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Contos-->O último assalto -- 30/12/2000 - 17:30 (Cláudia Azevedo) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos



Carolina preferiu permanecer em casa. Seus pais e sua irmã haviam saído para o aniversário de sua tia em uma cidade vizinha e chegariam um pouco mais tarde. A noite estava fria e quieta. O silêncio era quebrado apenas pelo barulho do vento lá fora, empurrando os pequenos galhos das árvores contra as janelas da casa.

Carolina tomou uma xícara de chá preto para ficar mais desperta, e dirigiu-se para a sua mesa de estudos onde havia vários livros empilhados e muitas anotações.
Ela tinha o costume de ler, e poderia passar horas e horas a fio, viajando pelas páginas de um livro. O simples fato de escutar o barulho das folhas sendo viradas, já lhe causava grande prazer. Pretendia passar algumas horas de leitura naquela noite, aproveitando a ausência de sua irmã, que sempre lhe interrompia ou pedia para ela apagar as luzes.

Uma chuvinha fina começou a cair. Aos poucos aquelas gotas foram se intensificando e uma verdadeira tempestade se armou sobre aquela velha casa.

...

- Deve ter acontecido algum acidente! Não é possível! Estamos parados aqui há 30 minutos! Disse Wilson, impaciente.
- Desça papai, e pergunte à alguém o que aconteceu.
- Como posso descer do carro numa chuva dessas?

Ao longe, luzes intermitentes podiam ser vistas.

- Com certeza, meu querido, algo muito grave deve ter acontecido.

O trânsito se arrastava. A chuva não permitia uma visão mais ampla do que estava acontecendo.

- O jeito é ter paciência! Disse Tatiana, a filha mais nova, enquanto ligava o walkman e se recostava, confortavelmente, no banco de trás.

Passados alguns minutos, apareceu um guarda informando que há alguns metros dali uma carreta de bebidas havia virado no meio da pista, impedindo totalmente a passagem. A espera seria muito longa. Vários veículos começavam a retornar. A chuva ficava cada vez mais forte, e os condutores começavam a buzinar freneticamente. Wilson procurava uma flanela para desembaçar o vidro e melhorar a sua visão que estava péssima. A confusão aumentava mais e mais...

- Vamos voltar meu querido... Disse Gilma, com a sua voz tranqüila de sempre.

Wilson, nervoso e cansado, não hesitou e retornou com muita dificuldade, tomando a direção pela qual acabara de vir.

...

Carolina correu para fechar as janelas, quando de repente, o telefone tocou. Era o seu pai. Explicou-lhe o que havia acontecido e como tinham sido obrigados a voltar para pernoitar na casa de sua irmã. Após algumas recomendações, Carolina desligou o telefone.

De repente ouviu um grande estrondo. Um raio caíra bem próximo dali. Num piscar de olhos a casa estava completamente escura.

Olhando pela janela Carolina percebeu que a queda de energia era geral, pois, com exceção dos faróis, não se via uma luz sequer por todo o bairro. Ficou ali, por alguns minutos, até que a sua vista se adaptasse à escuridão e começou a tatear em busca de algo que iluminasse aquele breu.
...

Há algumas quadras dali, um carro rasgava as ruas molhadas. Três homens acabavam de assaltar um posto de gasolina do outro lado da cidade. Diminuindo a velocidade para não chamar a atenção, procuravam um lugar onde pudessem se esconder e fazer mais alguns ‘estragos’.

- Que tal aquele sobrado ali? Perguntou Arnaldo, o mais influente da quadrilha.
- Ótimo! Eu entrarei pelos fundos, o Zé entra pela frente e o Boca (como chamavam Arnaldo) fica um pouco aqui fora, dando uma “manjada” no movimento.

E assim entraram no beco que ficava ao lado da casa, estacionando o veículo em uma posição estratégica.
...

Carolina lembrou-se que no porão estavam guardados os dois lampiões usados nesses casos de emergência. Saiu do seu quarto, passando pelo corredor. “Que hora péssima para acabar essa luz! Lamentava-se enquanto descia cuidadosamente as escadas.

Chegando à cozinha, apanhou uma caixa de fósforos e começou a acendê-los um a um, até avistar a escada do porão.
...

Com toda a perícia e experiência que tinha, Zé já abria a porta, entrando na casa. A escuridão e a chuva eram fortes aliadas naquela investida. Já no interior, sem fazer nenhum ruído, começou a sondar cada cômodo da casa a procura dos moradores. Alemão já entrava pela porta de trás, enquanto o Boca vigiava lá fora. Passados poucos minutos, os dois sinalizavam com a lanterna e Arnaldo entrava na casa.

...

Carolina olhava com muita dificuldade aquelas prateleiras cheias de tantas coisas inúteis, em busca do lampião. Ouviu passos acima da sua cabeça. Assustada, permaneceu quieta, sem se mexer. Mal podia respirar. Pouco a pouco, foi identificando o que as vozes diziam lá em cima.

- É rapazeada! Demos sorte! Não tem ninguém aqui. Vamos fazer o serviço e ir embora. Podemos bater um recorde nessa noite! Que tal mais duas casas depois dessa?
- Que nada Zé! Eu vou ver é se tem algo para comer aqui. Tô morrendo de fome. Disse o Boca apertando a barriga.
- Beleza! Enquanto você prepara o rango, eu e o Alemão vamos subir para ver o que tem lá em cima. Não esqueça do porão!
- Fechem as cortinas! Cuidado com as lanternas! Disse o Boca, sempre alerta.

Carolina olhou para a escada e viu a porta aberta. “Ele vai descer aqui! É o fim! O que vou fazer agora?“. Pensou atônita.

Visualizou o local com muita dificuldade. Temia ser descoberta. A melhor solução seria permanecer escondida em um canto, atrás de uma pilha de caixas. Pelo menos assim ouviria o que eles diziam.

Carolina, sentia-se trêmula, apavorada. Nunca passara por uma situação de tanto perigo. Mas ao mesmo tempo conseguia raciocinar com uma frieza e calma que jamais imaginaria que tivesse em uma situação como essa. Esperava o momento em que o homem desceria ali. E pedia a Deus que a luz não voltasse, assim teria alguma chance.

A expectativa era terrível e os minutos se arrastavam. Um cheiro de comida invadiu o porão. “Teriam se esquecido de descer?”. Mil pensamentos afloravam na mente de Carolina. Naquele momento ela precisava pensar, encontrar alguma saída para aquela situação. Um sorriso surgiu em seus lábios. Acabara de ter a idéia simples e mais brilhante de toda a sua vida...

Após alguns minutos os outros dois desceram com as sacolas cheias.

- E aí? Perguntou o Bocão abrindo uma lata de refri. Como foi a pescaria?
- Dá pros gastos... tem muita tranqueira. De valor mesmo, algumas jóias, um celular e um relógio. Pelo menos umas mil pilas. Calculou o Zé, meneando a cabeça.
- Bom, pelo menos o lanche que vamos fazer aqui já está valendo a pena! Respondeu Bocão, enfiando a lasanha descongelada goela a dentro.

Os dois sentaram-se à mesa, virando as lanternas para o centro onde estava a comida. Enquanto isso, Bocão observava atentamente a parte da frente da casa.

Em pouco tempo estavam rindo, comendo e fazendo planos para mais tarde. Carolina ouvia atentamente o que eles diziam. As histórias de outros assaltos a postos, seqüestros relâmpagos, e outras aventuras dignas de cinema. Enquanto ouvia, permanecia imóvel no canto do porão e agradecia a Deus pelo acidente da carreta na estrada. Se não fosse por isso, àquelas horas seus pais já estariam de volta.
...

De repente, surgiram policiais pela porta de trás e pela escada. “Ninguém se mexe! “, “todo mundo no chão”!

Rendidos, os assaltantes mal podiam acreditar no que estava acontecendo. De repente, surge uma garota do porão, iluminada por uma velha lamparina.

- Bocão! Você não olhou o porão cara? Gritou Zé, desesperado.

E olharam para aquela figura franzina que mais parecia um assombração.

- Bom trabalho, mocinha! Esta quadrilha estava sendo procurada há quase um ano. Disse um dos agentes.

- Obrigada! Respondeu Carolina satisfeita, enquanto segurava com uma mão o lampião, e com a outra o seu inseparável aparelho celular.


Dez/2000

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