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Artigos-->O brasileiro e os clichês -- 10/09/2002 - 22:53 (Leila S.) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Nós, brasileiros que vivemos fora do país, somos muitas vezes confrontados a situações em que os estrangeiros esperam, ainda hoje, um comportamento exótico de nossa parte. Para muitos, é exótica a nossa língua, é exótica a nossa literatura, é exótica a nossa música, o nosso clima, a nossa dança, etc. Logo, nós brasileiros devemos também ser exóticos. Temos que aplaudir o futebol, declinar o nome da seleção brasileira e sambar.



Muitos brasileiros por um sentimento patriótico ou algo parecido terminam reforçando todos os clichês a nosso respeito. Sentem como uma obrigação de corresponder ao que o europeu, americano e outros esperam de nós. Outros preferem mesmo a proteção dos clichês e não aceitam a mínima crítica ao país.



A escritora brasileira Patrícia Melo lembra que quando da negociação do seu livro O Matador, na Feira de Frankfurt ouviu de um editor estrangeiro que a sua história poderia se passar em qualquer lugar e que então não era literatura brasileira. Ela diz « Não sei exatamente o que ele esperava, talvez o carnaval, a floresta tropical, o futebol, Pelé, todo o imaginário folclórico que surge quando se trata do Brasil. »



Villa Lobos, já no seu tempo respondia com um grande cinismo e ironia às idéias preconcebidas a nosso respeito. Dizem que chegava a contar que conseguira se safar de um festim antropofágico onde ele seria servido como prato principal. Por causa de histórias do gênero, ele ganhou fama de mentiroso entre alguns, outros reconheceram aí mais uma faceta do seu bom humor e inteligência.



E verdade que o Brasil é o país do samba, cacau, mulatas, Ayrton Senna e futebol. Mas é também o país de uma literatura rica e desconhecida, de outros ritmos diferentes do samba e bossa nova, de uma extrema desigualdade social, de camponeses sem terra, de longas greves, da seca e da chuva em excesso e até mesmo de coronéis, coisa mais difícil de explicar aos estrangeiros, é bem verdade.



O patriotismo, a meu ver, não é nenhuma qualidade senão uma ocasião para se revelar a incompreensão do outro e um complexo de superioridade (ou inferioridade ?). Se levado a extremo todos nós sabemos onde pode culminar. Muitas vítimas de tal sentimento, ao longo de toda a história, são as testemunhas das graves consequências desses assomos.



O patriotismo e o nacionalismo são causas de muitas guerras, de separação de povos e por vezes mesmo de famílias. São normalmente sentimentos alimentados quando não criados por políticos inescrupulosos para chegar a seus maquiavélicos fins. A frase « Brasil, ame-o ou deixe-o » ainda está impressa na cabeça de muita gente. Nos anos 50 e 60 nos Estados Unidos era « Love it or leave it » que causava a sensação entre os patrióticos. Há alguns meses, na França podia-se ler « La France, aimez-la ou quittez-la ». Exatamente a mesma frase usada, agora, pelo Front National, numa evidente falta de originalidade. Como se vê, não é difícil reconhecê-los.



Além de tudo, «ser imigrante » é um caminho sem volta e de nada adianta tapar o sol com a peneira, procurar a proteção dos clichês ou se agarrar como um náufrago a um sentimento patriótico sem sentido. Essa é uma experiência da qual se sai transformado, em tudo o que isso implica de bom e de ruim.



« Ser imigrante, diz Salman Rushdie, é pertencer à única espécie de seres humanos libertados das correntes do nacionalismo (sem falar de seu horrível irmão, o patriotismo) é uma liberdadedifícil de carregar. »

Tão difícil que muitos brasileiros escolheram viver no reino do faz de conta.



leilasilva100@hotmail.com



http://cadernos-da-belgica.blogspot.com/
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