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Cartas-->Prazer em conhecer -- 27/06/2003 - 12:40 (Lúcio André Paiva) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Prazer em conhecer



Perdoa por não termos perguntado se querias vir
Afinal, vais ter de se ver conosco, nossas angústias, incertezas e fraquezas
Ainda tem o fato de que deste lado as coisas são meio estranhas
As pessoas em geral são estranhas
Mas não te preocupas, porque somos capazes de superar o que for

Não tenho fórmulas ou cartas na manga
Mas creio em algumas coisas
Não sei se são certas, mas vou te dizer mesmo assim

A vida é uma oportunidade especial, única talvez
Não vou saber te ensinar tudo o que precisas
Nem vou poder te dar tudo o que queria
Mas confia que seremos felizes

Acima de tudo permita-se ser feliz
Brinque, brinque muito, até não poder mais
Nunca deixes de brincar
Não te importes com o que digam
Não creia em crenças
Não tenha medo

A felicidade não se encontra em livros, diplomas ou medalhas
Mas há de se preparar
Também não se encontra em fortunas e tesouros
Mas se há de ganhar o pão

Temos muito a aprender, muito a fazer
Se pensarmos bem, temos o mundo inteiro pra conhecer
Mas tanto não é tudo
Te confesso que nem mesmo imagino o quanto

Mas também às vezes temos que fazer silêncio
Sim, o silencio é poderoso, importante até
Nos permite sair do mundo e vê-lo com a alma
Às vezes precisamos ficar quietos
Às vezes precisamos ficar a sós

Eu ficaria muito feliz
Se descobrisses o quanto é bom ficar
na companhia de um copo de vinho
Neste tempo todo em que te aguardava, muitas vezes eu fiquei a sós


Não espera muito das pessoas. Apenas as respeite e trate bem a todos.
Crianças, jovens, adultos e velhos.
Brancos, negros, amarelos e pardos...
Cristãos, mulçumanos, budistas e ateus...

Confia em si mesmo
Se for pra errar, que seja por ti
Nunca erre pelos outros
E só te arrependas do que deixou de fazer

Mas não deixe de ouvir os mais velhos
Não qualquer velho
Ouça os sábios
Mas você terá que ter sabedoria para saber
O fato de alguém estar há muito tempo na estrada não significa que seja bom estradeiro
A velhice, a experiência, assim como o conhecimento e a inteligência
Por si sós, não garantem nada
Se há de saber o que fazer com tudo isso

Teus tios, avós e padrinhos vão querer te ensinar as suas crenças
Aceita. Mas como aprendizado
Nunca aceites algo como verdade absoluta, porque ninguém é dono da verdade.
Ninguém mesmo.
Olha pra nós e perceba o quanto somos pequenos, frágeis, indecisos, medrosos....

Bem, bem, mas o mundo não é só coisas difíceis, ruins.
Aliás, acho mesmo que a vida é MARAVILHOSA!!!
Existem coisas fantásticas que podemos fazer, mesmo limitados pelo nosso corpo

Acredite, a coisa mais fantástica que eu consigo fazer é olhar nos olhos das pessoas sem medo.
Olhar nos olhos e sorrir.
Olhar nos olhos e querer bem às pessoas com sinceridade.
Eu gosto muito de um aperto de mão e um sorriso sinceros
Não vou conseguir aqui mostrar, mas acredite, às vezes as pessoas ficam sem saber o que dizer ante a demonstração de carinho, de desprendimento, de amizade.

Mas não é só isso.
O nosso corpo permite muitos prazeres
Oxigênio. Corra, corra muito e verás o quanto o ar puro nos dá prazer.
Água. Beba muita água, que é a essência da vida material
Na comida, vá com calma, mas às vezes podes te perder em alguma comida que a tua mãe ou tuas avós fizerem. Mas só às vezes!!!


Mas a gente também pode voar, nadar, caminhar, correr, andar de bicicleta, de automóvel, avião.
De tudo, o que mais me fascina é voar. Os voadores que não me ouçam, mas acho que o que atrapalha o vôo (em especial o meu vôo) é o próprio corpo. Tenho grande esperança que o meu maior vôo se dará quando eu não tiver mais de carregar este corpo. Não que eu não goste dele. Mas sinto – isso mesmo, é um sentimento – que quando me separar do meu corpo terei muita mais facilidade em voar.
Hoje tento voar num aparelho que não passa de um pano de chão que plana. Mas tudo é tão limitado, especialmente a minha coragem, a minha técnica, a minha competência. Mas vou tentando. Ainda aqui quero pintar os sapatos com pó de nuvens!!!!
Se puderes, voa, meu bem, que te fará bem e eu ficarei muito orgulhoso.

Por fim – puta, tinha muita a dizer, mas espero que no dia-a-dia possamos conversar muito mais –, vou te dizer o que quero de você.
Quero que você seja uma pessoa digna.
E a dignidade independe de todos os estereótipos que o ser humano seja capaz de criar.
Importante dizer que hoje não sei se você é menino ou menina!!! Tanto faz. Mesmo, acredite, tanto faz que você seja um menino ou uma menina. Mas, mesmo que seja uma menina, topas que um dia a gente compre um autorama? É que eu nunca tive um, e acho que seria bem legal a gente se divertir...bem, bem, mas até lá a gente conversa, né ???
Sejas um ser parceiro. Parceiro de seus amigos, de sua mãe. A sua mãe, ela é uma pessoa muito especial, que eu amo muito, que eu quero muito bem , para quem eu farei de tudo para sermos felizes juntos. Eu adoro ficar com ela e não é a toa que encomendamos você...he he he
Seja fiel. Eu não sei se você sente o mesmo que eu sinto. Sabes do que estou falando? Quem ler esta carta não saberá, mas espero que você saiba do que estou falando. Se sentires o mesmo que sinto, apenas me dê a mão e vamos caminhar no parque, ou pela rua ou pela praia.
E, mesmo em silêncio, poderemos nos entender.
Seja livre, mas acima de tudo, postule a igualdade. Não é mais possível vivermos em uma sociedade que se divide entre gordos e famintos. Entre brancos e negros. Pobres e ricos. Cristão e muçulmanos. Norte e sul, ocidente e oriente.
O planeta só sobreviverá quando encontrarmos o equilíbrio. Quando pudermos nos olhar mutuamente nos olhos e nos entender. Acredito muito na força de um olhar.
No fim, meu bem, o que resta e o que conta é o quanto fômos felizes. O quanto sorrimos. O quanto rimos. Os amigos que fizemos. Os momentos bons que passamos.
Deus queira que eu seja capaz de possibilitar a você uma vida digna. Que você possa viver e construir a sua própria existência. E que no final a gente se encontre pra curtir a eternidade. Porque o fim é apenas um outro começo.
Beijos, com carinho,
Lúcio.
10 DE NOVEMBRO DE 2002.

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