Diz o adágio popular
Que o contista acha pronto
Tudo aquilo que conta
Por meio de algum conto;
Outro ditado acrescenta:
Quem conta sempre aumenta
No que conta mais um ponto.
II
Peço ao leitor um desconto,
Na verdade um perdão,
Se o caso que vou narrar
Já o conhece de antemão;
Dizem que nada se cria
E que tudo se copia
Com nova formatação.
III
Sua licença e permissão
Espero-as de bom grado
Para explicitar melhor,
No meu conto cordelado,
Porque o fogo faz fumaça
E uma piada só tem graça
Quando a conta o engraçado.
IV
Sem fazer-me de arrogado,
Busco sempre me pautar
Nas lições que eu obtive,
Porquanto em meu poetar,
De toda lenda que ouço
Faço antes um esboço
Pra em seguida versejar.
V
Não devendo prolongar
Esta minha introdução,
Eu entro agora no Tema
De mais uma narração,
Alertando que é preciso
Todo cuidado e juízo
Até mesmo na oração.
VI
Certo é que nos céus estão
Os Anjos dizendo Amém
Diante do Padre Eterno
Que é Pai e Juiz também,
Só que Ele só diz “sim”
Pra você e para mim,
Não diz “não” para ninguém.
VII
Deus confirma lá no além
Tudo o que é dito aqui
E os seus Anjos ratificam
Para quem chora ou sorri,
Se com fé pede ou deseja,
Não importando o que seja
Desde que queira pra si.
VIII
A parábola que ouvi
Neste instante se inicia:
Num reino n’algum lugar
Um trabalhador jazia
Ao sopé de um rochedo,
Laborando desde cedo
E cansado ao fim do dia.
IX
Nas costas o sol lhe ardia
De manhã ao entardecer
E ele com raiva e inveja
Quis no alto o Astro Rei ser
E se transformou no Sol
Da alvorada ao arrebol,
A queimar com todo arder.
X
Viu diante lhe aparecer
Uma nuvem densa e escura
E o Sol fechou sua cara
Frustrado e com amargura,
E almejou se transformar
Numa Nuvem a vagar
No espaço em grande altura.
XI
Mal pensou teve a ventura
De ser uma nuvem espessa
A tapar Sol, Lua e Estrelas,
Chovendo sobre a cabeça
De todo mortal da Terra,
Mas Deus corrige quem erra
Pra que aprenda e se esclareça.
XII
Veio um vendaval depressa
E a Nuvem se esfacelou
Só que ela muito orgulhosa
O Vento forte invejou,
Mal teve esse pensamento
A nuvem tornou-se vento
Que com mais fúria soprou.
XIII
Na Terra o Vento arrasou
E ao mundo meteu medo,
Fez estragos, destruiu,
Quebrou arbusto e arvoredo;
Mansões, casebres, barracos,
Deslizou para os buracos
Das encostas dum rochedo.
XIV
Só que ao soprar o Penedo
Descobriu sua fraqueza:
Para pôr abaixo a Rocha
Viu que não tinha destreza,
Sua frustração foi tamanha
Do porte duma montanha,
Uma enorme Fortaleza.
XV
Com inveja e tristeza
Não suportou o despeito;
Já que queria ser grande
E o maioral mais perfeito,
Desejou com fé tamanha
Ser essa imensa Montanha,
Pois se achava no direito.
XVI
Seu querer foi satisfeito
Naquele exato momento;
Viu-se o Vento de repente
Ser um Rochedo ao relento,
Agradecendo sua sorte
De ser forte como a morte
Que não mata o monumento.
XVII
Nada no mundo é isento
De alguma transmutação,
Porquanto nada se cria
E tudo é transformação,
Como um Sábio já disse,
Por isso mesmo a mesmice
Só muda a cara e feição.
XVIII
Quando aquele Paredão
Se achando forte e seguro,
Do alto ouviu um martelar
Que na base fez-lhe um furo,
Olhou para baixo e viu
Um pedreiro que exibiu
Seu Martelo firme e duro.
XIX
Sentiu-se logo em apuro
E pensou em se safar
De mais uma enrascada
Neste seu peregrinar,
No instante encabulou-se
E desejou que Ele fosse
Quem o estava a derribar.
XX
Por sua sorte ou asar,
Empertigou-se ligeiro
E acordou do pesadelo
Para ser um bom obreiro,
Pois que dormindo sonhou
Que a sua vida mudou:
Agora é um Feliz Pedreiro.
BENEDITO GENEROSO DA COSTA
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