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Cronicas-->O QUE É O AMOR -- 15/01/2004 - 11:18 (adelay bonolo) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
O QUE É O AMOR?

Recebi em mensagem pela Internet um texto sobre o amor. Escrevi algo a respeito e ofereço-o a quem se interessar, embora no início tenha relutado em divulgá-lo, pois, na minha idade aprendi uma coisa muito importante. Quando não se é mais tão jovem, como é o meu caso, as pessoas simplesmente não se interessam por nossa opinião, às vezes nem mesmo por curiosidade, ainda mais em assunto dessa espécie.
A natureza é sábia, generosa e nos trata com delicadeza. Vamos envelhecendo aos poucos, imperceptivelmente. A ação do tempo não nos mostra o espelho. Por dentro, a juventude permanece inalterada, a despeito das intempéries da vida. De repente... é como a história daquele cidadão calvo que só descobre a calvície quando, quase atropelado, o motorista lhe grita: "Sai da frente, ó careca!". Assim é a vida.
Minha intenção é trazer algo para reflexão. A compunção de escrever vem atrelada à idéia da ajuda. Apesar de todo extravasamento que se observa hoje em dia, sobretudo em matéria de sexo, cuja repressão antigamente julgavam causa dos desajustes emocionais, há uma verdadeira febre de mensagens de auto-ajuda, inclusive livros best-sellers, como os de Paulo Coelho, editados aos milhões. Os consultórios de psicanalistas e psicólogos estão sempre superlotados e as igrejas de toda denominação multiplicam-se.
O que estaria havendo com o mundo? Há uma carência generalizada em todos, desde dinheiro, moradia, roupa, escola, instrução, civilidade, educação, respeito, caráter, bem estar, até aquela mais sutil, que ninguém admite, a carência afetiva, carência essa que é a mãe das drogas, dos desajustes de toda espécie e da vontade inconfessada de morrer.
Ah, se a gente pudesse ajudar... !

Aí vão os dois textos, transcrevendo primeiramente o recebido, e logo depois os meus comentários (peço vênia ao escritor Marcelo Trasel da Fraude pela utilização de seu texto divulgado pela INTERNET).

"Sentimento sublime ou flor roxa que nasce no coração do trouxa? por Marcelo Träsel da Fraude. O Cardoso andou querendo saber o que é o amor de verdade. Esta resposta é dedicada a ele [1]: - NÃO INTERESSA! Muita gente anda por aí tentando encontrar o AMOR DE VERDADE. O caro leitor com certeza conhece algum caso de ótimo namoro que terminou porque um dos dois ficou se perguntando tempo demais se amava de verdade a outra pessoa. Aí cobrava provas de afeição, submetia o pobre companheiro às maiores aporrinhações e ofensas, só para ver se não sairia correndo - o que provaria o amor, em vez de simples bananice do cónjuge, numa lógica bizarra - e ficava perguntando às 3h da madrugada de terça-feira se ele [a] prefere dormir a discutir a relação.
Desde que Shakespeare escreveu Romeu e Julieta, as pessoas parecem ter decidido que amor sem sofrimento não é amor. Que se seu namorado termina com você e você consegue levar uma vida produtiva depois disso, é porque não o amava de verdade. Afinal, não sofreu como se aquele relacionamento fosse questão de vida ou morte - ou seja, como sofreram Romeu e Julieta.
Claro, neste processo também se decidiu que só o amor verdadeiro é respeitável, o resto não serve.
Acontece que um relacionamento NÃO É questão de vida ou morte, digam Goethe e José de Alencar o que disserem. Quando muito, é a diferença entre uma vida um pouco melhor ou um pouco pior. Há coisas bem mais importantes a se fazer por aí, como se tornar um ser humano digno ou produzir coisas relevantes. A humanidade viveu milênios sem se preocupar se estava encontrando o verdadeiro amor. Até a Idade Média, um sujeito que amasse a esposa era motivo de chacota para os vizinhos. Muitas culturas continuam sem dar a mínima para o amor romàntico nos moldes do ocidente. E continuam aí, firmes.
De mais a mais, outros relacionamentos sempre aparecem. Podem não ser tão bons quanto aquele namoro especial que você teve aos 20 anos, mas podem ser melhores em um ou outro aspecto. Porém, em uma sociedade de consumo é difícil aceitar a idéia de que você não possa ter aquilo que quer e se contentar com menos. Chega a ser esquizofrênico. Por um lado, as pessoas cada vez mais procuram relacionamentos sérios, tratam namoricos aos 15 anos como se fossem um casal comemorando bodas de prata. Por outro lado, qualquer defeito de personalidade, qualquer mínimo atrito é motivo de dúvida e separação.
Comprar um novo é mais fácil e barato hoje em dia do que mandar consertar. Defenestrar o namorado é mais simples do que se empenhar em conviver com os defeitos dele. Mesmo quando a pessoa não tem defeitos, paira o sentimento de que lá fora há algo novo e melhor, como gostam de dizer os publicitários. Não se contente com menos! Você merece mais! Não é preciso explicar a ninguém que tipo de problemas essa maneira de encarar as coisas engendra.
Os casamentos arranjados de antigamente parecem uma alternativa melhor, neste sentido. Primeiro, não havia o estresse causado pela incerteza. Já se conhecia o futuro de antemão. Depois, as pessoas eram obrigadas a encontrar dentro de si alguma boa-vontade em aceitar o outro, já que as consequências de uma separação até 50 anos atrás eram funestas. Quando o tédio inevitável - a não ser em casos de extrema sorte - aporrinhava por muito tempo, era só ir até a zona ou chamar o encanador. Tudo muito mais simples. A liberdade de escolha não está com nada. Porque liberdade de escolha hoje em dia é enxergada como a NECESSIDADE de se encontrar uma alma-gêmea, viver uma paixão arrebatadora, e quem não consegue isso é um ser humano fracassado. Embora tentem nos fazer crer no contrário, ninguém é OBRIGADO a encontrar o amor verdadeiro nos itens do mostruário. Pequenos amores [2], aqueles feitos mais de amizade do que paixão, satisfazem tanto quanto e são mais fáceis de achar.
Quando Nietzsche e Schopenhauer inventaram de virar filósofos, deram as bases para que Freud criasse a psicanálise e, a partir daí, fodeu geral. Com a noção de um subconsciente agindo sobre nossas ações conscientes, passamos a questioná-las. "Isto sou eu agindo, ou meu subconsciente? Será que eu amo mesmo o Gilberto pelo que ele é, ou só porque é parecido com meu pai?" Estes questionamentos, aliados ao dogma mercadológico de o cliente sempre ter razão, acabam em choro e ranger de dentes. E depois de milhares de caracteres digitados e pensamentos esparsos finalmente o leitor vai saber o porquê de não interessar a qualidade do amor que se está sentindo. Falando do ponto de vista da epistemologia, é impossível saber se um amor é verdadeiro ou não. Na verdade, do ponto de vista da epistemologia é impossível saber se as pedras, que são materiais, existem de verdade. Que dirá o amor, ente abstrato. Digamos que alguém descobrisse como é o amor verdadeiro: ainda assim, a pessoa não conseguiria transmitir a experiência tal como ela é para os outros e continuaríamos sem saber como se parece o amor verdadeiro. [3]
Pode ser muito interessante discutir filosoficamente as características do amor de verdade em uma mesa de bar, mas querer validar as coisas práticas por paràmetros ideais é uma receita certa para se dar mal. Um dos poucos lucros trazidos pela filosofia é entender melhor por que as coisas são como são - e como elas são -, mas a partir daí é preciso aceitá-las. Ou seja, é preciso aceitar que, mesmo tendo uma experiência de amor verdadeiro, ninguém nunca vai ter certeza disso. O melhor é esquecer o assunto e curtir seja lá o que estiver acontecendo entre duas pessoas.
- Mas papai, então como eu vou saber se uma relação é boa ou não?
- Simples, crianças. Esqueçam por alguns minutos daquele anal-retentivo do Freud, passem a confiar em si mesmos e façam-se a seguinte pergunta: ESTOU ME SENTINDO BEM? Essa é a pergunta que realmente importa. Não interessa se o amor é verdadeiro ou não, assim como não interessa se o disco é pirata ou não; se tocar direitinho no CD Player e a música for boa, não tem por que complicar a coisa toda.

NOTAS:
"O amor é uma flor roxa que nasce no coração do trouxa", frase de Aparício Torelly, o Barão de Itararé.
1 - Na verdade o assunto veio à baila porque em poucas semanas tive diversos contatos com pessoas que são perdidamente apaixonadas por outras, ou estão de luto por um relacionamento que terminou. Confesso que paixões deste tipo sempre foram um mistério impenetrável a meu coração de aço Solingen. Como bom virgianiano com ascendente em capricórnio, costumo ver as coisas de maneira pragmática demais - o que afundou uma ou outra relação, é verdade. Se tiver de terminar um namoro, termino sem dó e não volto atrás. Se alguém decide não gostar mais de mim, faço o possível para mudar e situação, mas se não funcionar, fico deprimido uma semana e depois vou cuidar da vida. Só para que o caro leitor possa ler o texto com os devidos filtros instalados.
2 - Muito embora amores pequenos não existam. Olhe em volta. O mundo é cheio de som e fúria. Nenhum amor é pequeno.
3 - Se não acredita nisto, leia o Discurso do Método, de Descartes, as críticas da práxis e da razão pura de Kant, e alguma coisa da filosofia da linguagem. Uma alternativa meia-sola [ou seja, a que escolhi] é ler A História da Filosofia, de Will Durant."


Agora vão os meus comentários:
Li com muito interesse um texto que me enviaram sobre o amor.Não sei quem é o autor, Marcelo Träsel da Fraude (que nome, hem!), e muito menos o tal Cardoso que lhe teria dado o mote. Vi que, na relação dos outros destinatários, a maioria é ainda muito moça. Ousadia a minha estar a tratar de um assunto que, nesta altura da minha vida (poderia estar incluído entre os citados Nietzsche e Schopenhauer, Freud ou, mesmo, Will Durant), conheço mais de ouvir dizer ou por lembranças, às vezes vagas... para uma platéia, cuja experiência no AMOR estaria apenas começando ou seria bem maior que a minha!
Olho para trás e me vejo, ainda na escola primária, quase de fraldas, envolto nesse tema, o amor, que tanto tem enfeitiçado a humanidade inteira e do qual jamais me afastei, graças a Deus!
Penso que o autor do texto reduziu o amor à expressão mais simples, como se dizia no meu tempo. Parece seguir à risca a regra de "deixar rolar" ou "relaxe e aproveite". E ele mesmo confessa ter tido alguns relacionamentos, cujo fim doeu por uma semana, depois passou. E partiu para outro. Homem feliz, esse!
Não compartilho da idéia das duas metades da laranja, das almas gêmeas, da teoria dos inconhos. Poderia dar-se o caso de a minha outra metade estar morando na China ou na Indonésia, onde jamais a encontraria. E por outro lado, os gêmeos monozigóticos ou univitelinos é coisa um pouco rara! Prefiro o contraditório à perfeita identidade. Acho mais fácil dar-se bem com outrem diferente de nós mesmos. A psicanálise explica, mas isso já é outra história.
O Amor não se submete jamais a modelos, moldes, regras, clichês, padrões, experiências alheias ou até mesmo próprias. O Amor é único e personalíssimo. Quando vem a pessoa sabe. E não há fórmula mágica, palavras esotéricas, mandingas, superstições, novenas, orações, promessas, simpatias ou qualquer outro artifício. Há pessoas que passam a vida inteira esperando, procurando, esforçando-se e não chegam nunca a conhecê-lo. O amor pode vir de mansinho, como brisa, sem que se o perceba, ou à primeira vista, tipo furacão. E se é amor verdadeiro nunca vai se importar se o parceiro retribui na mesma intensidade. Como dizia São Paulo, o amor tudo perdoa, tudo justifica, tudo aceita. Se não for assim, não é Amor.[1]
Bom seria se a gente amasse a pessoa certa! Apaixonar-se pela mulher ou homem da sua vida! Raras são as pessoas que conseguem ganhar nessa loteria... Quando todo mundo é contra, já é um sinal. Fui gostar logo daquele(a) mequetrefe? A dor do rompimento está na razão direta mais da intensidade da relação que do tempo que durou. Mas há outras coisas envolvidas, pois o amor atinge também outras partes além do "coração". "Quem eu quero não me quer, quem me quer mandei embora", diziam os versos da canção. O poeta Carlos Drumond de Andrade cantou os desencontros nos versos "Gosto de Maria, que gosta de João, que ama Severina, que..." e assim vai numa citação livre. Essa correlação de idéias vale muito hoje, haja vista os padrões de beleza divulgados pela mídia, que nunca ou quase se acham disponíveis na natureza. E as comparações com homens e mulheres da realidade deixam estes e estas quase sempre em desvantagem.
Acho interessante tal tema estar sendo questionado hoje, invadindo as salas de Chat, as telas dos computadores, os outlooks da vida, exatamente numa época em que o sexo é priorizado sobre todas as coisas. Claro que na minha juventude também o era, só que mais putativo, mais virtual, mais imaginativo. Não esqueçamos que nossas namoradas ainda eram virgens... Semanas para se pegar nas mãos. Acariciar o corpo era a glória e demandava às vezes muito tempo, muita confiança. Havia aquelas "outras" e todo mundo sabia, só que com essas ninguém casava... Hoje se pega nas "partes" (em qualquer parte!) no primeiro dia e pratica-se a prevalência da cama sobre o resto. Afirmo, sem medo de errar, que a maioria dos jovens de 16 anos já transou mais e melhor que nós de 60 anos em toda nossa vida! Sinceramente não sei no que vai dar isso! Confesso ter uma inveja danada dessa juventude, embora tenha dela um pouco de pena e medo!
Dia desses, li um texto de uma jovem que se insurgia contra a mensagem carpe diem dos Tribalistas[2]. Dizia ela que os que assim pensam não sabem o que é "ficar sob o edredon trocando-se carícias nos pés, num dia de frio". Ah, se pudesse encontrar essa moça e dizer-lhe que isso é o velocino de ouro, a pedra filosofal, o paraíso, o nirvana, o Santo Graal, ou sei lá mais o quê. Por causa disso César atravessou o Rubicão[3] e conquistou Roma. Guerras foram feitas e a humanidade inteira evoluiu sonhando com isso desde a história da maçã. Não é à-toa que o inspetor de polícia francês pergunta sempre: "Où est la femme? Cherchez la femme." É a glória máxima para um ser humano: ficar sob o edredon roçando os pés mutuamente, vendo televisão e comendo pipoca...! Alguém pode objetar dizendo que Beethoven não casou, Mozart era infeliz no casamento e tantos outros exemplos. Digo-lhe que exatamente por isso; sublimaram o amor. O que a juventude faz hoje, roçando os pés sob os edredons que a vida moderna lhe oferta a mãos-cheias é como se atravessasse o Rubicão todos os dias, conquistasse o império romano diariamente, numa espécie de "receber o prêmio sem o haver disputado" ou deliciar-se com a sobremesa antes do banquete... Menos sorte teve minha geração! A permissividade e a indução pela mídia estão gerando excessos que clamam por uma diminuição das facilidades disponibilizadas, sob pena de perderem-se os valores e comprometer-se o futuro.
Voltando ao texto, o autor aconselha a não aprofundar-se muito no amor para não sofrer e que o sofrimento seria uma bobagem! Eu digo, no entanto, que o amor verdadeiro é exclusivista, sem ser possessivo, e a perda de uma coisa preciosa é sempre dolorida! Não se dá pérolas aos porcos! Acho que a coisa mais valiosa é ter alguém para amar e saber e sentir-se amado, lembrar-se e perceber que é lembrado, ter certeza de que é importante para alguém. A intensidade desse amor é que dá o tom da vida. Acho que no julgamento da humanidade seremos cobrados não pela quantidade de amor, mas pela qualidade dele. Mas não precisamos aguardar o julgamento final, pois a própria vida nos dará a resposta segundo o tipo, quantidade e qualidade de nossos amores.
O texto é bom e me levou à meditação sobre um tema que me atinge dupla e intensamente, por ser poeta e apaixonado (sofredor), embora dissimule isso, pois, como dizia Fernando Pessoa, "O poeta é um fingidor /Finge tão completamente /Que chega a fingir que é dor /A dor que deveras sente".
Acho que esse mesmo raciocínio deve ter feito meu pai, o pai dele (meu avó), meu bisavó, tataravó, os Bonolos da idade média, meus ancestrais da Roma Antiga, aqueles que viveram na Etrúria, na Mesopotàmia, e vou acabar chegando ao Jardim do Éden, onde morou aquele que não sofreu por amor, nem foi corno, nem nunca teve sogra...

NOTAS
[1] É claro que o Amor de que fala o Apóstolo tem uma abrangência maior e está mais voltado ao amor evangélico, do qual o amor de que trata o texto é também parte.
[2] Conjunto musical formado por Marisa Monte, Carlos Brown e Arnaldo Antunes. Muito popular neste princípio de milênio.
[3] Passagem histórica da Roma Antiga , quando César disse a famosa frase: "Alea jacta est", ou seja, seja o que Deus quiser, em tradução livre. A partir daí derrotou seus adversários e tornou-se Imperador de Roma e conquistou o mundo. " Rubicão é um rio (mais parecido com um riacho), que separava a Gália (atual França) da Itália. Segundo o Aurélio "atravessar o Rubicão" é tomar uma decisão temerária, enfrentando as consequências. [Cf. alea jacta est.].

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