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Artigos-->2001: um filme para a metade direita do cérebro -- 21/02/2001 - 21:59 (José Pedro Antunes) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Embriaguês de imagens e emoções que não querem significar nada: "2001", de Stanley Kubrick, de volta aos cinemas



Simone Mahrenholz (DIE WELT online, 22/02/2001)

Trad.: zé pedro antunes





"2001 - Uma Odisséia no Espaço" é algo como o "McGuffin" da história do cinema. O significado, deste que é filme mais comentado em todos os tempos, até hoje vem sendo procurado em sempre novas investidas. E, assim, procede-se a uma busca por algo que, na verdade, intencionalmente o filme insiste em manter velado.

De acordo com Kubrick, o que ele pretendia era deixar para trás os domínios do sentido verbal, da lógica. Em entrevista concedida à "Playboy", em 1968, o cineasta declara que o filme tem por meta "uma experiência visual, que evita o pensamento verbal compartimentado, e, emocional e filosicamente, busca uma penetração direta no subconsciente. O filme deve ser uma experiência puramente subjetiva, que leve o espectador a alcançar uma camada mais profunda da consciência, tal como a música."

Uma experiência visual portanto, não-verbal. Mas os intérpretes não se cansam de tentar transformá-la em experiência verbal. No caso, é deste impulso em direção às mais longínquas profundezas da consciência que "2001" tira justamente esse seu fascínio duradouro. Situando o início do filme num tempo de que já não se tem memória - o "alvorecer da humanidade" em meio a uma horda de macacos -, o que Kubrick pretende é, inversamente, levar a consciência do espectador de volta às suas camadas centrais mais profundas, tanto do ponto de vista da história de sua descendência como de sua história individual.

Com isso, o filme acaba se transformando num caso para a pesquisa do cérebro humano. Retomemos a notável organização do cérebro humano em dois hemisférios simétricos: a metade esquerda é responsável, sobretudo, pelo significado e pela lógica da linguagem, bem como pela consciência racional. Já a metade direita elabora as imagens e as emoções, os espaços distantes, o movimento, a música expressiva.

Em vez de, como é habitual, dirigir-se a ambas as formas de consciência, Kubrick, radical, cria um filme para o hemisfério direito. Encena o movimento, o espaço, quedas, cria inesquecíveis imagens primevas de esferas e estrelas, tão semelhantes ao útero a ponto de se confundirem com ele.

Na tela, abre um espaço tão imensurável quanto o tempo. Cria seqüências com enorme carga emocional, mas, em termos de "significado", praticamente o mesmo que nada. A música libera um arsenal expressivo e se comporta, por vezes, ironicamente enviezada em relação ao conteúdo da emoção. E os fragmentos de ação, com suas breves incursões rumo à racionalidade da linguagem, batem fundamentalmente contra o nada.

Quase impossível se torna a mediação entre os hemisférios do cérebro. Nas categorias da lógica da linguagem, os acontecimentos são intraduzíveis. Ainda que infinitamente passíveis de interpretação, nada significam para além de si mesmos. Assim, efetivamente, se assemelham à música. Com suas quatro partes não muito firmemente costuradas - na verdade, quatro filmes autônomos -, o filme destrói a perspectiva de um enredo coerente.

Primeiro, macacos numa paisagem pré-histórica, sem vida. Um dia, brincando, um deles descobre, na forma de um osso, a arma com a qual primeiramente abate animais, depois, entre os de sua espécie, os inimigos . O osso, atirado ao ar em triunfo - um dos cortes mais famosos da história do cinema -, se transforma em nave espacial, a flutuar no espaço, introduzindo o segundo episódio.

Neste ônibus espacial, Heywood Floyd se dirige a uma estação espacial, onde deve fazer baldeação a caminho da lua. Neste "Hilton do espaço", a um grupo de soviéticos, nega informações acerca de ominosas ocorrências na estação lunar Clavius. E é para lá que ele segue viagem. Em Clavius, fora encontrado um monolito gigantesco - que, em inúmeros episódios do filme, vai surgir como único objeto.

A terceira parte contempla uma viagem a Júpiter na "Discovery 1", nave espacial conduzida por HAL, um computador que fala. Trava-se, então, uma luta de morte entre o ser humano e a máquina inflada de vaidade. O sobrevivente, Dave, atravessa um corredor do tempo em direção ao quarto episódio - por sua vez, uma das mais famosas seqüências do cinema: um vôo vertiginoso pelo tunel das cores, atravessando a psicodelia dos reflexos luminosos, uma viagem para a morte na dimensão de um sonho, opticamente inspirada na arte moderna. E tudo isso leva quase 20 minutos! Ao final, face a face, vêem-se um embrião humano e uma estrela.

Ainda que, com suas visões meticulosamente pesquisadas, Kubrick e, agora sabemos, seu co-autor Arthur C. Clarke tenham se colocado adiante do nosso tempo e criado algo que, de acordo com o expert em inteligência artificial Marvin Minsky, "em algum momento, entre 4 e 400 anos, passará a existir" - vale a pena ver sem falta este hipnótico sonho de vigília, pelo atrativo das formas longínquas de consciência e por sua estética atemporal.

Para os fãs de Kubrick e para os neófitos, fica a sugestão de um documentário feito por seu cunhado e produtor ao longo de tantos anos: "Stanley Kubrick - A Life in Pictures", com lançamento em DVD e vídeo anunciado para o segundo semestre deste ano mde 2001. Além de mostrar fatos da sua vida privada, o filme documenta, sobretudo, quão distante estava de ser apenas uma "boutade" a frase famosa atribuída ao cineasta: "Eu nunca sei como devem ser as coisas. Eu só sei exatamente como elas não devem ter."

A versão que agora chega aos cinemas dura exatamente 158 minutos e 9 segundos. Mas apenas 145 minutos e 43 segundos contêm ação. O resto consiste de música composta, na época, especialmente para o filme, a ser ouvida com as cortinas fechadas como "ouvertüre", "intermission" e "coda". O prólogo de "2001", que podia ser visto na "prémière" em Nova Iorque em 1968, e que (supostamente) explica o monolito, permanece no arquivo da família Kubrick - inteiramente de acordo com o desejo do mestre.

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