Ao sondar minha Dor, qual se chorara,
Pedi: — “Cristãos, vede meu mal traiçoeiro!”
Mas os homens sem fé, no mundo inteiro,
Ver não quiseram minha sorte amara.
Cheio de nojo, procurei uma ara.
E implorei: — “homens d’honra, a mim, primeiro!”
E, de tanto fingido cavaleiro,
Nenhum, para me ouvir, volveu a cara.
— “Filantropos, — chamei — predicadores,
Moralistas, filósofos, doutores,
Consolai o meu íntimo desgosto!”
Não se ouviu meu gemido suplicante...
Gritei: — “Canalhas!” e, no mesmo instante,
Todo mundo me olhou, voltando o rosto!
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HUMBERTO DE CAMPOS (1886-1934)
de "Poesias Completas"
Cantos de amor, de contemplação da humanidade e da natureza, com destaque para a vida amozônica. Também fala da dor e transforma sua própria dor em poesia, de forma digamos, "resignada", exceto em "Grito", que destoa um pouco do conjunto dos seus poemas.
"Grito" continua muito atual, convenhamos.
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