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Cordel-->O HOMEM DA CAPA PRETA -- 09/07/2012 - 20:45 (pedro marcilio da silva leite) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Até se parecia com o Marvel
Capitão herói dos quadrinhos
com sua capa e seu automóvel
na imaginação dos baixinhos.
Para outros também miúdos
um defensor forte e barbudo
da cidade e de seus caminhos.

Para os adultos era o temido
o filho do cão, um ferrabrás
sempre leal ao seus amigos
mas ao inimigo não dava paz.
Valente, lutava sem quartel
e comia abelha mas não o mel
segurava na mão como tenaz.

Diziam que tinha corpo fechado
para que balas não entrassem
e que nos golpes desfechados
as peixeiras nunca furassem.
Até falavam que suas cicatrizes
das lutas antigas eram as raízes
lembretes que não o esquecessem.

Naquela época nossa escola
era próxima a sua fortaleza
na estrada que foi uma rota
pra muita gente da nobreza
que passava verões na serra
e subindo na poeira de terra
a Baixada servia a realeza.

A Escola Regional de Meriti
tinha muito valor e grandeza
e não por acaso ela estava ali
próxima da lendária fortaleza.
Eu não saberia dizer a relação
entre uma e outra construção
mas deve haver, com certeza.

Quando o dia letivo terminava
e meu grupo voltava para casa
em nossas mentes só imperava
uma ideia que a gente dava asa;
era a de ir na fortaleza admirar
aquele que saía para trabalhar:
o deputado temido que passava.

Quando uma porta se abria
num trilho que a deslizava
e um Cadillac dourado surgia
bem dentro ele se encontrava
elegantemente em seu terno
e com um olhar sério e tenro
que às vezes até nos olhava.

Até a calçada ficou molhada
pelo xixi de um dos meninos
no dia que ele deu uma olhada
com os olhos bem franzidos
que de medo o garoto chorou
e o sapato e a canela molhou
sem dar um lamento sentido.

Quando lembrou o Romário,
o nosso colega mais politizado,
que na Câmara, no Plenário,
um famoso baiano, deputado
interpelado pelo Capa Preta
viu a coisa também ficar preta
e deixou o chão todo molhado.

Outro menino também disse
que na feira lhe haviam falado
em alto som pra que ouvisse
que muitos tiros lhe foram dados:
alguns de má pontaria erraram
outros até que bem o acertaram
mas seu corpo é bem fechado.

O paladino de chapéu e capa
com ar solene de que pega aço
ia pra luta na bala ou no tapa
mas no final não havia abraço
nem piedade pra vagabundo
que não havia lei nesse mundo
pra tempo de reza e cansaço.

A nova rodovia em construção
que ligaria a Baixada à serra
deu tanto trabalho à exaustão
que confundiu homem e terra
na pobreza do solo pantanoso
com o caráter do tenebroso
misturados na mesma esfera.

De homens ele foi encarregado
na rodovia em plena construção.
Uma obra de campo encharcado
com mosquito, febre e tentação.
Era no trato rude e sem vacilo
onde só no uso certo do gatilho
podia e conseguia amaciar o cão.

Eram os adultos que falavam
de suas lutas, de alguma prisão
onde se envolvia e o levavam
a um equívoco ou uma tentação
como de todo delegado um dia
na época, em Duque de Caxias,
finalmente prender o dragão.

Em frente à fortaleza, bebida,
jogo, conversas, eram num bar
onde comentavam a sua vida
por onde andava e iria chegar
de seus atentados suas prisões
de balas, feridas e internações
e o próximo passo que iria dar.

E ainda falaram da televisão
quando aquele entrevistador
apostou a barba do dragão
que iria escanhoar sem dor
mas ele se vingou da mágoa
jogando esse artista n’água
que até a sua alma molhou.

Tudo era no estabelecimento
falado com sapiência ou não
era conforme o acontecimento
o ensejo ou mesmo a ocasião
se era política havia mesura
se fosse polícia era cana dura
mas em tudo havia atenção.

Afinal em se tratando dele
assunto em boca pequena
e que fazia referência a ele
era bom ver se valia a pena
pois o mal me disse acabava
e sempre o caldo derramava
quando ele entrava em cena.

Um dia apavorou muita gente
e até cuspiu fogo pela manhã.
Quando a chapa ficou quente
por conta do crime do Sacopã
e que envolvendo muita gente
macaco velho não tem culpa:
se não mete mão em cumbuca
não fala verdade e nem mente.

Outro assunto que até rendeu
foi também dos desabrigados
já na enchente que aconteceu
lá no quadrado dos favelados.
Até uma vila fora construída
para reconstruir as suas vidas
e que ele ficou dono do pedaço.

Era um dinheiro do governo
para situações de calamidade
até estabelecido nos termos
para reconstrução da cidade.
Não era dinheiro de ninguém
e quem quer que seja, também
se arvorar de sua propriedade.

Nessas horas, um menino dizia
que o homem ficava enfezado
e os olhos eram lâminas frias
como era o cano do dourado.
Saía com uma metralha de aço
e levava também pro abraço
seu revólver a ouro folheado.







NATALÍCIO TENÓRIO CAVALCANTI DE ALBURQUERQUE


Natalício Tenório Cavalcanti de Albuquerque nasceu em Quebrângulo-Alagoas, em 1909. Migrou para o Rio de Janeiro no final dos anos 20. Tornou-se administrador de fazenda em Meriti - atual cidade de Duque de Caxias. Foi encarregado dos operários na construção da nova Rodovia Rio-Petrópolis (atual Washington Luís). No início dos anos 30, casou-se com Walquíria Santos Lomba, de tradicional família da região e elegeu-se vereador da Câmara Municipal de Nova Iguaçu, com os votos de Caxias ( à época, seu 8° distrito ). Em 37 com o Estado Novo (ditadura Vargas) perdeu o mandado, foi preso e baleado. Nos anos 40 bacharelou-se em Direito com escritório de advocacia em Caxias e elegeu-se Deputado Estadual. No início dos anos 50 tornou-se deputado federal. Em 54 funda o jornal popular “Luta Democrática” e, nesse ano, renova o mandato de deputado federal. Em 56 inaugura a Mansão – Fortaleza. Em 58 e novamente reeleito e em 60 é candidato ao governo do Estado da Guanabara. Em 62 foi eleito deputado federal pelo Estado do Rio. Em 1964 teve o mandato cassado pela ditadura militar. Tenório Calvacanti, sobrevivente a tantas tormentas faleceu de causas naturais em 1987.





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