( 21334)

Contos (13260)

Cordel (10450)

Cronicas (22535)

Discursos (3238)

Ensaios - (10357)

Erótico (13569)

Frases (50608)

Humor (20029)

Infantil (5429)

Infanto Juvenil (4764)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140799)

Redação (3303)

Roteiro de Filme ou Novela (1063)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1960)

Textos Religiosos/Sermões (6187)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Contos-->O Licencioso -- 18/03/2005 - 01:18 (f. mendes) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Ela acendeu o cigarro, aparentemente calma, até com um certo sangue frio. Fiquei observando todos os seus gestos, a maneira como rolava a pedra do isqueiro, a posição deprimente dos lábios segurando o cigarro, o ligeiro esgar ao mirar a chama, tudo, nada escapava da minha espreita. Não sei por que ela me chamava tanta a atenção. Talvez por causa da sua elegância perturbadora, alta, magra e pálida? Improvável. Talvez por ela ter acendido o cigarro dentro de uma igreja? Não sei. Talvez. Na verdade nem sei que diabos eu estava fazendo naquela maldita igreja. Não costumava freqüentar igrejas. Sempre achei que igrejas eram coisas de velhotas e fodidos em geral. Só entrei na igreja porque tinha uma fila em frente. Nunca tinha visto fila para entrar numa igreja. Seleção para vaga de padre que não era. Para ver o que estava acontecendo, tomei o meu lugar e entrei. As pessoas da fila, que iam da calçada da rua até ao altar, traziam coisas nas mãos e depositavam frente uma estatua de um homem forte de nariz proeminente e eu não trazia nada nas mãos, na minha vez, apenas encarei o sujeito da estatua e me sentei, foi quando aquela mulher me chamou a atenção. Ela destoava daquela gente, sempre tive uma imagem formada de quem freqüentava esses lugares e a imagem daquela mulher era outra, totalmente avessa. Era como ver uma Santa assistindo uma luta de boxe, uma rinha de galo, uma partida de sinuca. A discrepância era berrante. Talvez, alguém que me observara lá dentro tivesse feito a mesma observação sobre mim. Será? Improvável. Não existe no mundo outro maluco como eu. A mulher fumava como uma louca e ninguém, se quer, olhava para ela, era como se não estivesse ali, como se todos não tivessem o direito, a permissão de olha-la, como se todos a ignorassem por medo ou culpa. E, eu, a mirava insistentemente, queria ver aonde aquilo ia acabar. A fumaça, que ela expirava de maneira agressiva, subia lentamente e pairava como nuvens na nave da igreja. Posso estar parecendo ridiculamente comovente e patético descrevendo essa besteira toda dessa maneira, mas foi assim que aconteceu, estou apenas sendo fidedigno. O inesperado aconteceu, talvez ela já tivesse sacado que eu a espreitava. Ela veio em minha direção. Ela tinha todo o direito de estar puta comigo, não tenho nada que ficar bisbilhotando escondido, mexericando. Ou você vai lá e agarra logo a mulher ou a deixa em paz. Ela parou na minha frente, parecia mais pálida de perto, e mais bonita também, os cabelos compridos, encaracolados, armados sem esmero, ela tinha os olhos grandes e negros, me encarava no rosto, ela ficou um bom tempo assim, parada na minha frente, uma situação incomoda. Que ela me esbofeteasse logo. Foi quando ela me perguntou: Você acredita em Santo?. Respondi que não, que entrei na igreja só... ela me interrompeu, quando eu ia explicar aquela coisa toda da fila, e começou a falar umas coisas esquisitas: Santa Ágata, mártir, teve os dois seios cortados, Santo Antonio, foi um monge exposto a todas as tentações e as superou, Santa Blandine, foi devorada por leões numa arena romana, Santa Genoveva, salvou Paris da invasão dos bárbaros. Já ouviu falar de algum deles?. Não, eu respondi. Foi o que pensei, ela deu uma ultima tragada, jogou a bituca do cigarro no chão da igreja e o apagou com a ponta do sapato. Quando levantei a cabeça para abrir a boca, ela já havia desaparecido. Passei a freqüentar aquela maldita igreja todo santo dia na esperança de encontra-la novamente, para saber se aquilo havia acontecido de verdade, se ela era de fato uma Santa, se eu havia presenciado a aparição de uma Santa, ou se estava apenas ficando maluco, perdendo o juízo. Só sei que, se não tirasse aquilo a limpo, se eu não tentasse estabelecer a verdade, a realidade, a veracidade daquilo tudo, eu realmente enlouqueceria. Não conseguia arrancar aquilo da minha cabeça, não conseguia mais viver em paz. Minha vida transformou-se num inferno. Missa, batismos, até casamento de desconhecidos eu estava, tentando encontrar o rosto dela na multidão. Pegava fila, trazia oferenda aos Santos. Nada. Mas não perdia as esperanças. Todas as vezes que me deparava com a imagem de uma santa eu tinha uma ereção. “Mesmo os homens mais potentes, têm se inclinado em sinal de adoração frente a santos, como diante de um enigma da sujeição de si mesmo, da ultima privação voluntária”, disse o idiota do Nietzsche. Por que eu me inclinara, então? Eu era um tarado? Atrás dessa interrogação, do seu aspecto mesquinho e miserável, eu podia sentir uma certa força superior querendo se afirmar. Alem do mais, a vista da santa insinuava em mim um desejo incontrolavel. Aquilo tudo, acreditar naquilo tudo, era uma monstruosidade de negação contra a natureza. Eu queria apenas foder aquela mulher linda e misteriosa? Eu perseguia uma vagina nova? Uma conquista ignorada e ainda invicta? Foi isso que me constrangeu a deter-me diante da santa? Não poder fode-la? Não poder toca-la? Preciso encontra-la. Preciso dar uma dentada naquela carne branca e macia. Hoje me encontrarei com outras pessoas que me relatarão seus casos, nos reuniremos em grupo, em minha casa, na igreja e lares de fieis.




Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui