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Artigos-->A ficção ilimitada -- 20/09/2002 - 00:37 (Jayme de Oliveira Filho) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Ilimitada essa nossa capacidade de sonhar. Pena é não podermos escolher o conteúdo do que sonhamos. Da tragédia ao erotismo barato, tudo circula por nossas mentes enquanto dormimos. É quando multiplicamos os nossos monstros, muitos dos quais criados e alimentados com grande entusiasmo pela nossa própria imaginação.



E quão cruel podemos ser quando nos rendemos aos poderes da criatividade desocupada. Sem o cabresto natural dos fatos, nos impomos severos castigos ao darmos ouvido a todos os urros da nossa imaginação sem limites. São traições, roubos, cobiças, injurias e toda sorte de agouros que atribuímos a quem ela determina. Sem grande trabalho, deturpamos, interpretamos e montamos o cenário ideal para cada crime de que somos vítimas.



Sei que minha ignorância acadêmica não me permite teorizar a respeito de causas, entretanto, minha vasta experiência como criador de tragédias e conspirações desfavoráveis me dá, ao menos, a oportunidade de especular um pouco sobre essa paranóia humana.



Primeiro quero deixar claro que enxergo loucura em todas as pessoas que conheço. Não tanto quanto o Dr. Bacamarte, personagem do ótimo conto O alienista de Machado de Assis, que antes de internar-se como único louco da cidade, impôs a todos os cidadãos de Itaguaí o cárcere da Casa Verde. – Não chego a esse extremo! Mas acredito que não temos nada além de um limitado grau de lucidez. E nada mais.



Prova irrefutável desse meu raciocínio é justamente esse desejo secreto de flagelo. Sim, pois é impossível não admitir que procuramos motivos para preocupações e sofrimento. É a esposa que não liga e por isso está aprontando. É a que liga e por isso está aprontando. É o marido que não manda flores porque não se importa mais com o casamento. É o que manda porque precisa compensar alguma armação. É o chefe que não nos cumprimenta porque está prestes a nos demitir. É o que nos trata com carinho por estar querendo algo. É isso, é aquilo. E na verdade é tudo, ou melhor, é qualquer coisa.



E haja revolta! Tomados pelo furor da situação criada, descarregamos nossa ira sobre os nossos malfeitores que, atônitos, tentam se defender: “Mas, mas...” É claro que isso não acontece com todos. Afinal, apesar de cada um criar suas próprias barbáries, há, de fato, os que se comportam menos violentamente, mesmo quando expostos às mais torturantes e dolorosas invenções, confinando sua revolta dentro de uma espécie de casulo. Mas também esses indivíduos não estão excluídos da horda dos flagelados. Apenas se diferenciam dela, é verdade, por disfarçarem suas lamúrias ao invés de extravasa-las. Seu protestos não vêm em arroubos agressivos, mas em um silêncio sepulcral, em uma indiferença mórbida, tão impenetrável quanto agressiva.



Mas não importa o tipo de reação, qualquer uma delas é sempre como o fio de uma espada que corta sem distinção, tanto o agressor, quanto o agredido. E o resultado dessas lutas passionais, onde os fatos têm pouca relevância e são as sensações que prevalecem, é sempre o mesmo: feridas que nos roubam a paz interior, e cujas cicatrizes nos torneiam feições cada vez mais graves.



E a capacidade de sonhar – capaz de tão mais – acaba apenas nos impondo certezas que fazem da realidade uma grande mentira e da dúvida a maior das verdades.
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