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Contos-->Gostava imenso... Ó se gostava !... -- 12/08/2005 - 22:53 (António Torre da Guia) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos


O meu primo António Sampaio, hoje com 76 anos, é o mais velho representante, e condigna cabeça referencial sem equívoco, da "torreã" família mindelense. Está-se mesmo a ver porque tem nome de Sampaio. Minha tia Balbina, sua mãe, apesar de mandar em tudo, estava sempre em segundo lugar de acordo com a lei oficial vigente, mesmo que o homem que encabeçasse a família fosse um grandessíssimo inepto, o que não era o caso. Minha tia Balbina mandava porque decerto foi feita para mandar. E mandou bem: conseguiu empurrar cinco filhos para além da humilde condição campesina, ensinando-os sobretudo a empurrarem-se uns aos outros.

O António, a Fernanda e a Fátima, estão bem e de sobra. A Helena, que levou educação especial em miúda - foi minha ama - casou mal, e arrasta hoje um pouco da sua cruz pela vida. O José, meu coleguinha de jogar ao eixo nos belos tempos de tudo ao léu, foi para Angola, forma de evitar a tropa, chamado pelo pai. Morreu a aterrar, depois de voar, estreando a primeira mota BSA de 5 cavalos que comprou, com asa no B.

Bem... Eu tinha 5/6 anos e o meu primo António veio residir com minha mãe, sua tia, para estudar no Porto. Quando regressava dos estudos e tinha algum tempo disponível, com uns pedacinhos de giz branco que surripiava do beiral do quadro preto na escola, ensinava-me a desenhar sobre um pátio em cimento que havia defronte da cozinha e da sala de jantar da casa: o Mickey, o pato Donald, o Capitão Meia-Noite e todos aqueles heróis que vinham no Mosquito e que ele comprava todas as 5ªs. feiras para coleccionar.

Assim me iniciei como artista sem valor algum. Desenho bem que me farto, mas nunca consegui tirar proveito monetário de um só risco artístico. Desenhava em tudo que era sítio. Então, logo que descobri o carvão, apanhei umas belas tareias sempre que chegava a casa pronto para passar invisível em qualquer túnel.

Ainda nesta hora me deslumbro a perguntar-me como consegui tirar um 20 a desenho, no exame do 2º. ano dos liceus. Como exercício, geométrico, pedia-se-me que desenhasse um hexágono com as diversas linhas auxiliares, e depois, em decoração, que criasse um cesto com flores.

Por volta dos 15/16 anos, em tudo quanto fosse parede lisinha e branca, eu via a minha dilecta tela.

Certa vez, fiz um montinho de terra bem preta, abri-lhe um buraco no cume e dei uma mijadela lá dentro. Misturei tudo com um pauzinho e obtive uma excelente tinta espessa. E desenhei apaixonadamente pela primeira vez ao tamanho natural o Capitão Meia-Noite, o meu ídolo de ilusórias aventuras: o chapéu de aba larga, a mascarilha, a capa a cair sobre o cavalo, as botas até à coxa, as esporas e enfim a espada bem ao alto na mão do herói da noite, encavalitado nos ombros do Varito, que, à rasca comigo em cima, me pedia a choramingar para eu andar depressa.

O meu pai teve de desembolsar um dinheirão para repintar a faxada do prédio do vizinho.

Com o nefasto hábito de menino feliz, hoje, sobre os enormes cartazes políticos, gostava imenso de acabar os meus dias a borrar tudo de preto e, de imediato, pintar por cima em letras muito grandes cor de merda de menino puro: FODAM-SE

António Torre da Guia

PS = E não tenho absolutamente dúvida alguma.

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