Acordei antes de clarear. Fiz um café, esquentei as mãos no bafo do fogão. Estava tão frio.
Abri a porta, entrou o cheiro do amanhecer, perfumado. A grama toda molhada, o cheiro de café se espalhando, a chuva da noite ainda estava no chão.
Vesti um agasalho velho, um sapato velho. Fui até o fundo do quintal e cortei um galho de árvore. Fiz um cajado.
Saí, feito Moisés, andando pela estrada de terra. O céu já ia se abrindo, em cores indefinidas. Fui até a beira d água.
Tirei o sapato, arregacei as calças, e pisei firme. A água estava fria, do frio da manhã. Fui até chegar à canela, abri os braços, chamei o sol no meu peito. O ar era tão perfumado, que te imaginei chegando...
Não eras tu, mas uns passarinhos cantando. Fechei as mãos em oração, e colhi um pouco daquela água. Bebi com os olhos fechados.
Perdi o frio, deitei-me na beira. A água inundou-me a roupa, o peito, o coração.
Meu Deus, que saudades de te ver...
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