De: -mara-
Para: silvioalvarez@terra.com.br
Data: Tue, 1 Jul 2003 15:08:41 -0300 (ART)
Assunto: Reportagem sobre depressão
> Oi
>
> Sou estudante de jornalismo e estou escrevendo uma matéria sobre depressão para a cadeira de estágio da PUC-RS. Gostaria, se possível, que você me respondesse algumas questões para completar o trabalho.
Estas e mais algumas. Vamos lá.
>
> - como você se descobriu (sintomas) com depressão?
A gente não descobre. A depressão descobre a gente!
Foi no início dos anos 90. Te mandei meu histórico, né?
Trabalhava a noite. Jovem. Era muito encucado e meu serviço de muita responsabilidade. Promovia eventos para o público teen em um clube conservador ao extremo com um salão para 3 mil pessoas. Cuidava da segurança, contratação de artistas, caixa, pagamentos, controle de público, convencer os diretores do clube que o evento seria viável e...
Para que tenha uma idéia cheguei a trazer 40 componentes da Escola de Samba Padre Miguel e cuidei de hospedagem deste povo todo, som, iluminação e todos os detalhes... Era muita responsabilidade e não conseguia separar minha vida da vida profissional. A vida profissional era minha vida. Trocava o dia pela noite e não relaxa nunca.
Meu pânico maior era evitar as brigas fatais neste tipo de evento que poderia fazer com que o clube desistisse deles. Passava as noites encucado. Comecei a ter insônia. Neste ponto adquiri o bar da boate do clube. Com isto era muito fácil após o serviço, encher a cara. Sempre deixava pra beber depois da 4, 5 da manhã. Nada saudável. O hábito surgiu. A bebida tirava o lance da encucação. Hoje não bebo e sei qual o mecanismo que me fazia beber. Só não caí nas drogas pois não tinham amigos ligados a elas, não tinha referências. Senão teria caído feio. Aí bagunçou o que já estava bagunçado. Comecei a ter síndromes do pânico. É uma sensação que vc vai morrer mas não morre. Horrível. Comecei a pensar em suicídio.
A primeira vez tomei uma caixa de comprimidos. A intenção: chamar a atenção para o meu problema. Você quer sumir sabe que está doente e todo mundo fica perplexo sem saber como te ajudar. Por que aparentemente você está ótimo. Fisicamente vc está bem. Isto é o que te deixa pior. Nesta fase comecei a ouvir os famosos: é frescura, foi falta de apanhar quando criança. (solicito que me pergunte mais sobre estes ítens para que eu possa complementá-los).
> - quais tipos de tratamento que procurou?
Se hoje a medicina carece de informação à respeito. Imagine no início dos anos 90? Quando soube que existia uma tal de síndrome do pânico comecei a consultar psiquiatras. Fiz terapia desde os meus 18. Chegava a um psiquiatra e sem qualquer exame apurado. Carimbavam depressão. Na época estava bem financeiramente. Fui para a cidade de Itapira - SP, onde mora um grande amigo e onde está o Instituto Américo Bairral de Psiquiatria. O maior da América Latina. Fiquei três meses internado. Foi auto internação. Cheguei na cidade, não tinham vagas. Fui para o hotel me tranquei no quarto e tomei duas caixas de comprimidos ainda receitados em São Paulo. Me descobriram no quarto e a vaga no hospital apareceu rapidinho. (gostaria de mais perguntas também sobre este tema para poder complementá-lo) Passei por oito internações ao todo. três relâmpagos em manicômios que são uma história a parte. Todo o lance de uma internação é uma entrevista a parte. Você fica lá naquele estado ultra sensível misturado a todo tipo de outras doenças mentais.
> - hoje você leva uma vida "normal"?
Bom. Estou em busca da Pedra filosofal que me responda o que é ser NORMAL????
Tenho depressão. Mantenho-a sob controle. Acabei de sair de uma pequena crise misturada com gripe. Sou assessor de imprensa de uma banda de rock. Moro sozinho. "cuido" do meu lar
e dos meus 18 filhos. 18 filhos foi brincadeira. Não tenho filhos e sou solteiro. Escrevo seis crônicas semanais e sou artista plástico. acho bom perguntar pro povo que me atura se eles me acham normal. Minha vida O Perdido na Metrópole está pra virar peça de teatro através de uma atriz da PUC - SP - Sandra Parra. Este mês é a estréia da crônica Perdido na Revista Possível, uma nova e conceituada Revista no eixo Rio-São Paulo> ( gostaria de poder te falar de alguma técnicas de administrar a depressão que desenvolvi, caso tenha interesse.) Digira o que te enviei e aguardo novas perguntas mais diretas, OK?
> Desde já agradeço a atenção.
Di nada! sempri às ordisss!
Silvio Alvarez...O depressivo que deu certo... Perdido na Metrópole.
Fiz uma busca na internet e encontrei um artigo teu no site Usina das Letras, falando sobre o assunto... tomei a liberdade de escrever porque vi que tu não tinha problema nenhum em falar sobre depressão (tentei entrevistar pessoas conhecidas, mas ninguém gosta muito de falar sobre isso.. o que é totalmente compreensível..)
Era isso. Espero a tua resposta.
Abraço
Mara
silvioalvarez wrote:
Claro Mara.
Posso responder o que precisar. Apenas gostaria de saber a priori como me encontrou? De início te envio um breve histórico e aguardo seu próximo mail.
De: -mara-
Para: silvioalvarez@terra.com.br
Data: Tue, 1 Jul 2003 15:08:41 -0300 (ART)
Assunto: reportagem sobre depressão
> Oi
>
> Sou estudante de jornalismo e estou escrevendo uma matéria sobre depressão para a cadeira de estágio da PUC-RS. Gostaria, se possível, que você me respondesse algumas questões para completar o trabalho.
>
> - como você se descobriu (sintomas) com depressão?
> - quais tipos de tratamento que procurou?
> - hoje você leva uma vida "normal"?
>
> Desde já agradeço a atenção.
>
> Mara V...