Namorados jantavam juntos para mostrar o amor obrigatório que a data exigia.
Xis comprou uma caixa de bombons-coração e ficou olhando alguns casais trocando
juras eternas que durariam no máximo alguns meses.
A noite estava linda
quente e cheia de tesão no ar.
O amor era sexo que era amor que era tudo que era nada ao mesmo tempo.
Trilhões e trilhões de espermas estavam prontos para encontrar milhões e milhões de óvulos.
Os motéis ficariam cheios.
Ou trilhões e trilhões de espermas iram só brincar com trilhões e trilhões de espermas.
Ou milhões e milhões de óvulos iriam só brincar com milhões e milhões de óvulos.
Xis pensou em ir ao cinema.
Mas sozinho ia ser insuportável olhar aqueles casaizinhos melosos
cheios de amor propaganda enganosa.
Xis preferiu subir num prédio.
Lá de cima olhou para o infinito de luz e escuridão.
A lua não estava cheia.
Xis comeu todos os bombons de licor de absinto.
Xis pensou em se suicidar.
Olhou para baixo.
Ficou com medo.
Olhou para cima.
Olhou para baixo novamente.
E viu então cinco corpos estatelados no concreto.
Xis desistiu da idéia.
Segundo uma estatística não oficial: no dia dos namorados,
os namorados se matam mais que as namoradas.
As propagandas não mostram isso.
Não estão interessadas nos namorados e nas namoradas.
Xis gosta de propagandas de sabonete.
Que o amor seja coisa tão quanto a coisa quiser e suportar.
Que o amor seja a mentira que é a verdade que é a mentira.
Xis não gosta das propagandas das Casas Bahia.
Me deixe te amar.
Você agora me pertence.
Meu amor, minha coisa, minha mercadoria.
Minha posse.
E Deus lá de cima abençoando nossa medíocre felicidade.
Que o amor seja eterno enquanto dure.
Que o amor seja eterno enquanto duro.
Que o amor seja eterno.
Que o amor seja.
Que o amor.
O que mesmo, Xis?
