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Contos-->O retorno de meu Pai -- 03/01/2001 - 21:09 (Eduardo Henrique Américo dos Reis) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
“Near the end of a millenium Satan shall return and walk amongst us not as beast but beaty.”
Etruscan book of the dead (1.)

Numa tarde ensolarada de Julho de 1988, lembro-me muito bem, saí de minha casa correndo para ir brincar com meus colegas lá na linha do trem. Gostávamos de brincar ali porque encontrávamos várias latas, pedaços de madeira, arame, pneus velhos e outras coisas com que poderíamos inventar alguns brinquedos bem originais.
Naquela tarde, até hoje não sei por qual motivo, meus amigos demoraram muito a aparecer. E eu cansado de esperar, fiquei andando por ali. Juntei muitas coisas e depois me sentei próximo de onde uma menina, que nunca tinha visto, brincava.
Num primeiro momento achei estranho. Afinal, Assis é uma cidade pequena do interior de São Paulo, aqui todo mundo se conhece! Alguns minutos depois ela veio falar comigo.
“Oi, tudo bem!?”, disse a negrinha de cabelos enrolados com beleza e simpatia invejáveis para qualquer um. “Você mora aqui?”, insistiu a garota ao me ver mudo.
- Sim, sim! Eu moro! – respondi arregalando os olhos – E você? De onde é?
Daí ela me contou que tinha acabado de mudar para o interior e que ainda não conhecia ninguém na cidade. O pai dela havia conseguido um bom cargo na cervejaria.
Conversamos, conversamos, conversamos até descobrir que a menina era mais velha do que eu. Por falar em idades, deixem-me explicar melhor, nesta época eu tinha apenas sete anos e ela dez. Eu me sentia estranho, pois a companhia daquela garota me fazia muito bem. Apesar do monte de perguntas que ela fazia, parecia me conhecer há muito tempo. Dizia coisas sobre mim que nem eu mesmo sabia. Mas nem me importei muito. A considerava mais inteligente por ser mais velha.
Já no final da tarde, ela disse que gostaria de me presentear. Pelo início de uma forte amizade. Então caminhamos muito pela linha do trem até sairmos um pouco da cidade. “Chegamos”, disse a garota. Era um tipo de caverna formada na pedra. Me perguntou se eu já conhecia aquele lugar. Respondi que não. “Pois aqui será o nosso esconderijo, está bem? Quando quiser me encontrar, venha até aqui!”
É claro que concordei! O lugar era muito legal! Tinha até um laguinho lá dentro. A partir deste dia, uma grande amizade nasceu, nos encontrávamos todos os dias naquele local, para fazer “expedições de cavernas”. Quando meus amigos viam nós dois andando juntos pelas ruas gritavam: “Olha lá os namoradinhos!” Eu morria de vergonha, mas ela nem dava bola.
Na manhã de 8 de Janeiro de 89, ela apareceu em casa desesperada para falar comigo, mas eu ainda estava dormindo. Quando acordei, minha mãe disse que ela me esperava no esconderijo e que aparentava estar muito nervosa. Me vesti bem rápido, peguei a bicicleta e saí correndo. Minha mãe gritou: Vem almoçar, hein!
Chegando lá, entrei e observei-a deitada no chão próximo ao fundo da caverna, depois do laguinho... “Ei, vem até aqui!”, falou.
- O que foi? Porque tá deitada aí!? – perguntei já me deitando também.
- Olha lá no teto. – Disse direcionando o raio de luz da lanterna para o local.
- Caramba! O que será isso!? Como não havíamos visto ainda!? – Eram vários buracos feitos no teto da caverna parecidos com letras e números. Pegavam quase todo o teto do lugar. Não dava para ler nada do que estava escrito e também não formavam nenhuma figura ou desenho.
Como ainda éramos muito novos, resolvemos não voltar mais para a caverna, ficamos assustados com aquilo. Poderia ter mais alguém frequentando o nosso esconderijo.
E em 1991, mudei para São Paulo junto com minha família. A última vez que a vi, eu já estava dentro do carro... de saída. Ela correu, correu, dando-me tchau, chorava muito. Foi a única vez que vi tristeza naquele rosto... eu também chorei.
Minha vida na capital do estado era boa, apesar de não poder brincar na rua ou andar de bicicleta... ou me divertir com a minha melhor amiga, talvez o meu primeiro amor. Durante quase um ano, mantivemos contato por carta. Ela estava doente na última vez que me escreveu. Disse que tinha voltado a caverna e que o ar de lá estava diferente, não conseguia parar de tossir. Também mandou as fotos que tirou de lá, inclusive dos rabiscos ou letras no teto.
Infelizmente, ela nunca leu a minha carta de resposta. Uma virose desconhecida levou a vida de minha amiga e companheira. Que, como seu derradeiro desejo, me pediu para desvendar os significados daqueles escritos.
Eu não sabia como fazer isso, então guardei as fotos durante muito tempo e só sete anos depois, já com dezessete de idade, resolvi pesquisar aquilo que encontramos na caverna.
Numa aula de história, descobri que aqueles traços faziam parte do alfabeto aramaico. Pesquisei muitas religiões e achei um padre italiano especialista nesta língua e ainda vivo. Não pensei duas vezes, copiei todos os traços das fotografias e enviei ao padre.
Em menos de um mês recebi uma carta dizendo que o texto não poderia ser levado a sério, já que a fonte original não foi descoberta e seu autor, Amadeus Pitacius, nunca veio ao Brasil. Mas, mesmo assim, o padre me enviou esta tradução:

“No quadragésimo sétimo dia do terceiro milênio (d.C.) o mundo haverá de se deparar com a fúria de um anjo negro. Um anjo vindo dos confins do inferno. Um petiz caminhará entre vós carregando a alma de Lucifér. O filho de Satã, o enviado do Demônio, oposto à Jesus Cristo, filho enviado do poderoso onipotente à quem chamarão de Deus.
A última vinda do Anti-cristo... da besta que destruirá o planeta, começando pelo terceiro mundo.
A fome, a miséria, a infelicidade, a devoção dos ignorantes... tudo o que o homem criou voltará contra a vontade de Deus e seu filho Jesus, até mesmo a natureza expressará a fúria de Satã através dos mares, da poluição dos ares, a verdadeira peste negra surgirá, os tremores de terra levarão almas imperfeitas... restarão apenas os seres mais belos e cultuadores do Anjo Negro do Mal.
Criadas pelo progresso da regressão, as máquinas dominarão seu criador. O desenvolvimento da ciência biológica trará novas doenças. Os pecados capitais serão a forma de manifestação maior do Filho das Trevas. Quando Lucifér tornar-se um humano adulto, antes de atingir a idade de Jesus Cristo no dia de Vossa morte, o céu escurecerá, os ventos soprarão arrastando vidas, o sol arderá como nunca, a Lua não mais brilhará, será o início da epidemia da morte e o fim de todos os tempos.
Crianças nascerão de grandes máquinas-mães, da mesma maneira que os animais extintos retornarão à vida. Sem prece, nem glória, depois da destruição dos crédulos à Deus, a vida será bela, perfeita. O mundo será recomposto em um único dia pelo Pai de Todo o Mal, o mais poderoso e perfeito dos deuses.
Duas décadas antes do fim do milênio um casal de anjos; ele, enviado de Lucifér e ela representando o Criador deste universo imperfeito; virão ao mundo predestinados a encontrar estes escritos. A doença levará a vida de um dos jovens e o que restará, o mais forte, levará estes ditos ao planeta, protegendo a opinião de Seu Criador.” (2.)
Amadeus Pitacius - 285 a.C. (3.)
Minha pequena amada era a enviada de Deus. Era linda, carinhosa, inteligente, simples...perfeita. Infelizmente aquela doce alma foi a mais frágil, assim como disse o profeta.
Eu e ela somos a prova concreta da profecia de Amadeus Pitacius. O que me faz acreditar que o mundo está próximo de seu fim, mas um dia... será perfeito, como disse Pitacius. Não tenham medo, se acreditarem no poder de meu Pai, retornarão à vida, assim como eu.
Depois de conhecer a minha verdadeira história, de descobrir quem é meu Pai, voltarei ao Vale das Sombras como o último Filho imperfeito das Trevas. Sei que meu Pai já caminha entre nós, por isso preciso morrer para retornar à vida através da perfeição de meu onipotente Criador.

E.S. – 16/12/2000 (dia de minha morte)
















Legendas:
1.“Próximo ao fim do milênio, Satã retornará e caminhará entre nós não como besta mas como beleza.” – Livro Etrusco dos Mortos.
2. O texto foi traduzido pelo Padre Jouhaux Pelloutier, francês especialista em aramaico assassinado na casa de prostituição La Sensualidad na Espanha em Agosto de 1999 quando tentava se infiltrar no esquema de prostituição e tráfico de crianças latinas na Europa.
3. Profeta Grego nascido por volta do ano 200 a.C. e caçado pela justiça da época como insano.
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