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Contos-->Fragmentos do Dia I -- 05/05/2005 - 13:01 (Ricardo Jorge Araújo Sousa Peres) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Tarde da noite, com o espírito intranqüilo, ouvindo o passar das horas no relógio da sala de estar. A escuridão é entrecortada pela luz dos postes que adentram pelas frestas da janela da sala, alguns ratos passeiam pela cozinha despreocupadamente entre as baratas que ali habitam. O ambiente é de insalubridade, paredes manchadas de banha, enegrecidas e teias de aranha compõe o visual, juntamente com panelas velhas e amassadas. A umidade é o que mais se sente, e tem piorado nos dias de chuvas, quando o odor de mofo, junta-se a “aca” de roupa mal enxuta e pendurada pelos varais da área de entrada.
Além dele moram ainda outras duas pessoas na casa, que na realidade não é dele e sim de seu tio. Um velho na casa dos setenta anos, que ainda tem alguma força nas pernas e nos braços, talvez pelos anos em que teve o preparo de um atleta, com costuma lembrar quando fala de seus tempos de árbitro de futebol no Distrito Federal nos anos sessenta. Alguns anos depois retornou à Fortaleza, para ser mestre de obras, como fora seu pai, um paraibano de Souza. Juntos, ajudaram a construir muitos prédios pela cidade de Fortaleza e vangloriava-se de ter ajudado à construir o Excelsior Hotel na Praça do Ferreira, Centro da Capital Cearense. Sr. Ribeiro era um homem que mesclava momentos de calma aparente e de angustia depressiva, nunca se sabia ao certo o que ele sentia, pois sabia muito bem ocultar seu lado mais intimo. Passava a maioria do tempo se ocupando dos afazeres da casa, e com isto não ficava ocioso, o que seria pior e o “mataria” aos poucos, com aconteceu com sua esposa que morrerá há alguns anos atrás, depois que se aposentou.
Ela trabalhara alguns anos como vendedora de balcão na lojinha de um parente importante nos meios social da cidade. E lá ficou por alguns meses quando conseguiu a muito custo uma colocação como servente na Assembléia Legislativa do Estado. O sobe e desce intenso e os horários à cumprir, lhe custara um pouco da saúde. Saía de casa junto com o marido Sr. Ribeiro, às 4:30 da madrugada e seguia de ônibus pela cidade até chegar à Assembléia Legislativa, de onde saia somente às 14:00 hs.
Ao chegar em casa, no Conjunto Ceará um dos bairros considerados distantes na cidade, pouco tempo lhe sobrava e após um antepasto, arrumava-se e seguia para o UV7, onde ralava ainda mais como Servente, limpando salas e banheiros do colégio de estado. Um erro na inscrição lhe prejudicaria para sempre, pois com o segundo grau completo e a formação secundária de secretariado, ela deveria ter sido lotada como secretaria num dos colégios do bairro. Talvez por maldade de alguma dessas servidoras despeitadas e cheias de afilhados políticos, como havia ainda nos anos oitenta, época dessas reminiscências. Todos esses fatores, acumulados além das preocupações infundadas que sentia em relação ao bem estar do marido e do sobrinho, que criara desde a mais tenra idade, haviam sido determinantes na doenças que lhe ceifara a vida...Hipertensão Arterial e finalmente um AVC no ano de 2001.
Lembrando tudo isso como num flash fantasmagórico de sua vida, sentiu-se com o coração apertado e seguiu para a sala de jantar, aproximando-se da janela espiando pelos postigos, a passagem da brisa e das horas.
Tinha um receio em relação àquela rua. Tinha dias em que o silencio sepulcral tomava conta do espaço lhe cortando a espinha como navalha luciferica, noutros dias não conseguia dormir pela gritaria que ecoava tanto na 729 quanto nas ruas adjacentes. Pessoas passavam em grupos, contando histórias ou contando vantagens. As vezes eram tiros, que mais tarde contariam tristes histórias de jovens descasados ou pais de famílias que tombavam por aqui ou por ali.
Tantas vezes ele voltava para casa, vindo de festas ou mesmo do pólo, apavorado, mais com o silencio do que com qualquer barulho que pudesse haver no espaço. Crescera naquele bairro, mesmo a contragosto da mãe que não queria que sempre estivesse por ali, na companhia do tio e da tia.
Uma brisa mais forte bateu pelos postigos resolveu ir para o quarto e tentar dormir, remoendo noutras parte da casa, pequenos fragmentos de sua vida.
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