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Contos-->Excesso -- 09/04/2005 - 11:05 (Vanessa Zéfiro) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Nada do que escrevo é laborioso, engenho. É, antes de tudo, armadilha da urgência que minha alma constrói. É infância, adolescência – qualquer coisa imatura, mal construída. São vinte e seis anos dispersos, entre pretensões e, sim, mentiras. Daquelas bem contadas. Não mentiras arquitetadas, desenhadas com cuidado, mas aquelas que invento pra minha própria vida. Por isso, a falta de apuro, os cabelos desgrenhados – as linhas gastas. Perco a chance de me calar, de usar o silêncio – ou o sussurro, algo que não seja um incomodo (pra mim, pro mundo). Autojulgamento? Nada disso: confissões de um adolescente. Besta assim, sem alma assim. Idiotice. Excedo-me, porque não tenho nada pra dizer. Não há nada fundamental, necessário, nas mil e uma linhas que até hoje escrevi – e me condeno assim, sem pudor. O tiro é contra a minha própria testa – sou eu a culpada, se não contenho minha vida e a deixo invadir algo que não é meu (é pacto, construção social, somos nós dois, de mãos dadas e cheios de significados que não controlo, que, talvez você controle – ou pense controlar, porque seria mais razoável, seria mais legal, por assim dizer). Minha vida, a quem interessar possa. Sem confronto – alma, o que quer que seja. A coisa, exposta. Desinteressante. Boba, na falta de palavra mais inteligente – mais cuidadosa (ou misteriosa – dependendo de quem lê). Maria Mariana, despudorada – fingidora. Gracinha. De calça furada, de verdade. Mas falsa – usando das mentiras que me cercam, as que uso quotidianamente, pra criar o monstro imaginário que compartilhamos. Sou artificie, iluminada pela possibilidade constrangedora, mas não menos possível, da ignorância. Da idiotice, pura e simples. Desconcertante. Não imagino, vivo. Daí, o constrangimento. Quando transponho a farsa que vivo e que sou, não ajudo a construir o legado que vai quebrar o pacto da morte – não faço nada pra literatura, graças a deus e pelo bem dela mesmo. Sem arranhões, nem em mim – que me preservo de mim mesma, convalescente sempre – nem em algum lugar. Sempre doente, sempre melhorada – refeita, indiscreta, altiva, mulher (fodona, diria, se não buscasse um rebuscamento no estilo – mesmo que falso, mesmo que um arremedo, uma tentativa desesperada). Fortuna, o nome. Fortuna crítica. Sou crédula, fiel a cartilha dos menores. Sou leviana comigo, com o que escrevo e com o que cultuo – a ponto de não me resignar (mas se não o faço é por pura ignorância e, daí, o constrangimento que cerca o que escrevo). Sou tímida – letra, carne, sangue. Tenho medo – não arrisco, jogo pelos que tem tesão (escrevo aqui e ali uma sacanagem sem desvario, sem prejuízo pra quem a gera ou toma pra si). Jogo em favor de meus fiéis leitores adolescentes – da minha fiel torcida organizada (que não sabe ler, como eu – que não sei escrever e, portanto, remendo). Sou uma Maria Mariana sem auto-ajuda, sem auto-estima – enfim, sem todos esses psicologismos que inventam por aí. Sem a segurança que uma faceta empresarial demanda. Sem tino comercial. Sem apelo. Sem máscara, afinal. Sem literatura. Pobre. Alma? Não trabalhamos. Escondemos tudo, mostrando o que realmente é. Sem esforço, sem perigo. Não há trabalho. Despejo no papel frases que talvez façam sentido. Premeditado mesmo só os clichês. Jovem, atormentada, blasê – bebericando com algum charme, sem salto altos ou emoções verdadeiras. Escondida atrás de um suposto processo criativo – que lindo. Não há nada. Duvido da pele, das vísceras, da alma. Duvido de mim, mas continuo. Sem sentido. Niilista, na minha maior pretensão. Mas não consigo andar por aí sem culpa. Há alguém, uma pessoa, que leva a sério tudo isso. Tenho medo. Não valho a pena, queria dizer. Nada vale – a alma, antes pequena, nem mais existe. Talvez viva a grande libertação, um momento de lucidez: sou estúpida, ignorante, despreparada. Pretensões em demasia é que atrapalham tudo. Se eu apenas fosse, sem deixar o que quero ser interferir, talvez ainda houvesse uma maneira. Maneios. Uma retórica que se descontrói. Não sou possível, não percebe? Não sou. Simples assim. Desvaneço em minha própria apatia. Tomo banho quando tenho vontade – junto sujeira atrás do ouvido, tenho dores de dente horríveis (mas te preservo disso, apenas porque quero ser amada – confesso). O que resta? Nada, talvez. Nada que valha a pena, que justifique algum esforço. Leia, porque está escrito. Se não se espera nada, talvez se ganhe algo – não cabe a mim dizer (mesmo porque não saberia dizer). Sou constantemente atormentada por um monstro, uma coisa, que vem me visitar, que chamam eternidade. Mas não sou digna dela. Ela me visita apenas pra me atormentar – pra dizer que é possível. Mas ela foge – eu sei que não vou conseguir segurá-la, captar aquele momento em que ela se revela, sei que ela é inalcançável pra quem a persegue, que é impossível pra quem deseja. Mas eu a persigo, persigo o tempo também e tento dialogar na minha própria língua – que não é a língua do tempo. Tento, não posso negar. Pareço idiota a cada nova tentativa – uma espécie de masoquismo juvenil, pouco perigoso, me impõem essa jornada. Não arrisco, nem jogo limpo. Sou uma escrota – sem pudores, meu deus, sem estilo, também.
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