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Cordel-->OS TRÊS GRÃOS DE MILHO -- 17/09/2011 - 19:33 (Benedito Generoso da Costa) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
OS TRÊS GRÃOS DE MILHO

I

Sobre uma vida ilusória
Há um ensino certeiro,
Denunciando a todos nós
O fascínio do dinheiro
Na parábola de Cristo,
Nosso Mestre verdadeiro.

II

No episódio um fazendeiro,
E grande latifundiário,
Não obtinha o sustento
No seu trabalho diário,
Tampouco suava o rosto
Pra ganhar o seu salário.

III

Já se vê que era falsário
E no seu viver proposto
Descumpria o mandamento
Que por Deus nos foi imposto:
“Comerás teu pão diário
Com o suor do teu rosto”.

IV

Acostumado ao bom gosto,
Seu jardim só tinha flores,
Filho único e herdeiro
De um cabedal de favores
Desfrutava dos prazeres
De amores sem dissabores.

V

Sequer sabia de dores,
Seja do corpo ou da alma,
Sua vida era alienada
E rotineira a sua calma,
Pois ele sem trabalhar
Tinha tudo em sua palma.

VI

Só uma consciência calma
Jamais soubera o que é,
Tanto que uma grande safra
Deixou-o de cabelo em pé
E, ao invés de ficar alegre,
Perdeu a sua pouca fé.

VII

De tão preocupado, até,
Sequer ele conseguiu
Dormir durante a noite
E, quando o sol ressurgiu,
Convocando os seus servos,
Sua decisão transmitiu:

VIII

Eu digo a quem não ouviu:
“Este ano eu tive a má sorte
De uma colheita tamanha
Que dificulta o transporte
E os meus celeiros, receio,
Que a faina não suporte”.

IX

“Sei que terei de ser forte,
Por isso mesmo eu acho
Que os meus pequenos cílios
Deverão descer abaixo;
Construam outros maiores,
É minha ordem, despacho”.

X

“Da uva colha-se o cacho
Sem desperdiçar um bago
Não se perca o grão de trigo
Pois que isso é um estrago
Da aurora ao anoitecer
A quem me servir eu pago”.

XI

Li uma lenda e aqui trago,
Sabendo que é muito atual,
Sobre um nobre preguiçoso
Que gozava o bem e o mal,
Balançando em sua rede
Nos fundos do seu quintal.

XII

Num fim de tarde afinal
Do seu sono ele acordou,
Ouvindo o som de palmas
Que muito o incomodou:
Em um jumento montado
Um mendigo o despertou.

XIII

No seu orgulho pensou:
“Que peregrino indiscreto
Me desperta do repouso
De meu sono irrequieto,
Montado ante meus olhos
No seu jumento abjeto”?!

XIV

“Sou nobre e tens meu veto,
Estás num burro montado,
E de mim só se aproxima
O nobre em Cavalo alado;
Retira-te de minha frente
Sem Terra excomungado!”

XV

“Óh, meu irmão abastado,
Eu só lhe suplico um pão
Para matar minha fome
De justiça e gratidão,
Em troca eu toco na viola
Soluços de um coração”.

XVI

O sortudo e folgadão
Num pé de milho abraçou,
Depois de pular da rede
Que tanto o aprisionou,
Colheu três grãos da espiga
E aos pés do pobre atirou.

XVII

“Se a Deusa Sina negou
A você um de seus filhos
Sorte melhor que a minha,
Receba logo esses milhos,
Apanhe-os do chão e siga
Por seus tortuosos trilhos”.

XVIII

“Não quero ouvir estribilhos
Lamentados numa viola,
Pois sou filho da Fortuna
Deusa da melhor escola,
Tenho terras e talentos,
Esfuma-se com sua esmola”.

XIX

Pondo a viola na sacola,
Após levar mais um susto,
Partiu o pobre cavalgando
No seu burrico robusto,
Levando Três Grãos de Milho
E a consciência de um justo.

XX

Troteando, a muito custo,
Caminhou esse excluído,
Uma vez mais humilhado,
Ao seu recanto escondido,
Lá plantou sua esperança
Regrado a pranto dorido.

XXI

É legítimo ao excluído
Protestar e fazer guerra
Pra defender seu direito
De explorar a sua terra,
Seja pobre, preto, ou índio,
Que, trabalhando, não erra.

XXII

Mas o indolente se ferra,
Prisioneiro da ambição,
Pois que semeando vento
Colhe adiante um furacão
E tudo que entesourou
Não leva no seu caixão.

XXIII

O que importa é a questão
Do mandamento sagrado,
Que impõe ao ser humano
Comer o seu pão suado
E amparar o próprio irmão,
Como por Deus ordenado.

XXIV

Em sua ceia, descansado,
O patrão explorador,
Parasita e vampiresco,
Suga o sangue e o suor
E as lágrimas do pobre,
Seu servo trabalhador.

XXV

Peço desculpa ao leitor,
Pois que aqui faço ponto
Para retornar à rede,
Onde um ocioso jaz tonto,
Cansado de descansar,
Para o aprendizado pronto.

XXVI

Prosseguindo o meu conto,
Repito que quem semeia
Colhe sempre o que planta,
Mesmo que seja na areia,
É a lei da ação e reação
Que o Universo permeia.

XXVII

No ensino cristão a ideia
É um tento e outro tanto,
Porquanto perante Deus
Ninguém é justo e santo,
Mas quem explora o pobre
Recebe tanto e quanto.

XXVIII

Isso vale, entretanto,
Para o Sistema vigente,
Político ou econômico,
Religioso e oprimente,
A explorar nosso irmão,
Num negócio indecente.

XXIX

Aquele pobre indigente,
O esfarrapado andarilho,
Pegou a mísera esmola,
Apenas Três Grãos de Milho,
E prosseguiu seu caminho,
Um longo e estreito trilho.

XXX

O sol quente e com brilho
Iluminou o seu caminho,
Montado no seu burrico,
Como Cristo o jumentinho:
Na Jerusalém – Favela,
Entronizou de mansinho.

XXXI

Foi o início do Caminho,
De uma longa jornada,
Que até hoje prossegue
Sem uma data marcada
Pra chegar em Emaus*
E à ceia já preparada.

XXXII

Ao final de sua estrada,
E, á beira de seu barraco,
Cavou com as mãos a cova,
Fortaleza de um fraco,
Enterrou três grãos de milho
Num pequenino buraco.

XXXIII

Poucas espigas e um saco,
Depois de meses colheu;
O milharal foi crescendo,
Mais algum tempo rendeu
Um paiol de todo cheio,
Logo um celeiro era seu.

XXXIV

Tanto milho ele colheu
E uma fazenda comprou,
Pagou com sua colheita,
Seu lucro só aumentou
E, com os trabalhadores,
Sua riqueza partilhou.

XXXV

Ao seu algoz retornou
E o achou empobrecido,
Morando numa palhoça,
Tendo seu sítio falido,
Comprar a propriedade
Ele propôs destemido.

XXXVI

Pobre e já envelhecido,
Quem foi outrora ricaço
E, por ser um preguiçoso,
Sem nunca forçar o braço,
Entregou, pagando dívidas,
O seu penhorado Paço.

XXXVII

Recebeu ele um abraço,
Pós assinar a escritura,
Do comprador da fazenda
Num negócio com lisura,
Que fez questão de dizer
Com calma e compostura:

XXXVIII

“Tão só a verdade perdura,
Mesmo na gota do orvalho,
Que rega o que se planta
Com todo afinco e trabalho,
Deu-me riqueza a viola,
Três Grãos de Milho eu valho.

XXXIX

Fui pobre e, sem agasalho,
Na sua porta aportei,
Pedi um pão mas recebi
O menosprezo de um rei
E apenas Três Grãos de Milho,
Que no alforje eu guardei.

XL

Trabalhando eu prosperei,
Fui um obediente filho
E o Senhor me abençoou,
Já não sou mais andarilho,
Compro e lhe pago a fazenda
Com os seus Três Grãos de Milho".

Benedito Generoso da costa
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