Era um rádio velho,
que o tempo caminhando
tornara obsoleto.
Viera-me da sogra,
bondosa e saudosista
do tempo dele moço.
Dizia-me às vezes que podia
guardar-se-lhe o rádio,
pois ele muitos anos ao par feliz
de quem minha filha é neta,
informou, alegrou e motivou.
O móvel de madeira pura,
que lhe cobria os órgãos já cansados,
por remontar de estilo muito antigo,
contrastou deveras em minha sala.
Foi ela própria, minha querida sogra,
quem disse alegre, ao mesmo tempo triste:
"Nada filho, colocaremos o rádio na cozinha".
O som do nosso rádio, amigo das notícias,
ressoa todo dia em nossa sala,
embora esteja longe da moda e do avanço.
Do seu interior as mesmas vozes,
falando uma linguagem diferente,
parece-nos dizer como lição:
Ele venceu o peso da idade,
e muito embora te envergonhe a sala,
não se envergonha nunca de si mesmo. |