Quando meu marido foi transferido de Curitiba para Ponta Grossa, tive algumas dificuldades para me adaptar ao meu novo serviço na Justiça do Trabalho. Em Curitiba eu trabalhava longe do público e aqui o contato era direto com advogados e partes de processos. Um dia, aproximou-se do balcão um senhor e eu, que estava sozinha no atendimento, apressei-me em atendê-lo:
- E o senhor?
- É o meu processo – respondeu ele, com cara de poucos amigos.
Percebi que se tratava de pessoa simples, por isso tentei facilitar as coisas, nem perguntando pelo número do processo:
- Qual o seu nome?
- José Maria de Oliveira.
O nome era muito comum. Eu precisava de mais dados.
- E qual é a empresa?
Percebi que o homenzinho respondeu com mais má vontade ainda. Atribui isso a sua simplicidade.
- Construtora Barros.
Falou tão baixo, que mal consegui ouvi-lo. Localizei logo o número do processo, porém, a pasta do mesmo não estava no local apontado pelo computador. Passei então a procurar em outros locais. Olhei pilhas de processos, voltei a consultar o computador, olhei em outras pilhas e nada. O homenzinho, para minha surpresa, esperava calmamente. Umas cinco pessoas já esperavam por atendimento e eu ficava cada vez mais nervosa.
Uns vinte minutos depois, aproximou-se um advogado. O homenzinho chamou-me. Fiquei firme esperando a bronca.
- Moça, por que não “faiz” perguntas “pro” “Dotôr”? Ele “tá” “co” meu processo. Você “quiria” tanto “sabê” dele.
E levantando um pouco mais a voz:
- “Miór”, “óie” você mesma, “ansim” você não fica “preguntando” da minha vida na frente de todo mundo.
O advogado não entendeu nada e entregou-me o processo. Fiquei de boca aberta me perguntando com quem estava a simplicidade, se com o homenzinho que não sabia falar direito ou comigo, que procurara por 20 minutos por um processo já entregue para tirar xerox, sem que ninguém, na verdade, precisasse dele.