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Contos-->AS ROSAS -- 04/07/2005 - 13:30 (Fernando Antônio Barbosa Zocca) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
AS ROSAS

Fernando Zocca



Jarbas o caquético-testudo, prefeito eleito de Tupinambica das Linhas, recebeu em seu gabinete, naquela manhã ensolarada, seu amigo, o não menos famoso Trama, proprietário de inúmeros imóveis na cidade.
Todos sabiam que Trama usava laranjas, ou testas-de-ferro, nos quais depositava a responsabilidade de serem, diante da sociedade, os "donos" das centenas de apartamentos, casas e terrenos, adquiridos com as verbas desviadas do poder público.
Depois que o garçom saiu do gabinete, deixando os dois servidos com o café matinal, Trama disse ao parceiro:
- Ontem fui ao velório do Jorge. Você soube que ele fazia sessões de hemodiálise por sofrer com uma afecção nos rins? Ele passava 4 horas por sessão no hemodialisador. O infeliz submetia-se três vezes, por semana à tortura. Cumpria o procedimento em dias alternados. Ele estava preso ao tratamento há um ano. A mãe dele me contou que, logo depois que a enfermeira aplicou uma injeção na cânula, ele sofreu um infarto fulminante. A mãe garante que o mataram.
O prefeito tomado pela modorra, característica da família, perguntou:
- Quem teria interesse em matar o Jorge? - Trama sorveu o último gole e respondeu:
- Dizem que foi pessoal da seita maligna do pavão-louco. Eles tinham precisão de calar a boca do Jorge. Ele falava demais. E você sabe: eles, os da quadrilha do pavão-louco, fazem magia negra. - Jarbas, irritado admoestou:
- Trama, dizem que você, nas sessões mediúnicas que freqüenta, só incorpora Carmem Miranda, Luz del Fuego e Madame Satã. É verdade?
Trama lançou, com delicadeza, o dorso da mão direita em direção ao solo, deixando à vista a palma branca e disse:
- Olha, no meu ateliê, ninguém diz que sou boiola. Eles pensam que sou nego bom. Gente fina.Também as despesas que tenho com aquilo tudo! Você pensa que é mole, ó bofe, manter o padrão de vida que eu levo? Preciso de, no mínimo, 229 mil por mês.
Jarbas diante da afetação do parceiro tentou ironizar:
- Chique no último, Trama? Diga-me uma coisa: qual é seu signo?
Trama limpou o gogó, colocando com delicadeza, a mão direita diante dos lábios e disse:
- Olha bofe: eu sou de Libra. Nasci livre no dia 17 de outubro de mil novecentos e lá vai bolinhas. Nunca desejei ou fiz mal a ninguém. Essa turma gosta de me azucrinar. Mas nem te ligo. Sabe como é?
- Mas, veja bem Trama, quando você era aeromodelista, considerado um dos melhores na categoria control de acrobacia, você já... digamos... "queimava a rosca" ?
- Minha nossa, meu filho! Pelos 120 mil votos que você adquiriu! Só comecei a queimar a "tarraqueta", depois que conheci o Turcão. Lembra-se dele? Era amigo do Dom Juan (o comedor) Não era mesmo forte o danadinho?
- Dizem que você fala bem o alemão Trama, é verdade?
- Veja bem: quando estudava, gostava também de matar aulas. Ficava no barzinho ao lado do colégio e passeava muito lá no shopping. Por isso não falo tão bem assim.
O tempo passava rápido; Trama então disse estarem prontos todos os papeis necessários para que a outra empresa fictícia, inventada por ele, pudesse participar de mais uma licitação da Prefeitura de Tupinambica das LInhas.
Eles fecharam o acordo. Dizendo que deveria viajar com urgência para Brasília, Trama despediu-se do velho companheiro.




À tardinha, quando chegou em casa, Jarbas sentiu melancolia. Foi tomado por aquele sentimento de saudade quase inexplicável. Ele então caminhou até o guarda roupas antigo, oculto num canto do quarto e, tomando as vestes que foram de sua mãe vestiu-as. Aquele fetichismo fazia com que as lembranças da amada, lhe tornassem à memória com mais clareza.
Sentindo-se inebriado com o prazer que lhe causava a situação, Jarbas não notou a presença de um menino que entrara furtivamente na casa. O garoto, por pensar estar só, iniciou um reconhecimento do ambiente. Olhava para o teto, as paredes e o chão. Tudo era novidade.
A criança miúda estava distraída quando percebeu aquela figura enorme que, de repente, lhe surgia ameaçadora por trás. Houve agressão. O menino que deveria ter a metade do tamanho e peso do adulto espancador, foi acuado no canto da sala, perto da porta da rua. Jarbas, aos gritos, bateu tanto com o tamanco na cabeça da criança que temeu tê-la matado.
Jogando o invasor na rua, o prefeito correu para o fundo do quintal e, pegando lá do jardim mal cuidado, um vaso branco que continha espadas de São Jorge, comigo-ninguém-pode e guiné, colocou-o ali no local do crime.
Se aquele maldito voltasse algum dia, certamente se lembraria da sova que tomou. E aquela era uma lição pra que ele deixasse de ser o lazarento que sempre fora.
Com bastante calma, o prefeito tirou as vestes da finada e, com carinho guardou-as no local de costume.
Ele tinha mais no que pensar. As empresas que financiaram sua campanha desejavam receber, com juros e correção monetária, o dinheiro investido. Os planos para novas licitações o aguardavam.
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