A hipocrisia, considerada como um dos mais graves defeitos humanos é, a meu ver, uma afecção lamentavelmente irrecuperável. Talvez cause espanto o fato desse sentimento torpe ser aqui encarado como uma doença mas, tenham certeza, ele o é! Caracteriza-se, do ponto de vista semiológico, por total falta de caráter, fingimento extremo e grau avançado de crueldade. Seus portadores são um grupo de pessoas, melhor dizendo bando, termo a meu ver mais adequado, todos de moral e costumes duvidosos, que pecam por afetar virtudes que absolutamente não têm. Na verdade são impostores que ao enganar os demais sentem-se felizes e realizados, principalmente se, através de seus atos, levam a desgraça aos lares alheios. Comumente difamam seus semelhantes. Outras vezes, através de manobras escusas, tornam-se sabedores de problemas e segredos os quais são usados das piores formas possíveis. É muito comum os detentores desta patologia enveredarem pelo caminho do crime. Algumas vezes são descobertos e punidos; outras escapam, relativamente incólumes, pois contam com a boa vontade de suas vítimas. Afinal, nem todos estão doentes nesse mundo! E é sempre bom lembrar que há doenças e doentes...
Em minha experiência constatei a associação relativamente freqüente da patologia em tela –HIPOCRISIA, com outra, deveras importante: o RECALQUE.
Por definição o indivíduo recalcado exclui de sua consciência determinados sentimentos e desejos que não ousa admitir mas que, infelizmente, persistem em seu inconsciente com isso acarretando sérios distúrbios. Temos então o HIPÓCRITA RECALCADO. Este, procura vingar-se em todos que, mesmo de longe, o ofendem por exibirem qualidades que ele não tem (mas gostaria de ter) e pasmem – por apresentarem defeitos com os quais ele se coaduna. Invariavelmente, nestes casos, há como que uma explosão de maldade e maledicência incontroláveis. O efeito costuma ser, na maioria das vezes, devastador para o alvo desta manifestação mórbida. Por outro lado, o nosso doente resplandece de felicidade...
Há situações, todavia, em que o tiro sai pela culatra. Pois bem, nestes casos é o nosso paciente que explode, ou melhor, implode. Implode de ódio, de amargura, de baixa-estima.
Resultado: agravamento de sua enfermidade que progride inexoravelmente para a morte. E quando escrevemos morte não estamos nos referindo ao êxito letal, mas sim à morte em vida – a pior que existe. Há o desmoronamento da alma, do espírito, da psique. Muito triste. Melhor seria morrer de verdade. Ou então tentar urgente a cura!
Embora reconhecida mundialmente como doença incurável, a Ciência caminha a passos largos e, felizmente, já se conhecem alguns medicamentos que, se não curam, pelo menos trazem algum benefício. São eficazes no combate às dores (intensas) bem como à depressão, principais queixas destes pacientes. Administrados sob a forma de comprimidos, é conveniente nos primeiros anos de tratamento usá-los, pelo menos, quatro vezes ao dia. Basicamente são constituídos por uma certa dose de indulgência e boa vontade para com os demais, além de pitadinhas de bondade (substância dificílima de encontrar) e respeito. Ah ia esquecendo, são de fácil digestão! E não são caras. Estão até dizendo que o governo vai distribui-las gratuitamente. Bom, quanto a isto não sei não....
10/02/02
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