-Está lembrado do Carlos?
-Quê Carlos?
-Aquele colega nosso do primário, do ginásio, do colégio, da Faculdade, do trabalho, dos bons papos, do chopinho... lá da rua.
Geralmente, somos possuidores de uma memória não muito boa. Ou então, quando não estamos diretamente envolvidos com o "negócio", o que acontece ao nosso próximo, se esse próximo não está tão próximo de nós mesmos. Em suma, nos esquecemos que o próximo poderá ser a gente própia. Parece engraçado, cómico, mas não é. É próprio da natureza humana. Dizem que essas coisas aconteceram, estão acontecendo e continuarão há acontecer.
-Ah, sim, estou lembrado dele. Que cara legal!
-Morreu.
-De que? Algum acidente automobilístico? Um assalto? Um crime passional?
-Qual nada. Uma coisa muito mais simples. Uma simples cocada.
-Você deve ter bebido, ou então está ficando doido. Pois, pelo que me consta, cocada nunca matou ninguém. A não ser em filmes, novelas, contos... Deixa de seu papo, nunca fala a verdade. Só vive de brincadeira. Vomita, vá. Essa históriapra mim não cola. É muito complicada pra minha cabeça.
-A tal cocada, em repouso, tinha uma massa de aproximadamente umas mil gramas.
-Também, nosso colega era um tremendo gulos. A gula é um pecado capital. Que pena! Morreu "empazinado". Isso não é coisa que se faça, comer um quilo de doce-de-cóco de uma só vez!
-Muita consideração de sua parte para com um colega. Caiu-lhe um cóco na cabeça... |