O cara gostava de ler Aristóteles enquanto bebia whisky. Seu nome era MacPoulos. Mas ele gostava mais ainda de ficar vendo as suas pessoas – “minhas pessoas”, considerava – na televisão. Ou melhor, nas televisões, já que tinha duas, para poder ver em estéreo.
No entanto, MacPoulos não esperava que, um dia, uma de suas pessoas seria um hipnotizador. Distraído com a bebida e o filósofo, o cara acabou deixando se levar pelo “Você está sob o meu comando!”. O pior foi que a tevê saiu do ar e o mago sumiu dela. E Poulos ficou ali, sentado no vaso, repetindo “Sim mestre!” num estado de semi-catatonia. Só para explicar, o vaso sanitário ele instalara na frente do televisor por achar mais aconchegante, por remeter a sensações de alívio.
Naxi ficou de quatro rente à tela, latindo até ficar rouco. Depois de ficar rouco, continuou acoando porque a coisa era séria. Naxi era o cão de Poulos. Anaximandro, de pedigree . Os ecos de “Sim mestre!” misturados com os de “Au!” soavam para a vizinhança como um alarme esdrúxulo. Ou uma banda de rock experimental de Porto Alegre.
O que Naxi via no chuvisco da tela eram cães extra-terrestres. Eles formavam uma pirâmide canina. Três em baixo, dois no meio e um, talvez o líder, em cima. O alienígena do meio da base começou a abrir o focinho, liberando algo estranho. Mas logo Naxi foi criando lágrimas nos olhos. O que saía do focinho do cão ET era a alma de MacPoulos. |