As bruxas e os bruxos dos anos 40/50 estão pouco a pouco a transformar-se em "profissionais especializados", se bem que há ainda algumas personalidades, à moda antiga, que são um regalo consultar.
Tudo quanto é "especializado" é caríssimo e o efeito a obter não é nada plausível nem credível.
Claro que, quando disse aos meus amigos que me predispunha a ir à bruxa - a uma muito boazona que dá consultas nas imediações da Póvoa de Varzim - houve desde logo a habitual galhofa, mas com o prosseguimento da conversa, que orientei no sentido ideal, até consegui que dois deles me fizessem companhia na primeira entrevista e logo após uma boa almoçarada no "Rei dos Frangos".
Esperei na exígua e estranha salinha cerca de 15 minutos. Por entre uma cortina, uma senhora idosa fez-me sinal para eu entrar. Deparou-se-me então uma quarentona, excelentemente proporcionada de seios e, logo que se levantou para ir buscar uns búzios, reparei que tinha um perfil em que só era necessário olhar uma vez e depois fechar os olhos.
Fiz quanto pude para manter a voz sob o tom que indicia o otário e esforcei-me ao máximo para poluir a conversação com evidentes desarranjos gramaticais. Ao cabo de dez minutos, a senhoreca estava persuadida de que tinha em face um bem escorrido empreiteiro de obras públicas que não sabia ler nem escrever.
O meu problema ?...
Expliquei que gastava um dinheirão do caraças com belas mulheres da vida nocturna, mas, logo que tentava o sexo, não conseguia satisfazê-las nem satisfazer-me...
- Você teve um grande desgosto com uma mulher...
Apeteceu-me logo dizer: um só?... Todavia, contive-me e disse:
- Oh... Sim. E que grande desgosto. Já foi há mais de vinte anos e ainda não consegui recompor-me.
Nuns breves dez minutos contei-lhe a vida toda - à minha maneira - desde pequenino.
- Você precisa de um grande tratamento. Tem de voltar da próxima vez com uma camisa e uma cueca por lavar. Tenho de estudar as implicações dos suores do seu corpo...
- Bem... Então quando vou voltar?... Só estou livre aos domingos e apenas a partir das 21 horas.
A alusão pegou certinho. Marcou-me nova consulta para o próximo domingo depois das 21. O preço era de 30 euros, mas deixei-lhe sobre a mesa 50.
Isto foi vai para 6 anos mais ou menos e ainda lá fui a semana passada consultar-me - perdão - consolar-me. Milagre: o raio da bruxa faz-me bem ao corpo e à alma e, sempre que vou lá, volto tipo papagaio muito leve, que nasceu ontem e ainda tem 150 anos para papaguear.
Bom... Né?!...
Ia lá uma "psicóloga especializada" proporcionar-me consultas tão deliciosas e economicamente acessíveis?!...
E se o "bruxedo" não é assim para todos, então como é que é?...
Bem... Se souberem, não me ensinem. Só troco de bruxa se uma outra me embruxar ainda mais e melhor. Quem sabe?!...
António Torre da Guia |