Mais uma desgraceira...
O Natal passou e um cassaco resolveu se doar, como presente à minha netaiada.
Você já viu um cassaco? Ele se mascara em gambá, micurê, mucurá, sanguéa, sariguê e timbú, mas são todos os mesmos fedorentos papadores de ovos e pintos. Já pensou que presente? E eu tenho que fazer festa e dar alimento ao intrujão! Por que? Porque ele é engraçadinho, cinzento com listas brancas e outras bem pretas, correndo-lhe do focinho, pelas costas, até ao longo rabo. Porque possui orelhas grandes e pontudas, os olhinhos mais vivos e lindos do mundo. Porque parece indefeso e amigo. Pronto. Sei que o quadro comoveu o leitor que está todo caído, também, pelo réu, assim como meus netos acham que foi presente de Papai Noel, quando o Manoel prendeu-o em uma gaiola e o trouxe para a garotada. (Devo enforcar o Manoel?)
Lá está o bichinho, cercado de carinho, entupido de comida e nem se importando com o meu olhar furibundo. Papador de ovos de uma figa! Mas aqui no sítio é assim: os sapos, as rãs, os lagartos são tratados como gente da família, e ai de quem discordar!
O macaquinho soim (Kiko), todo prazenteiro no mamoeiro, come nas mãos dos meus netos, passeia pelo quintal na cabeça dos meus filhos e sabe chiar, bem alto, pedindo dengos e companhia. Com aquelas ventarolas sobre as orelhas, é importantíssimo para todos. Nem a tartaruga, nem o coelho o desbancam.
Vidabá, o nosso"cão de guarda", está tão habituado com carícias que não guarda mais nada. Quando muito, late, mas deixa que ladrões ataquem o galinheiro e a minha horta. Desmoralizado! Imprestável! Gordão e dorminhoco vigia! Devia ser exposto como exemplo de como "não deve ser uma sentinela".
Os pássaros são donos absolutos dos cajueiros, das mangueiras, das ciriguelas e outras frutas. São namorados pelo olhinhos curiosos dos meus netos, enquanto avançam até nas minha queridas atas e mamões. Nem um "cho!" para assustá-los...
- Prova este caju, vovó. Deve estar uma delícia, porque foi picado pelos passarinhos!
Assim vou eu, comendo restos dos pássaros, dando comida para um bandido cassaco e aturando rãs, lagartos e sapos. Se ao menos houvesse a possibilidade destes últimos se transformarem em lindos príncipes e tornarem a minha cabaninha em palácio... Mas estou "torcendo" que após as Festas o distinto faça o bandido "fugir" para a sua própria casa, para "cuidar da sua família" (Esta será a justificativa para acabar com o berreiro).
O Ano Novo está chegando e, com ele, os verdadeiros sonhos e esperanças. Que ele seja recebido com alegria no lar do leitor e que seus risos sejam constantes, durante todo o ano. De coração, é o que desejo.
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