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Contos-->SALMO PARA UM CORPO IRRESISTÍVEL -- 22/12/2000 - 23:37 (Marcelina M. Morschel) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
A cortina de "voile" branco balançava ao leve soprar do vento daquela tarde de verão. Fora, um vozerio, passos, buzinas de carros. Debruçada sobre a cama, ela ria com os seus pensamentos. Ninguém poderia imaginá-la, àquela hora, nua, solitária, a ocupar a cama na transversal.

Não a importunavam os ruídos. Os lábios continuavam a sorrir. Com displicência, de vez em quando levanta uma perna, depois a outra. Vira-se, sinuosa feito uma cobra. Expressão sensual. Olha o teto branco, lustre comum. Nas paredes, a imagem de alguém apenas. Olhar fixo, sente-se perturbada. Desvia o olhar. Parecia machucá-la aquela imagem. O quarto era pequeno e pobre. O rosto aflorava juventude vaporosa, fluida, etérea. Sabia ter atributos exteriores e uma fertilidade de imaginação magnífica. Sentia-se desejada. Disso tinha certeza e fazia tudo para sê-lo.

Nas horas que passavam, ruminava monotonamente os meios e a continuidade daquela paixão que acendera. Amor delirante, completado apenas por sinais, olhares e algumas palavras. Não havia toque, mas a carne fremia. Era como se os dois formassem uma só pessoa e vivessem noites sem limitações e reservas, onde o despudor reinava, deixando o delírio de um suspiro profundo de entrega final. Dificilmente ficavam a sós.

Ela entrava primeiro, olhar fixo na porta. Ele vinha. Os olhares se encontravam num impacto solene. O corpo arrepiava-se. Ela não cedia, ele abaixava a cabeça para depois olhá-la com um lampejo mais delirante. Ele falava. Lábios vermelhos, molhados. Ela respondia com lábios trêmulos de entrega e paixão. Ele sentia. Continuava. Havia um momento de aproximação. Ela esperava sôfrega. Ele tinha as mãos suadas. Ela abria a boca. Ele, de leve encostava os dedos no queixo bem feito e rosado. Os olhos, um no outro. Agora, bem perto. Momento do gozo desejado. Ela volta endoidecida e mais bela. Ele segura com força o que tem entre as mãos, na pressa de virar e revê-la. Todos estão recolhidos. Olhos cerrados, cabeça inclinada. Só dois olhos faiscantes de paixão contemplam dois outros que não piscam. Ele quase sorri. Ela entende. Aperta os lábios, sinal de um grande beijo. Ele põe o dedo nos seus para recebê-lo. Passa de leve o indicador pela boca. Ela sabe que está sendo desejada. Momento irresistível. Depois ele sai – “Ite missa est”. Ela inclina a cabeça. Um suspiro, que vem do fundo d’alma, a traz à realidade. Vira-se na cama. Olha o relógio. Levanta-se e vai em direção a uma cadeira coberta por roupas de pano preto. Começa a vestir-se. Lenta e pausadamente, desce as escadas. Um badalar de sino. Abre devagar o livro dos salmos. Alguém começa a entoá-los. Salmodiam vozes afinadas e uníssonas. Ela canta. Breve o desespero virá. Mas o coração deseja uma noite sem limites. A imaginação, fértil, continua nas entrelinhas. Em delírio, sente-o em cada palavra.

Ele, a passos largos, desce as escadas e faz parte do coro dos monges. A voz forte ecoa naquele instante pela grande basílica vazia. Qual visão, ele a tem ali, diante dos olhos. Percorre as folhas do breviário e só encontra o corpo daquela mulher irresistível. Despe-a com os olhos, a deseja e salmodia o “De profundis clamavi ad Te Domine”.
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