Usina de Letras
Usina de Letras
166 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62214 )

Cartas ( 21334)

Contos (13261)

Cordel (10450)

Cronicas (22535)

Discursos (3238)

Ensaios - (10357)

Erótico (13569)

Frases (50609)

Humor (20029)

Infantil (5429)

Infanto Juvenil (4764)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140799)

Redação (3303)

Roteiro de Filme ou Novela (1063)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1960)

Textos Religiosos/Sermões (6187)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Contos-->Veio caminhando devagar -- 27/03/2005 - 21:28 (Márcia Cristina Rodrigues Pereira) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Veio caminhando devagar, braços revezavam, indo e vindo, ora um em sua frente, ora outro. O aspecto redondo de seu corpo facilitava este movimento involuntário, roçando em sua barriga. O pescoço ficava meio perdido, pouco ágil pra ver coisas ao redor, afundado em seu corpo. Não se importava. Quem me diz gorda, não me vê feliz. E ia indo. Foi fazendo jeito de durona pelo corredor daquele escritório. Olhou bem nos olhos da atendente, toda de preto, colocou os cotovelos sobre o balcão:

— Eu vim ver o Dr. Amauri.
— Pois, não, mas ele não está.
— Ah, não? Ele disse que eu podia vim.
— Qual o assunto?
Com as sombrancelhas juntas e arcadas pra cima: — Algo particular. - pontuou.
Para não se alongar muito naquela situação, a atendente procurou alguns papéis sobre a mesa para pegar e ajeitar: — Bom, infelizmente, não poderei lhe ajudar.
— Tudo bem. Eu ligo direto para ele.
— Tenha um bom dia, então. – disse isso sentando-se rapidamente em seguida, puxando a cadeira com seu corpo e posicionando-se em frente à sua mesa.

Saindo da sala, direcionou-se novamente ao corredor, com olhar ao longe, sem ver nada. E agora? Falou que podia me ajudar. Mas cadê? Ou será que o bendito tá aí? Continuou a passos curtos e saiu da casa. Olhou pro céu, fazia calor, céu azul sem nuvens. Sentia o sangue lhe correr, quente, pulsando. Tudo perdido. Perdi minha filha.

Desde a manhã de sexta-feira, não tinha mais os rumos guiados como antes. Tinha ficado sem sua filha, que o pai quis levar enquanto estava trabalhando na casa da Dona Jacira. Não tinha nada que abrir a porta, menina lesada! Eu falei pra não fazer nada quando eu tô fora. Seus pulsos fecharam-se, apertando a mão, e continuou a descer a rua. Pensou que não tinha notícias dela fazia quase uma semana. Pensou que se acabaram os planos de sair pra comer sorvete, pra ir na casa da tia que ela tanto gostava do bolo de laranja. A saudade mexia tanto com ela que mal conseguia lembrar-se do rosto da menina de sete anos. Maldito hôme!

Olhou de novo pro céu como se esperasse uma nova visão. Tudo continuava como antes, azul, mas agora viu um passarinho acomodado no poste de luz, coçando-se todo. Parou. O bichinho fez, mexeu, coçou, sacudiu-se e até piou em resposta a um outro que se manifestou ali perto. Aquilo era o que mais sua filha gostava. E eu quero ela de novo. Sentiu algo ficar gelado, rapidamente; tudo ficou um pouco escuro e seu corpo bambeou. Teve que se desviar daquela cena pra se apoiar em algo. Sentia poder cair.

“Volto aqui mais tarde. Alguém tem que me ajudar tirar a menina do maldito. Advogado tem que servi nessas horas. Ah! Não tem direito sobre ela, não. Eu fiz tudo até agora, não vem me dizer uma tontice dessa!”

Reanimou-se daquela fraqueza e quis descer a rua mais rapidamente. Sentia uma pulsação mais intensa agora, ouvia dentro de si a música que sua filha tanto dançava. Seu corpo roliço não a impedia de andar mais ágil. Foi naquela hora que entendeu: “Ela volta pra mim!”. Alcançou a avenida principal, que era paralela àquela, e viu o ônibus quase chegando no ponto. Tinha que ir trabalhar. Subiu no ônibus, não se sentou. Ficou olhando pra fora, pelo vidro da janela, como se quisesse encontrar um caminho lá fora. E a música dentro de si continuou a tocar. Aquela menina! Minha menina...
Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui