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Contos-->O Dia Em Que Encontrei Papai Noel -- 23/12/2000 - 19:57 (Guilherme Chiurciu Alpendre) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Era um dia não mais triste que outro qualquer. Voltava à pé do trabalho, o sol ainda alto, apesar do avançado da hora. Eram 19:25h. Não sorria. Não havia motivos para tal. Não me lembro bem, nenhuma lembrança é tão nítida quanto gostaríamos, mas creio que há meses não havia motivos para sorrir além do lânguido e falso sorriso de “boa noite” com o qual eu brindava o porteiro de meu prédio todos os dias, após o expediente.

E nesse dia não foi diferente.

Encaminhei-me às escadas, já um pouco mais animado pelo ar fresco que me esperava no interior do velho prédio, umedecido pelas constantes chuvas da estação. Ao passar pelo primeiro andar, parei. Parei para ouvir as teclas melodiosas de um piano velho cantarem uma canção lenta e forte, que a velha professora romena insistia em tocar, apesar de saber que ninguém a ouviria.

Ou saberia ela que eu a ouvia?

Continuei subindo, sentindo o cheiro de mofo naquele cantinho da escada, entre o primeiro e o segundo andar. Apesar dos esforços da síndica, a infiltração de água não cedia. No segundo andar, também parei. Mas não para ouvir teclas melodiosas ou outra coisa qualquer, mas para tomar fôlego. Aproveitando a pausa na subida, olhei para os pombos que estavam na árvore morta da frente do prédio através da janela que deixava entrar no corredor todo aquela luz pálida. Por mais baixo que fosse, ainda ouvia o piano tocar no andar de baixo, forte, mas terno.

Seria mesmo o piano, ou o eco de minha imaginação?

Continuei subindo as escadas, agora no mais completo silêncio que se pode ouvir numa cidade. Cheguei ao terceiro andar com um ar de triunfo no olhar e com uma pose heróica. Não eram todos que, aos 83 anos, conseguiam chegar ao terceiro andar de um prédio sem elevador vivos.

E eu estava vivo. Ou não?

Abri a porta de madeira que me separava da sala de meu apartamento. Entrei, tranquei-a por dentro e fui direto ao banheiro. Estava com sede. Lentamente me inclinei para tomar a água da torneira. Mas não bebi. Pensei que a tampa da caixa poderia ter caído e que alguns pombos poderiam ter feito certa arruaça na água. Malditos pombos. Fui até a cozinha e tomei a água mineral já choca de meses antes. Apesar do gosto ruim, tinha certeza de que, ali, nenhum pombo havia metido as patinhas.

Malditos pombos.

Sentei-me no sofá com cuidado, e tirei o chapéu. Apesar do calor, acho que o mundo não mudou tanto a ponto de um cavalheiro não mais ter que usar um chapéu e uma dama não usar um xale. Gosto muito de xales.

Ou seriam os xales que gostam de mim?

Recostei-me à janela, olhando para o nada, o vazio que é um céu de crepúsculo. Deveria ter comprado um apartamento do lado do por do sol. Ou será que o sol é que tinha que se por do lado da minha janela? Um avião passa. Entedio-me. Sento-me de novo no sofá. Fecho os olhos e acabo por dormir durante 15 minutos. As gotas da chuva entrando pela janela que eu esquecera aberta me acordam. Fecho apressado a janela, e, olhando para a rua, vejo crianças correndo para se abrigar das gotas geladas. O piano da romena do primeiro andar soa mais e mais alto, estranhamente alto.

Ou seria mais uma vez o eco de minha imaginação?

Continuo olhando as crianças, e me lembro de quando era uma. É verdade, hoje é véspera de Natal. Como eu gostava de Papai Noel. Ou será que eu ainda gosto de Papai Noel? Gosto, gosto, gosto. Ele é o meu companheiro, minha felicidade. Viro-me de lado no sofá e me deito, repousando a cabeça no colo de Papai Noel. Ele sempre estivera ali tão perto, com seu carinho, e eu nunca o tinha visto. Dou um sorriso, um suspiro. Acho que morri. Morri feliz. Morri no colo de Papai Noel.

Morri?
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