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Contos-->Funny Bureau of Investigation -- 15/06/2005 - 22:48 (Jefferson Cassiano) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Festinha de aniversário de bebês de um ano devem contar com um significado metafísico que a mente limitada de Plínio não se faz apta a decifrar. Alguém como ele, incapaz de ver diferença entre um boneco Kokheshi e um bilboquê não seria mesmo a pessoa mais indicada a opinar sobre assunto tão sério. Há uma indústria em torno das festas infantis: bufês, salgaderias, lojas de brinquedo. Se a festa é de um ano de nascimento então! é uma estrutura tamanha que, se não prestarmos muita atenção, pouco conseguiremos diferenciar o aniversariante do boneco que enfeita o bolo. Plínio acha que nada vale fazer um fuzuê para alguém tão pequeno, tão incapaz de entender o significado de um investimento de mil, dois mil, cinco mil reais em refrigerantes, doces, bolos, salgados e cerveja, muita cerveja para incentivar o alcoolismo infantil. Radical, o crítico de eventos mirins faz de tudo para não marcar presença em festinhas de sobrinhos no Mac Donald ou aniversário de afilhado em salão de festa. Mesmo se o menu incluir um churrasquinho, Plínio tenta tirar o corpo - e o copo - fora.
Namorada divorciada. Mãe de um corintiano de quatro aninhos. O dia fatídico tinha mesmo que chegar. Plínio recebeu, semana passada, um convite da amada: festa de aniversário do melhor amiguinho do Gui. Tentou a velha desculpa do serão extra, disse que estaria sem carro, matou uma tia de Jurucê. Não escapou. Deu por si e estava atravessando um arco gigante feito de bexigas coloridas. Antes, passou numa loja do shopping e comprou um uniforme do Timão para o aniversariante que nem conhecia; tampouco sabia as preferências futebolísticas do menino. A estranha escolha do presente, de um jeito meio marrudo e inconseqüente, deu a impressão de que Plínio queria tornar a festinha infantil um pouco mais divertida; divertida para ele, que se lasque a gurizada! ele nem queria ir mesmo. Melba - não sei se já apresentei a namorada do moço? - notou um sorriso mal intencionado em Plínio, mas o corre-pra-lá e o corre-pra-cá do Guilherme impediram um inquérito sobre o assunto.
Enquanto todos se empanturravam de Coca quente e risoles frios, a cumpleanosfobia tomou conta de Plínio. Ninguém percebeu quando aquele baita homem começou a cobrar cinqüenta centavos de cada garoto como pedágio de pula-pula. Misturar cachaça no guaraná não foi uma boa idéia; a meninada percebia o gosto batizado e recusava a bebida; só o filho do Nóbrega, oito aninhos, curtiu a idéia e tomou litro e meio “cow-boy” da mistura. Desmascarar o mágico, contar piadas sujas para as garotinhas e babar no ponche das tias; enfim, Plínio conseguiu dar um sabor especial para uma comemoração sempre tão igual. Não estava feliz ainda assim. O que mais poderia fazer para tentar mostrar aos outros adultos que festa de criança é um erro? Buscou inspiração numa lata de cerveja e percebeu que a bandinha se preparava para tocar.
- Que cêis vão tocar?
- Adivinha, cara!
- Não me fala que é o Parabéns pra Você?
- Adivinhão!
Um estalo diabólico. Sabotar o Pique-Pique! Haveria forma mais eficiente de protestar contra a baixaria para baixinhos? Plínio se recusava a usar trocadalhos do carilho como fazem alguns bêbados inconvenientes e pleonásticos nesta hora. Seu plano era bem mais elaborado. Usando o poder das palavras molhadas em álcool e a força de persuasão de uma nota de cinqüenta, o vilão conseguiu convencer os músicos a acompanhá-lo numa canção original de congratulações.
- Senhoras, Senhores e garotada! Vamos cantar o Parabéns. Calma, calma. Dessa vez será um parabéns diferente, cantado com primor por um convidado muito especial: o meu amigo Tio Plínio!
- Obrigado! Garotada, vamos cantar uma música em ritmo de bossa nova. Maestro, ré-maior, por favor.
Plínio nem completou o primeiro verso que comparava o aniversariante a um mico-leão-dourado; também não teve tempo de ver as caretas dos pais e dos tios; quando percebeu estava nocauteado, caindo em direção ao chão de madeira do palquinho. Só conseguiu identificar dois homens muito brancos vestidos em ternos muito pretos. Enquanto terminava de desmaiar, ouviu um sotaque americano ordenar que a banda tocasse a música de sempre; apagou de vez no “muitas felicidades, muitos anos de vida”, não sem antes receber uma rajada de vômito do pequeno Nóbrega de porre.
Plínio acordou acompanhado de uma dor de cabeça e dos estranhos homens de preto. Estava numa espécie de porão, desses que você imagina quando se fala de seqüestro e tortura. De fato, tudo levava a crer que alguém seria torturado. Como Plínio era o único amarrado, mãos para trás e pés juntos, estava fácil concluir quem iria ser mergulhado no latão cheio d´água que aguardava no canto e chamuscado pelos impacientes fios de alta voltagem.
- Onde estou? Quero meu advogado?
- Advogados não podem ajudar agora, senhor.
- O que é isso? Um seqüestro? Eu não tenho dinheiro, cara. Sou autônomo...
- Não é seqüestro. É o seu fim.
- Que foi que eu fiz? Quem são vocês?
- Somos do FBI, senhor.
O pré-torturado teve até um momento de satisfação em meio ao terror que o tomava. FBI? Devia ser assunto sério e, se era assunto sério, Plínio tinha mais importância para o mundo do que sempre supusera. Como vendedor, que interesse poderia despertar no FBI?
- FBI? Isso é pegadinha do Gugu?
- Não. Somos do FBI: Funny Bureau of Investigation. O senhor infringiu o código secreto.
- Que código secreto?
- Sendo secreto, o senhor não poderia ficar sabendo do que se trata. Mas, como esse é seu último dia de vida, contarei tudo. Preste muita atenção, já que a minha voz será o último som que ouvirá nesse mundo. O senhor sabe que nosso país é uma potência. Para nós, vocês são apenas compradores de produtos. Como o tênis que o senhor usa, uma marca americana. Ou qualquer coisa que decidirmos que vocês irão comprar. Não só o seu país, mas toda a raça podre do terceiro mundo. Qual é a maneira mais eficiente de obrigá-los a se submeter ao nosso domínio? Não responda; você não é mesmo capaz. Basta torná-los escravos de nossa cultura. Muitos acham que o cinema ou a TV são nossas armas mais fortes. Mas, há muitas décadas, o chefe do departamento de inteligência desenvolveu um sistema simples de lavagem cerebral baseado numa canção infantil. Foi muito fácil traduzir essa música para todos os idiomas inferiores. Hoje, todos os continentes comemoram o aniversário entoando os mesmos versos em Ré-Maior... Percebeu seu grande erro? Agora, o senhor nunca mais irá sabotar uma festa infantil. Todos devem cantar Happy Birthday To You para a glória da águia americana. Podem começar o serviço. John, ligue o disjuntor.
A vantagem é que Plínio estava, daquele momento em diante, livre de comparecer a festas, fossem infantis ou bacanais. Triste foi ver a cidade em blecaute como se uma quantidade grande de energia tivesse sido encaminhada para um determinado porão no subúrbio. Em plena noite de sexta! Tantas festinhas de parabéns frustradas...

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Jefferson Cassiano é Publicitário e coordenador da Foco, Formação Continuada em Redação; adverte: não beba antes de cantar, não cante depois de beber.
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