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Cordel-->Cordel do Vocabulário -- 17/01/2002 - 09:34 (José Mario Martínez) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Mestre Rubenio Marcelo nos ensinou 59 palavras do rico léxico nordestino. Neste cordel consegui encaixar todas elas, exatamente uma vez cada uma, em 130 versos divididos em 13 décimas. Peço desculpas pelos eventuais erros de interpretação. Afinal, meu forte é o portunhol.


Minha décima é mamparra (1)
pra divertir o agresteiro (2),
eu não canto por dinheiro
mas porque gosto da farra.
Mariazinha, não me agarra,
fica assuntando (3) tranqüila
pois meu cordel não tem fila
nem gosta de banzação (4);
canto com o coração,
arigó (5) que nem gorila.

Tu me proibiu de arengar (6)
mas eu bem que te dizia:
"Briga-de-jegue (7)- Maria -
não leva a desenvergar (8)".
Tu gostava de dançar
e até que tu não é marmota (9);
teu marido não era idiota
mais aquilo era um furdunço (10);
tava cheio de jagunço
querendo cortar patota (11).

Tinha um mulato cabrão (12)
gostando dos teus cambitos (13)
e um broco (14) meio esquisito
todo arrumado e champrão (15).
Tu lhe disse: "Não, inhor não (16),
já cansei da meia-cueca (17)".
"Será porque sou careca?"
disse o velho, meio agé (18),
e aí começou o fuzué (19)
e acabou a carne seca.

Todo mundo ajumentava (20)
e até o padre estava alto (21);
pra me livrar dei um salto,
pedindo paz me esgoelava (22).
Já nem cantar não cantava,
fiquei com doença do ar (23)
e também foi me aperrear (24)
bem no ossinho da miséria (25)
uma fratura bem séria
que não me deixava andar.

Um arranca-toco (26) manco,
fedendo que nem aguado (27),
chamou de desconchavado (28)
um funcionário do banco.
"Vou te jogar no barranco,
canalha, mão de jengibre (29)!"
"Minha mãe, que Deus me livre!
piedade pro encobucado (30)!
nunca tinham me falado
grossura desse calibre!"

Era tanta a confusão
que tu provocou, Maria,
que até Deus diz que sentia
sintomas de quenturão (31).
De costas entrou no chão (32)
aquele velho quengueiro (33).
Matou-o um mansabiqueiro (34)
ao começar a cruviana (35).
Pra cubrí-lo custou grana
um pega-pulga (36) grosseiro.

Envolto em tal cobertor
desceu ao fosso profundo.
Morreu de doença-do-mundo (37),
diagnosticou o doutor.
Choravam com muita dor
um cachorro e uma cria (38),
mas, enfim, quem mais sofria
é seu cobertor-de-orelha (39);
"coisa feita! (40)!", disse a velha,
"macumba, feitiçaria!"

Quantas pegaram barriga (41)
do velhaco sibarita
que quase se desguarita (42)
por causa de certa amiga!
O chamavam - quer que eu diga? -
por isso, pai-de-chiqueiro (43)
porque, apesar de matreiro,
também diziam que era corno.
No berô (44) encarou o retorno
ao bom solo brasileiro!

Me arripuna (45) relatar
a morte dum ser humano
que em seu traje americano (46)
gostava de paquerar.
O que o matou foi dançar
com mulher inconveniente;
ele era bom delenqüente(47),
duro na militação (48).
Já não usa pão de sabão (49),
nem toma banho de gente!

Não morreu de nó na tripa (50),
não foi doença do sol (51)
nem enfarte ao gritar gol
nem foi empinando pipa.
Trouxe um buqué de tulipa
pro túmulo do José,
que morreu de rapa-pé (52)
depois de ser empurrado.
Ficou meu canto aboiado (53)
como homenagem pro Zé.

Na nossa cumilidade (54)
fizemo um requixilado (55)
homenageando o finado
com a maior humildade.
Para dizer a verdade
eu que fiquei com revolta (56);
deixaram as mosca solta
num certo dicumezim (57);
nem de falar tava afim,
precisando até de escolta.

A catrevage (58) de herança
ficou para a pobre viúva,
preta e velha passa de uva
curtindo porca lembrança.
Ficou pra trás a festança,
a bebedeira e a orgia.
É isso que dá - Maria -
dar bola a um velho danado.
Ainda bem, por outro lado,
que a polícia nem sabia.

Mestre Rubenio Marcelo,
falta uma palavra só;
pra encaixá-la faço um nó
amarrando meus chinelo.
Pensando fico amarelo
no fim do vocabulário,
e afinal tiro do armário
o que ficou na memória:
Já descansei (59) minha estória!
(Assinado: José Mario)


J. M. Martínez 16/1/2002
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