Vocês só vêem os tombos que levo,
não vêem as pingas que bebo.
Autor: Daniel Fiuza
08/02/2001
Guardadas na casa minha,
Dez garrafas de cachaça,
As melhores que eu tinha,
Fiquei sem elas de pirraça.
Minha mulher ordenou,
Para delas eu me livrar,
Foi isso que ela falou,
Sem chance de reclamar.
As dez cachaças guardadas,
Que na pia iria escorrer,
Era minha pinga marvada,
Aguardente pra eu beber.
Não adiantava argumentar,
Ela estava irredutível,
Eu tinha que derramar,
Ou o castigo era terrível.
Se elas estivessem cheias,
Eu não entrava no quarto,
Nisso a coisa ficou feia,
Sem a mulher eu não passo.
As dez garrafas eu levei,
Com uma dor no coração,
Elas na pia eu empilhei,
Para começar a operação.
A primeira na pia esvaziei,
Antes tomei um golinho,
Sentindo algo, pensei,
Beber só mais um pouquinho.
Na segunda bebi mais,
O resto foi para o ralo,
Essa coisa não se faz,
Queria beber no gargalo.
Quando derramei a terceira,
Bebi no copo que havia,
Para não fazer besteira,
Joguei o resto na pia.
Na quarta bebi na pia,
Joguei o resto no copo,
Meu corpo já nem sentia,
Pra acreditar, só com foto.
O quinto copo peguei,
Na pia jogue a tampa,
O que bebi eu nem sei,
O resto desceu a rampa.
Eu peguei a sexta pia,
Bebi pouco sem trapaça,
Um pouco no copo sumia,
Eu nem achava a garrafa.
A sétima garrafa, do resto,
O copo eu joguei na pia,
A cachaça estava perto,
Onde estava eu não sabia.
Joguei a pia oscilante,
Dentro da garrafa oitava,
Meu corpo cambaleante,
Nem o copo eu encontrava.
Quando a nona pia joguei,
No copo que estava plano,
Bebi na garrafa ate o meio,
O resto desceu pelo cano.
A décima garrafa entornei,
No copo que ali passava,
Na pia cheia eu me atirei,
Na pinga que ali boiava.
Assim perdi cachaça,
Mas conservei a mulher,
Pra pinga perdi a graça,
Prefiro o bicho de pé.
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