A faca deve ser pequena e ágil
e ter um cabo jeitoso
de madrepérola ou osso
(é importante evitar materiais pouco nobres
ou de imitação).
A faca deve ter um bom tamanho
que a coloque entre
o punhal e o canivete
para fazer com que salte
- do gesto ao ato -
com rapidez e desembaraço.
A faca deve ser bem afiada:
de preferência ter-se ouvido
o uivo de sua lâmina
- temperadíssima -
na roda do amolador
ou o raspar monótono de seu aço,
qual navalha,
correndo na palma da mão.
A faca deve ficar sempre alerta
ao nosso alcance,
nunca presa num cinto
ou prego na parede,
mas preparada para entrar em ação
(talvez guardada
na prega da saia,
no punho da manga,
no bolso da blusa).
E quando chegar o momento
é só tirá-la e, com sua ponta em estilete,
minuciosamente,
marcar os limites do talho,
cortar bem fundo
e deslocar do peito,
sem deixar raizes,
o redondo miolo da dor.
(Se for preciso,
deixar a faca no local,
tendo o cuidado de esconder o cabo
e evitar abraços muito estreitos).
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