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Cronicas-->Jesus no Egito -- 29/09/2000 - 18:06 (Félix Maier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Sobre o artigo "Jesus no Egito", escrito pela jornalista Leneide Duarte e publicado no jornal "O Globo", em 19 de fevereiro de 1999, há várias considerações a fazer.

Há, logo no início do artigo, uma prova cabal do profundo desconhecimento da jornalista a respeito do assunto - para não dizer ignorància mesmo - quando afirma que "o espantoso é terem os egípcios demorado dois mil anos para divulgar os caminhos de Jesus pelo Egito".

Ora, não é somente agora que os coptas estão imprimindo às pressas um mapa da passagem da Sagrada Família pelo Egito, para comemorar o jubileu dos 2000 anos do cristianismo. Esse mapa já existe há séculos, baseado no trabalho incansável de inúmeros estudiosos. O que se pode duvidar é da exatidão de alguns detalhes aqui ou acolá, porém o itinerário tem uma lógica bastante plausível, ainda que os fugitivos de então não tivessem um fotógrafo e uma jornalista de "O Globo" para registrar seus passos.

Na Idade Média, a peregrinação à Terra Santa incluía, muitas vezes, a passagem pelos sítios sagrados da cristandade que se encontram no atual Cairo Velho (antiga cidade da Babilónia, construída pelos persas quando conquistaram o Egito), onde havia, na época de Jesus, uma comunidade judaica. A Sagrada Família estava, pois, "em casa", junto de sua gente, e abrigou-se por algum tempo no local onde hoje se encontra a cripta da Igreja de São Sérgio, cuja construção foi iniciada há 1500 anos. Na mesma região se encontram hoje uma sinagoga, a Igreja de São Jorge (onde há objetos de suplício, com os quais os romanos torturaram os primeiros cristãos no Egito), a Igreja Suspendida (tem esse nome porque foi construída sobre bastiões de uma antiga fortaleza romana), o Museu Copta, muito rico em objetos históricos, e uma mesquita que tem o nome do conquistador árabe do Egito, e que é a quarta mesquita mais antiga do mundo.

Após uma estadia no local onde hoje fica o Cairo Velho, a Sagrada Família seguiu viagem pelo Rio Nilo em direção ao Baixo Egito - sem nenhuma jornalista para registrar o fato. Há um mapa encontrado em vários livros coptas que descrevem com detalhes o itinerário da Sagrada Família, desde a chegada ao Cairo, através do "caminho de Horus" no Sinai, até a viagem ao sul, ao longo do qual foram construídos, posteriormente, muitos mosteiros. Esses livros registram, ainda, alguns milagres que teriam ocorrido ao longo do percurso da Sagrada Família. Depois de a Sagrada Família se esconder no sul por algum tempo, os livros citados dão conta de que aquelas santas pessoas retornaramm pelo Nilo ao atual Cairo Velho, para daí seguirem à Palestina, via Heliópolis - local onde há a famosa "Árvore da Virgem", local de grande peregrinação, por onde até a Princesa Diana passou há alguns anos.

Para a fundamentação do itinerário da Sagrada Família, os estudiosos besearam-se, especialmente, em tradições orais. São Marcos, o Evangelista, foi quem iniciou a evangelização cristã do Egito, vindo a se tornar o primeiro Patriarca da Igreja de Alexandria, a atual Igreja Copta. Ele e seus companheiros poderiam, portanto, ter recebido um número de informações bem maior do que ousa imaginar a cética jornalista de "O Globo". O primeiro mosteiro no mundo foi construído por Santo Antão. Sabe onde? No Egito. Não houve, portanto, nenhum hiato profundo entre a passagem de Jesus pelo Egito e a chegada dos primeiros evangelizadores, para considerarmos o itinerário proposto pelos coptas como uma ficção.

Ainda sobre mapas. Há um outro, em que estudiosos reproduzem o itinerário do Êxodo, em que Moisés levou seu povo à Terra Prometida. Partindo de Ramissés, perto do atual Porto de Said, passaram por uma lagoa, ligada ao Mar Vermelho, que na baixa-mar permitia a passagem a pé, seguiram a peregrinação pelo Sinai até Jericó, passando por Moab, na Jordània atual. Não passaram, segundo os estudiosos, pelo Mar Vermelho. E por que Moisés levaria uma multidão de pessoas a enfrentar o mar no peito? Criado e instruído na corte do faraó, conhecendo muito bem a geografia da área, por que iria fazer uma bobagem desta magnitude? Seria o mesmo que a jornalista de "O Globo", em caso de perigo, fugir de sua redação na Glória, atravessar o Aterro do Flamengo e se atirar nas fétidas águas do mar em frente. Não seria mais inteligente pegar a ponte Rio-Niterói para ir até o outro lado da baía?

Uma teoria ou uma hipótese só pode ser derrubada por outra mais consistente e devidamente fundamentada. As últimas pesquisas nos garantem que a humanidade teve origem na África, o que levou pessoas ligadas aos ditos "movimentos negros" a exultarem de alegria, porque Beethoven teria sangue negro. Por enquanto, temos que aceitar que nosso ancestral teve origem no coração da África, mas nada impede de encontrarmos no futuro um osso humano mais antigo aqui no Brasil, quem sabe no Rio de Janeiro, em frente à redação de "O Globo".

Tentar desacreditar o itinerário da Sagrada Família proposto pelos coptas, sem apresentar nenhum argumento senão o próprio ceticismo, é apenas fazer fofoca. E quem quer fofocar deve assinar uma coluna social no jornal, nunca discorrer sobre História.


Obs.:
Carta escrita ao jornal "O Globo" no dia 30 de agosto de 1999. O missivista viveu 2 anos no Cairo (1990-92) e é autor do livro "EGITO - uma viagem ao berço de nossa civilização".
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