Usina de Letras
Usina de Letras
166 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62165 )

Cartas ( 21334)

Contos (13260)

Cordel (10449)

Cronicas (22531)

Discursos (3238)

Ensaios - (10349)

Erótico (13567)

Frases (50574)

Humor (20028)

Infantil (5423)

Infanto Juvenil (4754)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140791)

Redação (3302)

Roteiro de Filme ou Novela (1062)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1959)

Textos Religiosos/Sermões (6182)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Contos-->O Solucionador de Si Mesmo -- 27/04/2005 - 10:33 (won taylor) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
http://www.orkut.com/Home.aspx wonderli@hotmail.com (Meu MSN)


Prólogo



O ‘Solucionador de Si Mesmo’ surgiu em meio as minhas duvidas se estou seguindo o devido papel que me foi permitido viver aqui. Deparei-me com questões que antes seria impossível confrontar; duas delas eu vou adiantar aqui: ‘Quem sou eu e o que faço aqui?’

Comecei relembrando minhas origens, talvez ali estivessem algumas respostas, e que rapidamente fosse encontrar o fio da meada e ali eu pudesse encontrar os erros que se seguiram até o dia presente, e que tornasse minha vida triste assim. Constatei que não houve um fator sequer que me levasse o porquê desses ‘aqui e agora’. Algo me faltava, mas nada encontrei no principio, nada além do verbo.

Meu vazio; minha insegurança; minha indiferença e minha miséria. Pensei então que não pudesse não estar tão distante assim e retornei até a minha infância, e surpreendi-me ao me encontrar tão feliz. As brincadeiras de crianças; os grupos de amigos; o melhor amigo; os lugares onde brincava (engraçado como os lugares parecem enormes quando somos pequenos); a escola e a merenda na lancheira. Ah, eu poderia ter morrido lá e seria um modo divino de deixar a vida no auge.

Então tive que rever minha vida depois de adulto e essa seria a minha chance de encontrar a tristeza que me abateu ou os motivos que me deixaram assim. O primeiro ponto que peguei para minha busca foi à frustração, esse sentimento que aumenta o peso em nossos ombros a cada passo que damos, mesmo se encontramos o que muitas pessoas dariam a vida para ter, amor, profissionalismo, e família unida.

O que mais nos deixa frustrados? Uma questão delicada, podem ser as perdas que tivemos ao longo do caminho, as mentiras que se apossaram de nós, por nós e por outros. É, esse ponto é fantástico em nos deter e mudar o que sentimos antes desse sentimento chegar até nós. Embora todos nós possamos cantar ainda nos faltaria o progresso do dom, e quando profundamente escalamos as notas nos falta ar nos pulmões e nos sentimos sem graça ao não ser bem sucedido na tentativa de cantar.

Fico com uns que acho que envolve tudo em partes: ‘Ser o que não somos; ter o que não temos; fazer o que não fazemos e lembrar o que não esquecemos. Complexo demais esse sentimento, que é conectado a coragem; a confiança; ao medo e a outros sentimentos, que parei a minha descida a esse ponto tão comum a vida da gente.

Acontece porem, que nascemos com um dom perfeito; o de amar. Então fui direto ao ponto: O Amor.


O Autor


















Ao passar dos nossos dias nos envolvemos em minuciosas atitudes, mesmo que às vezes não nos leva a nada, além do que um passar do tempo. E colocamos toda nossa energia no nosso dia presente e nos limitamos a contar o relógio com as mesmas vinte e quatro horas de sempre (uns com mais tempo e outros com menos tempo), embora as regras do tempo não se mude e cada um faz do seu dia um modo único de se seguir em frente!
















Wonderli taylor












Introdução

Ao atravessar a rua um carro passou rente a mim, e freando, deixou marcas de pneus no asfalto e aquele cheiro único de borracha queimada e com aquele olhar que nada enxerga, eu tentei ver o que acontecia, e por instantes, minhas pernas ficaram desobedientes, e não conseguia continuar ou retornar. Parado e hipnotizado pelo medo, ainda olhei o motorista, que parou o carro no meio da rua e abriu a porta e saiu para fazer gestos obscenos em minha direção e meus ouvidos meios lento não distinguia as palavras que ele vociferava.

Levei meu corpo ao outro lado, antes que um outro veiculo terminasse o serviço que o outro começou e sentei-me no meio fio e apoiei os braços para trás e ergui a cabeça aos céus e como agradecendo a Deus, pensei: ‘ Obrigado até aqui’.

O motorista não contente em ficar a meio metro de distancia veio a mim, tentei levantar-me e correr, mas minhas pernas pesavam e nesse instante já havia curiosos demais por perto e não me deixariam que eu apanhasse ali. O motorista se aproximou e olhou-me nos olhos, a minha palidez o fez recuar.

__ Você está bem? - sua voz ficou murcha depois de ver-me tão pálido

Logo juntou os curiosos e foram o empurrando com violência desnecessária, e ergui o corpo meio que cambaleando e me pus à frente daquele homem, não havia necessidade daquilo, era estranho o fato de que a maior parte das pessoas presente nem sabiam o que havia acontecido e queria extravasar um ódio que não tinha sentido de ser.

__ Vão embora! – gritei mas era tão pouca voz que nem pude ser escutado por mim. Assustei-me com o que meus olhos viam e agarrei-me ao senhor e implorei para que eles se afastassem dele e eu gritei que eu era o culpado, que atravessei a rua pensando em suicídio.

Pronto todos se entreolharam e no meio da confusão, pude ouvir alguém dar um berro e vir em minha direção, era uma senhora de uns 49 anos e tinha a estatura mediana, com os cabelos presos num coque e as pernas arqueadas. Parecia que tinha vindo de uma liquidação no supermercado ou se vinha de um matadouro. Ela me apontou o dedo e disse que eu nem tinha idade para pensar em algo terrível,contra minha vida, e eu me protegi no motorista e disse que ela então estava certa, porque eu achava que ela já tinha passado da idade de atacar as pessoas e que ambos estávamos errados.

Todos deram um passo para trás e eu tomado de coragem comecei a falar a cada um deles, e disse que se eu tivesse conseguido o que pretendia, eu teria dado tanta dor de cabeça aquele motorista, que além dos problemas jurídicos, ainda teria a consciência que o atormentaria, por tirado a vida de uma pessoa.

E disse que s eles então fizessem aquilo que pretendiam, cada um deles levaria as imagens para suas casas e ficariam retidos nesse ódio e assim fariam que seus pensamentos virassem tormentas e perguntei se alguns deles já tinham feito aquilo antes, sentido a morte de alguém por suas mãos e se aquela seria a justiça correta. Não houve respostas, apenas o silencio, e agarrado à mão daquele senhor, caucasiano de aparência cansada e assolada, de queixo apoiado no peito, à cabeça caída. Olhei toda multidão se afastar e o conduzi até o carro e me despedi dele, com um pedido de desculpa e um abraço.

Não era assim que eu teria que dizer adeus ao jogo que minha vida se tornará, e parei e sentei, agora num galho de uma velha arvore e olhando para baixo pensei em tudo que sei que nunca vai morrer e no que eu havia me transformado. Lembrei-me de como as pessoas mesmo enfurecidas me olharam como se eu fosse um doente mental, e acho que eles mais se afastaram de mim, pelo medo de se contaminarem do que pelo que eu disse.

A partir daquele ponto resolvi o que faria da minha vida, e ter perdido toda minha família num acidente de carro há dois anos me fez passar de menino para homem sem que tivesse visto ou mesmo que eu tivesse me preparado e apenas não entendia como virar as costas e seguir estando tão sozinho. Iniciava meu dia sem me assentar em lugar nenhum e chegava assim até o resto do meu dia, e não havia nada dentro de mim que se movimentava, nem minha pouca idade e nem a faculdade que iniciei. Os poucos amigos, que circulava em minha esfera conseguiam me entender e os outros apenas morriam de pena de mim.

Isolado em minhas tentativas de entender, eu acabei por fazer o oposto do que pretendia e me coloquei numa concha onde nem eu podia atingir mais. Meus por quês e as respostas que não vinham no meio da madrugada, só fazia aumentar minha dor interna; paralisante; congeladora e insana. Não havia mais em mim, vontade ou alegria em continuar e depois de levar tantos dias adiante sem apenas entender o que havia sido posto diante de mim ou algo que me fizesse acreditar em tudo que acontecia.Eu não sorria com o sorriso verdadeiramente honesto e isso apenas não chegava dentro de mim, e não mais escutar “eu te amo, meu filho”, trazia para mim uma falta de perspectiva que era insuportável e eu sabia que isso não aconteceria mais e embora aceitando, eu não conseguia evitar a tristeza que se movia dentro de mim.

Pensei que fosse acontecer uma hora e aconteceu então: tranquei minha matricula na faculdade e tranquei também as portas da minha casa e deixei tudo para trás e embora às lembranças me acompanhassem e me observasse, eu sabia que eu completaria um ciclo e se tivesse alguém eu poderia até dizer meus planos sem me perder, mas o fato é que só havia dona Rosa, uma vizinha que sempre me dizia “Não tire sua vida essa noite apenas, sobreviva a ela e estarei aqui!”. E eu às vezes ria com ela, uma senhora adorável que certamente me lembrarei e verdadeiramente não a desapontarei.

Passei no barbeiro e iniciei meu plano pedindo que raspasse meus cabelos e durante o trajeto até o próximo estado, onde eu pretendia começar a apanhar minhas respostas, retirei as sobrancelhas, e com meu físico esquálido, seria fácil ser tomado por um cancerígeno em estado de quimioterapia. De alguma forma eu esperava que nada do que queria se passasse como uma mentira, e que no final a magoa não chegasse e nem a loucura dos meus atos, e esse era o primeiro ato: Eu seria um portador de câncer numa cidade desconhecida e em meio a pessoas desconhecidas e assim viveria entre elas e em seus universos paralelos.




Primeira Cidade

A cidade escolhida ficava a 800 quilômetros da minha cidade natal, o nome do estado manterei em segredo, a cidade chamarei de Esperança. Pouco mais de vinte mil habitantes e uma vida cotidiana normal, mas meu trabalho não é ser guia turístico, e descrever uma cidade do interior é descrever todas; praça central; a igreja católica oponente; pessoas que vão ao trabalho e pessoas que vão a escola; sem cinema e apenas a praça como ponto de encontro; sem praia havia um rio, e assim era Esperança, perfeita.

Logo na minha chegada, uma menina se aproximou e pegou em minha mão e disse; ‘Jesus está te perdoando!’ E eu sorri da falta de conceito daquela pequena menina, como ser informada de algo tão poderoso, e eu pensei que Jesus pudesse estar humilhando alguém pondo câncer nessa pessoa. Mas ao olhar o rosto daquela menina, não sem deixar de perceber os azuis de seus olhos ou o negro de seus cabelos ou o curto vestido que não dava a ela um aspecto religioso. Embora sua voz curta e baixa parecia ser vinda do céu e como todos nós perdemos algo nessa vida, ela também podia ter se espelhado nessa perda, e estar sendo gentil à imagem que via em mim. Afastei-me sem olhar para trás e me direcionei ao único hotel que havia ali, a viagem de ônibus havia me tirado as forças e fui o mais rápido possível para cama. Lá chegando, deitei-me e revi meus planos e pensei que isso faria meu coração se encher de amor e pela primeira vez em dias adormeci sem meus remédios.

Acordei no meio da tarde e fui conhecer a cidade e saber se estava agindo certo, eu não sou ateu e nem agnóstico, acredito em Deus e em seu filho Jesus, mas não me alongarei em crenças. Chegando na praça, sentei ao lado de um garotinho que olhava minha cabeça e soltava um risinho, leve e feliz. De repente, uma mulher bem arrumada, vestindo uma blusa azul clara e jeans, se aproximou e ajeitando os cabelos longos que pareciam ferir-lhe a face e desviando os olhos azuis de mim (nossa, outros olhos azuis! Ou vendiam lentes em promoção ou os genes da cor morava aqui também), a mulher se abaixou e pegou na pequena mão daquela criança e a puxou como se evitasse o contagio.

Resolvi dar uma volta pelas ruas mal calçadas daquela cidade e pude ver como as pessoas desviavam seus olhares e que algumas não conseguiam desviar os olhos e voltei para o hotel e como era inicio de ano no outro dia eu iria procurar uma escola e cursos. E eu não me sentia arrependido pelo que estava fazendo e eu sabia que eu procurava algo que fizesse meu coração voltar a bater. Voltei a dormir bem, e acordei disposto e sai cedo, acho que queria apanhar as expectativas e conhecer esse mundo que me passa tanta desilusão ou mais do que eu possa aceitar.

Na escola, sentado no banco, não havia um olhar sequer que não viesse em minha direção provocando desconforto e quase uma hora depois fui chamado a sala da diretora. Uma senhora bem apessoada e com um ar de quem tem um rei alojado em sua barriga, e novamente os olhos azuis, e não pude evitar de pensar: “só pode ser lentes! Vou comprar um par para mim!”





__ Olha, eu vou ser direta! Nós não podemos aceita-lo aqui na escola! – como ela pode ter dito aquilo olhando os papeis que estavam em suas mãos.

As explicações que se seguiram não tinham fundamentos e dizer que não haviam professores preparados e que os alunos ficariam assustados com minha presença eu pensava: ‘será que eu os esmagaria os ossos se tocassem num deles?’. Bem, levantei-me e estiquei minha mão em direção àquela senhora sensata e cristã, que se levantou em pânico e me sorriu amarelo, sem tocar em minha mão.

Quando eu sai da escola, eu estava completamente pronto para enfrentar o curso de informática e assim terminaria minha busca ali naquela cidade. Novamente um chá de espera, quase quarenta minutos e as confabulações do outro lado do balcão e o mesmo entra e sai da sala principal. Enquanto pelo corredor, as pessoas passavam coladas à parede e eu ali, com meus dedos na boca e movimentando a cabeça, de um lado ao outro e pensando quão vergonhoso eram aquelas pessoas e pro que eu estava me permitindo passar por aquilo, mas no fundo eu sabia que tinha que ser daquele jeito e que eu tinha que ficar lá.

__ Olha, sinto muito. Ao verificar aqui. Nós não temos mais vaga ao curso que você procura! – disse à secretária que aparentava ter uns 17 anos e foi escolhida para ser a portadora da emissão da mentira.

Fiz um gesto com a cabeça que concordava com aquela encenação e não seria a última vez que faria aquilo, já que ninguém me conhecia ali. Fui dar uma volta e não sentia magoa e apenas pensava: ‘onde seria a casa de quem está doente?’ Claro que eu poderia brigar e fazer valer meus direitos, mas estar amparado por alguma lei seria obrigá-los a me aceitar e seria o mesmo que querer ter olhos azuis depois de ter nascido com os olhos castanhos.

Corações e mentes fechados e nenhuma tentativa de aprender algo novo, a crença afastada das almas e um sentimento de proteção contra algo que nem sabiam se podiam atingi-los, mas era melhor atacar antes que se defender. Passei vinte dias naquela cidade que aceitou tão bem a minha visita, que devem ter dado uma festa quando me viram embarcando num ônibus rumo a outro estado. Mas, houve aquela menina de olhos azuis que veio a mim, e novamente na estação, olhou-me nos olhos e me abraçou e sorriu e deixou uma lágrima escorrer pelo rosto branco e oval.

Toquei em seus olhos e depois em seus cabelos presos e atentamente a sua expressão, eu vi o amor em seu rosto e mesmo em seu sangue e naquela hora quem chorou foi eu, e estava partindo para um outro lugar onde haveria mais pessoas com aquela linda menina, mas antes de ir deixei algo que escrevi e que pensei que não fosse mostrar a ninguém. Então ela leu e chorou um pouco mais e disse que seu pai era proprietário do jornal da cidade e me pediu dez minutos e foi e voltou com uma maquina e pediu que o motorista do ônibus tirasse uma foto nossa. E me deu o telefone para que eu ligasse para ela informando meu endereço, para que ela mandasse o jornal para mim, onde estaria a nossa foto e o que eu havia escrito, que deixo aqui para que você possa ler:







< Dizem que a falta de atenção desfigura uma alma triste e sangra o coração quando se toca num esconderijo onde os cortes parecem que são os únicos remédios para o cansaço e a falta de carinho que se espalhou em nossa volta e como se tudo fosse tão perfeito e viver tentando explicar pra quem não quer saber e a agonia do mundo que rouba tudo que estamos acostumados a ter e essa injustiça que sentimos, essa maldade que insisti em nos perseguir e nos tira a alegria de sorrir; mas há uma luz que pode nos destrancar da gaiola onde estamos e clarear o nosso esconderijo.

Vivemos em dor e passamos a acreditar nela e a tomamos nossa amiga e tudo que fica pra trás deve ser internado e isola e nossas lembranças morrem e apaga em nossa mente os cortes que nos rouba o que temos pra sorrir, mas como ser tão destemido se toda essa dor não para de doer o tempo todo e nada que se tente é mais forte do que essa dor; mas aparece a loucura de quem quer tentar com palavras e carinho e isso nos assusta e tentamos fugir e escapar achando que nada vai adiantar e isso é um erro, esse não tentar.

A gente foge e se esquece que todos os sentimentos nos alcançam e nos prende em nós e isso se alimenta do que temos em fraqueza e sentimentos e marca tanto o nosso corpo como a nossa alma, e nada é como se parece e mentimos quando dizemos que estamos bem assim. Se os anjos que se afastam da nossa estranha proximidade da morte e nos deixa isolados por medo de tentar e içamos com a injustiça desse mundo e sabemos que não somos loucos, e nem pássaros pra ficar preso em nossas próprias armadilhas e queremos fugir pra ver o sol nascer.

Nossas fugas já entraram em nossos desesperos e tentamos pedir calma e proteção e tudo fica lento e não estamos mais com paciência de esperar que tudo funcione e que a dor vá embora quando nos cortamos, mas ela não vai e volta sempre e onde erramos e temos que ceder aos olhares de quem nem se interessa por nossa loucura e nossas frustrações, como se nós fossemos diferentes e invisíveis, mas existe sempre alguém que sabe e entende e quer ficar ao nosso lado e se importa de verdade, melhor do que qualquer tratamento; é um abraço verdadeiro sem a força e com vontade; que nos enxugam as lágrimas de nossas almas doloridas e nos trás de volta ao que é luz e que nos faz voar de volta ao que antes era alegria e sorriso.>


“Para todas as meninas e meninos, que vivem em dor, assim como eu vivo, para que tentem e lutem para que tudo isso possa ir...”











Segunda Cidade


Nosso mundo desconhece a dor que nos parte em milhões de pedaços e avançamos sem saber que o que pensamos estar em nossas mãos está escorrendo por entre os nossos dedos. O amor que sentimos não consegue alimentar duas pessoas e nos joga em caminhos onde é difícil resistir ao que temos de tão cego e lento; e não nos conduz e nem nos leva a lugar nenhum e nos faz ver que não temos ninguém lutando ao nosso lado. E que estamos sozinhos com nada a dizer que tudo vai acabar bem.

Acreditamos que tudo que sentimos seja lógico, mas palavras mudam o que sentimos e nos esfaqueia as costas quando estamos desprevenidos e nada muda aqui e envelhecemos os sentimentos tornando-os inalcançáveis e abatidos em nós. Precisamos da nossa força como antes de perceber que já não somos mais o livro favorito ou a água mais bebida da fonte que nos alimentava. Às vezes condicionamos a vida numa estante e deixamos de admirá-la e dar sentido a ela, valor necessário.

Passamos tempo demais alimentando algo que já perdemos e perder algo tem várias fases, e nós não deixamos que isso se vá aos poucos como tem que ser. O tempo não passa pra nós que estamos presos aos dias que no céu tem duas luas e tudo se passa tão lento, até a poeira morre quieta. Buscamos uma saída e tudo que sobrou foi uma imensa tristeza, que gruda em nós; e nos mantêm atordoados e sem rumo pra voltar a ser feliz!

Pra nunca mais esperamos passar por tanta dor e deixar que o sol volte anos iluminar é o que tentamos, mas olhando pra trás percebemos que deixamos tanto de nós mortos em algum lugar. E ver que nem assim estamos voltando pra nós; que deixamos que essa dor se aloje onde não temos coragem de tirá-la e alimentamos com nossa floresta de sentimentos e esquecemos que o nosso sorriso pode abrir uma floresta inteira; apenas com o nosso silêncio poderíamos incendiar uma cidade inteira, mas é o nosso grito de dor que acorda todo o país, nas noites em que não conseguimos dormir! Não deve ser assim tão difícil de passar e não é será se voltarmos a acreditar no amor; que só ele pode nos tirar do abismo em que caímos.


Comecei a minha estada na cidade nova, que ficava localizada no centro do país, cheio de esperança e fortalecido na mente. Lembrei do abraço da menina na rodoviária, e na minha infância, eu também havia dado um abraço assim. Meu melhor amigo havia pego catapora e estava isolado em sua casa e eu fui até lá e entrei em seu quarto e o vi tão desanimado em sua cama, e caminhei até ele, com seu pequeno corpo todo manchado de feridas e sentando-me ao seu lado, eu o abracei e ele ficou tão feliz. Chegando em casa disse a minha mãe o que havia feito e perguntei se seria preciso queimar minhas roupas, como a vizinha do meu amigo havia me dito. Mas, minha mãe me sorriu e disse que não era preciso nada disso e que se orgulhava da minha coragem e carinho. E como pude ter me esquecido disso por tantos anos?






Antes de chegar à cidade que chamarei de Simpatia, havia apanhado a cadeira de rodas que eu havia levado com as poucas roupas em minha bagagem e no ônibus vazio ninguém suspeitou de que eu entrara em pé e sairá numa cadeira de rodas, as vezes acho que falta mesmo o sentido de observação nos adultos. E sai logo da estação rodoviária antes que alguém pudesse desconfiar. Nossa como é difícil tocar uma cadeira de rodas, as ruas descaídas e as calçadas esburacadas e tudo fica diferente e distante quando você está sentado. Era noite e poucas pessoas circulavam pelas ruas e Simpatia era um pouco mais habitada do que Esperança, aqui haviam noventa mil habitantes; cinema e até uma faculdade.

Hospedei-me num hotel bem próximo à rodoviária, e começou meu desespero, os quartos ficavam no andar de cima e sem elevador, havia dois lances de escadas para subir. O recepcionista me olhou e se viu num dilema também, sozinho como me levar até o quarto? Fiz cara de descompassado e sorri. Chegou à camareira e me perguntou se eu queria que ela me ajudasse em algo e eu disse que não e pela primeira vez fiquei sem graça em ver aquelas pessoas sendo tão prestativas.

O recepcionista veio e me perguntou ao pé do meu ouvido se ele podia me pegar no colo e me levar até o quarto e meu rosto corou e ele disse que para que eu deixasse isso de lado, e que ele teria prazer em fazer aquilo. Então, eu sangrei pela primeira vez e quase desisti de tudo, mas Gisele, a camareira, se aproximou e pegou em minha mão e sorriu. Passado a experiência de ser carregado no colo e de ter agradecido tanto ao rapaz pelo eu esforço e o chamei pelo nome em seu crachá, Marcondes.


O que pensar da nossa vida sem pensar no amanha: Onde nos estaremos e o que estaremos fazendo? Tudo assusta e se sabemos que o nosso coração não está feliz hoje e se isso nos faz sentir um frio na barriga e vem um medo que nos faz querer ir para um esconderijo, mas não façamos do amor que estamos sentindo uma desculpa pra se esconder. Sei que nada é certo e devemos aprender que só então devemos lutar por algo que sabemos que vai durar em honestidade e sinceridade. E depois ter algo bom pra poder lembrar, sem ressentimento e ter um sorriso sincero e um amor pra poder recordar.

Quase acreditamos que em verdade esse amor fosse real, que transformasse tudo em castelos e princesas, mas a estupidez chega e destrói os nossos sonhos, e assim o que nos sobra é um tesouro de sentimentos que nos assombra e que nos condena. Devemos admitir que esse cansaço que sentimos agora; não é pra sempre e essa solidão que nos faz querer sumir, ainda faz com que tenhamos um coração forte e feliz, e que devemos sim, querer ser feliz.E esse medo de ter tanto erro, carrega o nosso peito e nos afoga em tanta desolação e fugas, mas pra onde devemos fugir? Senão pra dentro de nos mesmos e dali retirar a força que queremos pra nos libertar de um sentimento que só está nos deixando com um gosto amargo; denso; lento e pouco! Nossos segredos em instantes de colisão ao que agora nos leva a nadar contra a corrente e torna o nosso mundo real tão desigual. Honestamente ninguém nos ensina em como deixar que um sentimento se vá e mesmo em verdade ficamos com a certeza que amamos mais do que estamos sendo amado e isso não é o certo.


Pela manha, resolvi ficar na minha estupidez e no quarto por mais tempo que pude, até que Gisele entrou trazendo-me o café da manha e fiquei observando-a se movimentar pelo quarto e a vi apanhar a bíblia e colocar na cabeceira da cama e era como se ela dissesse: ‘venha e leia e encontre-se!’. Ela sorria em minha direção e fazia sinais com as mãos como se apontasse a mesa posta. Levei a cadeira até a mesa e a convidei para juntar a mim e ela deu um sorriso e agradeceu, mas sentou ao meu lado e perguntou um pouco sobre minha vida e falou um pouco sobre a vida dela. Resumi o que tinha me acontecido, visto que seria conduzi-la a uma estória triste e desnecessária e ela não precisava ficar triste com uma mentira, então a fiz rir dizendo que eu era preguiçoso demais para sair da cadeira.

Gisele tinha os olhos castanhos e rasos, uma cor morena que brilhava quando tocada pelo sol e não aparentava ter vinte e cinco anos e nem ter uma filha de quatro aninhos. Conversamos bastante e ela foi cumprir sua obrigação e fiquei no quarto por toda a manha e só à tarde depois do espetáculo da descida da escada.

Fui dar uma volta pela cidade e entre desvios e lojas sem condições de entrar e banheiros onde eu só podia mês mesmo usar se ficasse de pé e de tantas que foram as pessoas que ignoraram minha cadeira, e não em ajudaram a descer calçadas e subir. E lembrei que eu também sempre agi assim, como se não precisasse ajudar alguém numa cadeira ou mesmo um cego numa calçada, sempre pensava que estaria atrapalhando, que burrice! Poucas foram às pessoas que vieram ao meu auxilio, por Deus como as pessoas destroem suas condições de serem humanas e eu tenho a parcela de minha culpa e por isso o meu pesar.

A coragem que temos agora parece sentenciar a morte de nossos corações e já não temos mais como lutar contra o temporal que se transformou as nossas vidas. E tudo que entregamos em mãos que confiávamos e em palavras que nos curava, mas perdemos o nosso infinito e o nosso coração, que cansado não nos deixa ser capaz de sentir mais nada e fugimos sem ter pra onde ir e tudo que vivemos foi um sonho que acabou antes de deixar algo real em nós. Não há mais nada pra voltar, apenas algo que cada dia se vai um pouco mais e torna em cemitério a nossa mente cheia de fantasmas e mortos e tudo que nos incomoda fica latejando e vivo. Nossos erros que cometemos tão felizes e que acostumamos sentir a falta deles em dias sem fim. Quando acordamos e sentimos falta de não estarmos assim tão sozinhos, sentindo cansaço e sem nada para se segurar e essa tristeza tão exata que nos tira o que temos em voz e planos.

O que pensar do tempo que ficou pra trás? E da proteção que achávamos que tínhamos encontrado; por onde estão às cores de prata da lua de ontem? Queremos fechar os olhos e seguir, mas estamos presos num esconderijo com medo do sol amarelo e nada é belo de onde estamos e nem a nossa prudência nos faz saber se é melhor fugir ou ficar; nem o olhar no espelho nos traz o que antes tínhamos de belo e não conseguimos entender. Arriscamos de mais e perdemos demais e esse abismo que engole tudo ao nosso redor, vai levando tudo embora e não nos deixa ver nada além do que temos aqui dentro do peito; lembranças de um tempo onde o amor ditava as regras, que nem sabemos quem as quebrou e agimos erradamente e agora sabemos como é difícil saber entender que estamos tão sozinhos, e que a dor é maior do que se sente. Ninguém consegue ver como estamos e ninguém entende, como se toda essa dor fosse uma cena de anjos mortos, que se espalham onde pisamos e a alegria que começa agora está pelo avesso e o mundo tem que ficar mais feliz!
Depois de dias retornei a minha casa e apanhei tudo que eu tinha de luta e desafios, e refiz meu coração e consegui enxergar que meu mundo tinha que ter amor e assim eu poderia amar os outros e poder ser uma pessoa mais feliz e honesta. Liguei para Miryea, a menina de Esperança e dias depois chegou o jornal, com a nossa foto e o que escrevi embaixo e uma matéria onde dizia que “o amor tem que ser passado às pessoas, todas, até as saudáveis!”

Assim refiz os erros que cometi e descobri o que me prendia, era a falta do amor, amor esse que deixo aqui:


Quase acreditei que você fosse mudar e quando peguei todas as esperanças e espalhei pelas paredes da casa, veio um vento forte e as levou pra bem longe de mim e depois que você se foi ficou tudo tão diferente, parecia que já não era mais o mesmo lugar e por isso eu apanhei minha dor e me guardei e deixei todos os sentimentos onde você podia encontrar, mas você não quis voltar e os levou de volta pra mim. Então comecei a pensar que tinha que mudar e continuar a acreditar que tudo vai ficar melhor se eu prosseguir com minha vida e saber que o caminho que você escolheu, eu não podia mais passar.

E assim nossos passos nos levaram cegos e sem direção e sem insistir em voltar por não ter mais pra onde ir e preferi ficar sozinho contando os dias pra te esquecer e até chegar à hora que não vai mais doer. Cegaram meus olhos e sem você aqui tudo ficou tão cinza e não sei por que eu ainda penso em quando você estava aqui, se nada disso me faz sentir feliz, e quando chega à noite tudo que eu quero é esquecer do dia que ainda não passou.

Chegaram os ventos do inverno pra congelar meu coração e nem sei por que tudo isso aconteceu e nem porque perdi você aqui dentro de mim e foram tantos momentos que nem sei como apagar; e eu só queria ficar em paz e deixar tudo isso ir embora. Ainda sei que é assim que vai ser quando chegar o dia em que eu tirar você de dentro de mim de vez e transformar meu deserto numa floresta e nem o céu será mais tão sem cor.

Tantas vezes eu cheguei em acreditar que você fosse ficar pra sempre, mas tudo era só uma vontade que eu inventei pra passar o tempo e jogar um jogo de mentiras ao seu lado. Onde só eu ganhava e só eu perdia e mesmo atrás de uma dor eu ainda me mantinha feliz sem saber que tudo isso era apenas passageiro e que eu podia novamente ver o lado bom da vida e ter de verdade um sentimento que fosse seguro e forte e voltar a ter carinho e cuidados. Assim, eu venho tentando manter minha porta aberta para que o mesmo vento volte e traga minha felicidade pra mim.


O Solucionador de Si Mesmo

FIM
Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui